PlayStation 5 e Xbox Series: um ano depois

A nona geração de consoles acaba de completar um ano. Passada a euforia inicial, podemos avaliar com mais clareza o uso prático, desempenho, jogos e os serviços do Xbox Series e do PlayStation 5. Eu gostaria de compartilhar com vocês a minha experiência com os dois consoles nos últimos meses.

Os modelos, os preços sugeridos e a realidade

Os preços sugeridos dos consoles tiveram uma redução desde os lançamentos. Atualmente, a sugestão das fabricantes é de R$ 2.649,00 para o Xbox Series S, R$ 4.349,00 para o Xbox Series X, R$ 3.899,90 para o PlayStation 5 Digital Edition e R$ 4.399,90 para o PlayStation 5 com leitor de disco.

Porém, a realidade de quem vai comprar os consoles não é bem essa. Devido à escassez causada pela falta de componentes eletrônicos e problemas logísticos relacionados à pandemia, os preços encontrados estão longe dos sugeridos pelos fabricantes. É comum ver lojistas cobrando valores muito mais altos, chegando em alguns casos a R$ 8.000,00 ou mais em consoles XSX ou PS5.

O único modelo relativamente fácil de encontrar nas lojas atualmente é o Xbox Series S, podendo ser encontrado até mais barato que o preço sugerido.

Os jogos

Launch lineup é o modo como chamamos a biblioteca de jogos que acompanham o lançamento de um novo console. Vou tomar a liberdade de esticar um pouco o conceito e considerar os jogos relevantes que foram lançados em cada plataforma neste primeiro ano de atividade.

A verdade é que, no momento, ainda não há exclusivos de nova geração que justifiquem um investimento tão alto em um novo console. Do lado do PlayStation 5 temos Astro’s Playroom (PS5) que já acompanha todo console, Demon Souls (PS5), Returnal (PS5), Ratchet and Clank: Em Uma Outra Dimensão (PS5) e Deathloop (PC/PS5). São títulos muito bons, mas para ser sincero, nenhum deles é um system seller. Os demais lançamentos possuem versões para PS4.

No Xbox Series simplesmente não há exclusivos de nova geração. Não que inexistam bons lançamentos: o recente Forza Horizon 5 (Multi) é um bom exemplo, bem como Halo Infinite, que será lançado em breve. O fato é que esses títulos podem ser jogados também nos consoles Xbox One, PCs e no xCloud. Claro que não com o mesmo desempenho ou performance, mas estão acessíveis. Microsoft Flight Simulator (XSX/PC), que ainda não está disponível no xCloud, não roda em consoles Xbox One e exige um PC parrudo para funcionar, até seria uma boa justificativa para investir em um Xbox Series, mas é um jogo de nicho que, acredito eu, só compensaria o investimento em um console novo se você for um entusiasta de aviação virtual.

Neste último ano foram lançados outros títulos interessantes para as duas plataformas, como Resident Evil Village (Multi) e Psychonauts 2 (Multi), mas eles possuem versões para consoles da geração anterior, não sendo obrigatório possuir um videogame de última geração para curtí-los.

Alguns third-party exclusivos de nova geração estão presentes em ambas as plataformas, como The Medium (Multi) e a remasterização de Judgment (PS5/XSX), mas, novamente, nenhum deles é um killer app.

Conflito de Gerações

Na plataforma PlayStation usualmente títulos que possuem versões de PS4 requerem um valor adicional ou até mesmo compra separada para fazer o upgrade para o PS5. Isso acontece em títulos como Ghost of Tsushima e Death Stranding que possuem versões Director’s Cut. As versões de PC também precisam ser compradas separadamente e não compartilham o progresso com os consoles.

