O que é nomofobia? Saiba mais sobre o medo de ficar sem celular

O que é nomofobia? - Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Celular para trabalhar, conversar, paquerar, se informar, se exibir, existir. O aparelho ocupa um lugar cada vez mais importante no cotidiano social, a ponto de muita gente não cogitar largar dele nem por um minuto. O uso abusivo dos smartphones pode gerar transtornos psíquicos, como ansiedade e, posteriormente, depressão. O transtorno já tem até um nome: nomofobia, medo de ficar sem o celular. Segundo uma pesquisa publicada pela plataforma de mídia Digital Turbine, 20% dos brasileiros não ficam mais de 30 minutos longe do celular. Eis uma notificação de alerta. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE ouviu potiguares que relatam o que ocorre quando ficam muito tempo longe do smartphone.

A dependência digital é uma síndrome moderna que acompanha as comodidades que a tecnologia proporciona. O estudo da Digital Turbine também apontou que 92% dos brasileiros fazem compras pelo celular, e que desse percentual, 30% passaram a comprar ainda mais pelo aparelho móvel após o início da pandemia. Para complementar, um levantamento do Google mostrou que 73% dos brasileiros não saem de casa sem seus dispositivos.

A tecnologia está aí para servir, o que precisa ser visto é a maneira como as pessoas se relacionam com ela. A psicóloga Taciana Chiquetti afirma que é possível evitar a acomodação pela tecnologia quando se tem a compreensão que ela faz parte da vida, mas não de 100% dela. “Não é saudável ficar condicionado a uma máquina. Precisamos nos exercitar, comer bem, interagir com familiares, amigos, colegas de trabalho. Os humanos são seres de afeto, nós precisamos desses contatos”, diz.

Dependência

O celular ativa continuamente o ‘Sistema de Recompensa‘, estrutura do cérebro que recebe toda atividade prazerosa. Esse estímulo constante é o que gera dependência, em um processo similar ao de drogas ilícitas. Longe do aparelho, o indivíduo fica ansioso, com a sensação de estar perdendo informações importantes, ou ainda excessivamente entediado. Outro prejuízo é a dificuldade de sociabilização e isolamento. A exposição excessiva ao celular também pode causar insônia. Isso acontece porque a luz azul do aparelho ‘diz’ ao cérebro que ele deve ficar alerta. Assim, a produção de melatonina, o hormônio do sono, é inibida.

Se o afastamento do celular gera sensações como angústia, ansiedade, medo, raiva e ideia fixa, é o momento de repensar como se está usando o aparelho. “A dependência de qualquer coisa nunca é positiva. Ela rouba nossa autonomia, porque a pessoa se mistura naquilo e se perde de si mesma”, explica Taciana. Segundo ela, na medida em que a pessoa vai deixando de fazer coisas que são boas para si mesma, como um encontro com amigos ou um passeio ao ar livre, para se dedicar ao celular, podem ser sinais de alerta para a dependência.

O acompanhamento psicológico pode ser uma das formas de se lidar com isso, caso seja necessário.  “É preciso tratar a questão interna que nos leva à dependência. Geralmente, a dependência está associada a algum vazio interno emocional que a pessoa não está conseguindo preencher. Daí se busca esse preenchimento em coisas externas – como o celular, por exemplo”, analisa. Mudanças de hábito também ajudam, como reduzir o tempo de uso do aparelho, desinstalar aplicativos desnecessários, evitar usá-lo antes de dormir, deixar o aparelho guardado longe dos olhos ou até mesmo desligá-lo durante um período do dia.

Embaixo do travesseiro

A advogada, secretária executiva e digital influencer Charlene Bittencourt diz ficar com um “humor horroroso” quando passa muito tempo longe do celular. Ela costuma olhar a telinha o tempo todo para ver se há notificações em suas redes sociais – mesmo que não tenha nenhuma; durante o banho, leva o aparelho junto e põe algum vídeo do Youtube pra assistir; e chega a dormir com o smartphone embaixo do travesseiro. Segundo ela, o crescimento da popularidade das redes sociais é a maior responsável por isso.

A influencer Charlene Bittencourt já percebeu mudanças de humor quando passa muito tempo longe do smartphone – Foto: Alex Régis

Charlene, mais conhecida como @chabittt, conta que sempre gostou do ambiente online e  tecnologia, mas sua relação com o celular se aprofundou com a ascensão do Instagram, nos últimos três anos. “As redes sociais me fixaram bastante no celular. Hoje eu quase nem vejo meu computador, por exemplo, pois todos os meus aplicativos estão no telefone”, diz. Ela conta que seu maior crítico é o marido. “Ele aposta comigo quanto tempo eu consigo ficar sem o celular. Falou que eu tremo sem telefone. Já disse até que pararia de fumar se eu desse um tempo no aparelho”, brinca.

Mas a influencer está tentando se “reabilitar” ao mundo real. Há cerca de três semanas Charlene  adotou algumas pequenas iniciativas, como programar um sinal de alerta no Instagram que avisa a cada duas horas e 20 minutos que ela está navegando no aplicativo. O objetivo é limitar seu tempo de acesso e estabelecer limites a si mesma. “Agora eu quero parar, fazer mais coisas junto com meu filho de três anos, assistir um filme, relaxar”, diz ela, mesmo ressaltando que o próprio filho já pede o celular de vez em quando.

Companhia digital

O “chamego” com o celular é sempre uma pauta entre a influencer Camila Santos e seus amigos. “Todo mundo que convive comigo sabe disso. Quando saímos juntos pra conversar, festejar, mesmo assim, eu não desgrudo do celular. Os amigos brigam, debocham, mas não tem jeito”, diz ela, que afirma ficar24 horas com o aparelho por perto. “Quando acordo na madrugada, por algum motivo, pelo menos uns 40 minutos eu ficarei no celular antes de voltar a dormir”, diz.

O celular tem sido companhia para a influencer Camila Santos driblar a solidão – Foto: Alex Régis

A relação com o Instagram também se estreita pelo fato de Camila também trabalhar com ele. Ela possui um canal de IG chamado @promoalu, no qual dá dicas de promoções em lojas, supermercados, etc. Segundo ela, foi essa presença constante e a necessidade de feedback do público que aumentaram sua relação com as redes e o celular.  “Eu sinto necessidade de estar o tempo todo online, e é o celular que me proporciona isso”, diz. Só no Instagram, ela fica uma média de cinco horas por dia.

Há outro ponto em relação ao famigerado aparelho móvel: Camila mora sozinha e, segundo ela, o celular acaba sendo uma companhia constante para aplacar a solidão. “Eu me comunico com as pessoas que eu gosto mais fácil pelo celular. Está todo mundo online, então é fácil procurar. Não preciso estar com eles pessoalmente o tempo todo”, diz. O trabalho no Instagram também garante que há gente querendo falar com ela o tempo todo. Camila jura que já tentou diminuir o ritmo, mas, por enquanto, a fase “off” ainda não chegou.

Crédito das Fotos: Alex Régis e Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Fonte: TRIBUNA DO NORTE

 

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