Novo estudo da UFRN mostra que aproximadamente 327 quilômetros quadrados do estuário Piranhas-Açu estão sob risco de inundação, o que exige medidas imediatas para reduzir os impactos socioambientais no local. Os municípios de Macau e Porto do Mangue apresentam maior perigo de inundações porque, apesar das irregularidades topográficas, seus atuais sistemas de drenagem não são suficientes para impedir alagamentos em terrenos distantes do rio, o que pode, por exemplo, atingir áreas de baixa elevação nos centros dessas cidades.
A pesquisa, fruto de uma tese desenvolvida para o Programa de Pós-graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG/UFRN), mapeia riscos de inundação por maré em toda região de influência do Estuário Piranhas-Açu, localizado no litoral norte do RN. Seus resultados foram publicados neste mês no jornal internacional Natural Hazards and Earth System Sciences (NHESS). Assinam a produção pesquisadores da UFRN, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA) e do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).
Entende-se por estuário toda zona em que a água dos rios converge com a água salgada do mar. Para analisar a região de Piranhas-Açu – recorte costeiro entre a comunidade de Ponta do Mel, em Areia Branca, até o município de Guamaré – e mapear riscos de inundação local, o estudo desenvolveu uma complexa análise estatística, tendo como matéria-prima dados de alta precisão geodésica, informações dos cenários de aumento do nível do mar e cotas maregráficas locais.
“As mudanças produzidas pelo aumento no nível médio do mar têm implicações importantes para a dinâmica e morfologia dos ambientes costeiros em todo o mundo, e é nesses ambientes que uma parte considerável da população mundial vive”, observa Paulo Araújo, doutor em Geodinâmica e Geofísica e primeiro autor do estudo.
O pesquisador esclarece ainda que as inundações de habitats naturais e infraestruturas costeiras geram impactos de várias magnitudes. “No Brasil, o panorama atual de inundações costeiras é preocupante. O país se destaca como a sétima maior nação no mundo pela população costeira e como o sétimo em proporção da população mais prevalente de zonas costeiras em áreas baixas (relação a altitude). Cerca de 25% da população brasileira vive na zona costeira e ultimamente tem sofrido com os danos causados pela subida do nível do mar”.
O aumento da altura das águas e suas implicações não é recente. Paulo esclarece que cerca de 60% dos desastres naturais que atingiram o Brasil no período de 1948 e 2006 estavam relacionados com inundações e avanços do mar. O dado se reflete em danos, sobretudo, para os 25% da população brasileira que vive nas zonas costeiras. Aos olhos do pesquisador, esse cenário alerta para a necessidade de gerar e conhecer as projeções (em escala local) para as próximas décadas e apoiar planejamentos em resposta à crescente ameaça relacionada ao aumento do nível médio do mar.
“O século 21 verá mudanças nos regimes de inundações costeiras (em que atualmente os eventos extremos, mas raros, irão se tornar frequentes), o que representa um grande risco para a segurança e sustentabilidade das comunidades costeiras no mundo todo. Adaptações de risco climático envolvendo grandes investimentos em infraestrutura representam decisões difíceis e que exigem uma base de informações precisas”, ressalta o pesquisador. O mapeamento das áreas de risco, nesse sentido, permite um norteamento importante para mitigação dos impactos causados pela elevação do nível do mar.
No estuário Piranhas-Açu ainda não há iniciativas voltadas para reduzir impactos socioambientais vinculados às mudanças climáticas, mas Paulo cita o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), instituído em 2016 pelo Governo Federal em colaboração com a sociedade civil, setor privado e governos estaduais, que visa à redução da vulnerabilidade do país às transformações do clima e à formulação de uma gestão de risco associada a esse fenômeno. A demanda por essas ações fica ainda mais evidente ao analisar os relatórios recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que apontam que o nível do mar pode atingir subidas de até 1,1 metro em 2100.
Para Paulo Nascimento, uma iniciativa importante a ser tomada pelas cidades é a criação de “planos de adaptação à mudança do clima” considerando as particularidades de cada local. Entre as medidas para compor a estratégia, podem ser incluídos o monitoramento contínuo do nível do mar, educação ambiental, sistema de drenagem e reajuste do ordenamento do território. A investigação contínua do status do nível do mar, por exemplo, pode gerar informações mais concisas sobre o panorama de cada região e auxiliar na sua base de dados.
Quanto ao reajuste territorial, o pesquisador finaliza observando que os mapeamentos das inundações por marés, realizados no estudo, devem ser levados em conta durante a atualização dos planos diretores municipais participativos. Isso porque regiões hoje tratadas como áreas de expansão urbana, como é o caso da cidade de Macau, estão sob alto risco de alagamento por maré e exigem a discussão sobre o rearranjo do seu território.
Fonte: Agecom/UFRN