No Xbox o usual é que não haja necessidade de pagar para obter as versões de nova geração. Se você comprar um jogo do Microsoft Studios, terá acesso à todas as versões (Xbox One, Series e PC) sem a necessidade de pagar adicionais. Ao comprar o jogo, o sistema baixará automaticamente a melhor versão para a plataforma em que você estiver, o chamado Smart Delivery. Os saves são compartilhados automaticamente entre todas as plataformas, dispensando procedimentos por parte do jogador. Ainda assim, alguns jogos third-party, como Control, exigem a compra de uma versão especial para incluir versões de oitava e nona geração.

Com a escassez de jogos exclusivos de nova geração, a realidade é que a maior parte do seu tempo nos novos consoles será usada para jogar títulos da geração anterior. Felizmente ambos os consoles são retrocompatíveis com a oitava geração.

O PS5 possui retrocompatibilidade com praticamente todos os jogos do PS4. Já o Xbox Series é retrocompatível com todos os jogos do Xbox One e diversos jogos do Xbox 360 e original. A retrocompatibilidade com a sexta e sétima geração parece pouco atrativa para quem está de fora, mas na verdade há muitos jogos excelentes nessas bibliotecas e é uma delícia revisitar os clássicos, como Red Dead Redemption (X360/PS3), Beyond Good and Evil (Multi), Street Fighter IV (Multi) etc. Muitos jogos legados apresentam melhorias de desempenho com o recurso FPS Boost.

Tudo sobre controle

Nessa geração a Microsoft apostou no tradicional e fez o controle do Xbox Series praticamente igual ao controle do Xbox One. Isso não é necessariamente ruim, pois a ergonomia desses controles é impecável. Os analógicos assimétricos são perfeitos para jogos de tiro, como Gears e Halo, e a empunhadura é bastante agradável. Os controles agora possuem um botão dedicado para printscreen, algo que já existia no PS4 e no Switch e que chega com atraso no Xbox. A textura dos pegadores está mais áspera e mais gostosa.

O d-pad híbrido com ação mecânica desagradou alguns jogadores pelo barulho que produz ao ser clicado, mas eu particularmente gostei. Ele é muito preciso e responsivo para jogos de luta, lembrando o controle Elite do Xbox One. O som de “click” do direcional não me incomoda tanto, talvez porque eu seja adepto de teclado mecânico no PC e gosto dos controles do NeoGeo, que também fazem esse barulho clicável no direcional.

O Xbox Series é totalmente compatível com controles do Xbox One. Se você já possui controles extras ou acessórios como o volante G920 da Logitech, poderá usá-los sem problemas no novo console. Assim como na geração anterior, o sistema de vibração é independente para cada gatilho, algo que é muito bom para jogos como Forza Horizon 5.

Outra característica herdada dos controles anteriores é a alimentação por pilhas. Existe a possibilidade de usar baterias ou pilhas recarregáveis, mas estas não acompanham o console, sendo necessário comprá-las separadamente. A vantagem é que pilhas podem ser trocadas instantaneamente, bastando deixar um par de reserva carregado. Por fim, a duração da carga das pilhas no controle do Xbox é muito boa, durando em média de uma a duas semanas, mesmo com uso frequente.

O controle DualSense do PS5 vai por outro caminho e vem repleto de recursos, sendo o controle de videogame mais sofisticado que eu já vi. Assim como o DualShock 4 (o controle do PS4) ele possui tela sensível ao toque, microfone embutido, acelerômetro giroscópico e alto-falante integrado. Além de todas essas características, possui Gatilhos Adaptáveis e Feedback Háptico. A sua pegada é extremamente confortável e seu d-pad é silencioso e perfeito.

Os Gatilhos Adaptáveis são uma ideia brilhante que utiliza um sofisticado mecanismo motorizado para dar sensação de resistência física ao serem pressionados. Em alguns jogos essa resistência pode dar um feedback tátil ao retesar a corda de um arco, por exemplo, ou dar a sensação de “peso” dependendo do calibre da arma que você está disparando.

