Pronto? Perguntou enquanto mirava em sua direção. Homem que é homem não pode ficar parado chocando os ovo em casa, escutava do pai. Assim como também escutava que era melhor ficar sem ter o que fazer do que pegar no que fosse alheio. Havia muita gente que passava o dia sentado e ganhava dinheiro. Ele não deveria passar mais do que alguns segundos pra ganhar aqueles dez contos. Era só ficar parado.
Todo mundo o conhecia dali. Passava o dia assim, de bobeira. De mesa em mesa. Pedindo. Dizia que tinha fome, que não havia comido nada. Mas todo mundo sabia pro que era. Os donos dos comércios não gostavam muito. Gente assim, como ele, espantava a freguesia. Às vezes saia um ou outro e o tangia com um pau. Às vezes, uma fatia de pizza. Mas é pra comer aqui, na minha frente. Então ele comia. Lambuzando seus dedos de pontas sujas, amareladas. Mastigando com o que ainda sobrava de dente.
Peraí, peraí, tá pensando que é assim? Tem que ficar bonito na foto. Um deles foi até ele. Ajeitou o ombro curvado. Besuntou a mão com cuspe e aplicou em seu cabelo, colocando de banda. Dá um sorriso… Cadê o sorriso? Como um santo, apoiou o rosto sujo na palma da mão e arreganhou a boca sem dentes. Antes, pediu uma dose.
Tu num é homi não, malandro? E precisa de dose? É que esse negócio tá saindo muito caro….
Alguém foi até o carro e pegou o litro que estava no capô. Vai, vai logo. Despejou algo. Parte caiu em sua boca sem dentes; parte, em sua cara imunda. É pra não contaminar. Tu é doido, isso aí nem ivermectina mata! E todos se puseram a rir.
Pronto, meu amigo?
Pronto!
O mais gordo dos quatro tomou sua dose na boca da garrafa e limpou com o braço. Esticou o litro para um outro que estava próximo. Colocou-se em sua altura, dobrando um pouco o joelho, ajustando a mão graúda na face que estava na sua frente. Repetiu o movimento três vezes, lentamente, como um tenista repete seu treino para acertar a bola. Seu colega, se esforçando para não rir, segurava o celular.
Ele não deveria passar mais do que dez segundos para ganhar aqueles dez contos. Era só ficar parado e receber o tapa na cara. O dinheiro mais fácil do mundo.
A tapa foi tão forte que o miserável que estava sentado à sua frente, num banco de plástico, caiu levando banco e tudo. Ficou com o rosto voltado para a calçada, enquanto o bar explodia na gargalhada.
Pegou, pegou? E aí?, quis saber como tinha ficado a filmagem no celular. Voltou-se para o mendigo e sobre ele lançou os dez contos. Pega aí, pra tu comprar mais duas pedras!