O Feedback Háptico é um sistema de feedback vibratório de alta definição, bastante similar ao HD-Rumble encontrado no Joy-Con do Nintendo Switch. Em jogos como Astro’s Playroom e Returnal, permite que o jogador sinta detalhes táteis como as gotas de chuva caindo individualmente sobre o personagem.

O DualSense é um show de tecnologia em formato de controle de videogame. Porém, a realidade é que muito poucos jogos usam bem seus recursos, limitando-se a mecânicas pontuais. Seria bom se as desenvolvedoras fizessem um melhor aproveitamento do acessório, que já se provou incrível. Não adianta o seu hardware possuir o recurso se os jogos o subaproveitam.

O DualSense possui uma bateria integrada, que dura de quatro a oito horas de uso, podendo ser recarregada com um cabo USB-C. Controles DualShock 4 não são compatíveis com jogos do PlayStation 5, mas estranhamente podem ser usados no Xbox Series.

Recursos e serviços

Do ponto de vista prático, o que mais chama a atenção quando você usa um console da nova geração é a queda drástica, ou até mesmo a eliminação total dos tempos de carregamento. Viagens rápidas ou mudanças de fase acontecem em um piscar de olhos. Eu mesmo pensava que isso era uma bobagem, mas no uso prático representa uma perceptível melhora da qualidade de vida.

Outra coisa que chama a atenção é o aumento do desempenho em relação ao número de quadros por segundo. Muitos jogos foram aprimorados para os consoles de nova geração, apresentando movimentos mais fluidos e gráficos muito bonitos.

O Xbox Series possui um recurso interessante chamado Quick Resume, que permite que você retome a jogatina exatamente de onde parou, sem necessidade de iniciar o jogo novamente ou carregar saves. É possível alternar entre jogos rapidamente ou até mesmo desligar o console e mais tarde continuar de onde parou. É algo bem prático, especialmente para quem experimenta muitos títulos ao mesmo tempo. Infelizmente essa ferramenta não é compatível com todos os jogos.

Assinantes da Plus que possuem o PS5 tem acesso à Coleção do PlayStation Plus, uma coletânea de vinte jogos clássicos do PS4, incluindo clássicos como God of War, The Last of Us Remastered, Days Gone, Uncharted 4, Persona 5 e Monster Hunter World.

Por outro lado, o maior atrativo do Xbox é o serviço Game Pass, que dá acesso a centenas de jogos, muitos deles excelentes como Forza Horizon 5, Tom Clancy’s Rainbow Six Siege Deluxe, Halo Master Chief Collection, Hades, a série Yakuza, Control, a série Gears, Scarlet Nexus, Resident Evil 7 e grandes jogos da Bethesda como Doom e a série Fallout.
Títulos first-party da Microsoft são disponibilizados no serviço no dia de seu lançamento. E a assinatura Ultimate dá acesso ao catálogo da EA Play, bem como ao serviço de jogos em nuvem xCloud e jogos de Game Pass para PC.

Apesar de possuírem diferenças nos números, no uso prático ao longo desses meses eu diria que PS5 e XSX se equiparam em termos de qualidade. Aquela conversa de que o Xbox Series tem mais teraflops ou que o PS5 tem memória mais rápida só serve pra disputar debates, mas no uso prático ambos os consoles se equivalem em performance. Do lado da Sony temos seus ótimos exclusivos e um controle com mais recursos. Do lado da Microsoft temos maior integração com o ecossistema Xbox (que envolve PC e jogos em nuvem) e o sensacional custo benefício do Game Pass.

Vale a pena comprar um console de nova geração agora?

Para a maioria dos jogadores que já possuem um PS4 ou Xbox One, eu diria que a resposta é não. Isso porque os melhores jogos disponíveis atualmente ainda podem ser desfrutados nos consoles da oitava geração. Os novos consoles tem sim uma qualidade gráfica melhor, é maravilhoso ter tempos de espera reduzidos, mas os preços exorbitantes que o varejo está cobrando pela novidade simplesmente não compensam, considerando a pouca quantidade de exclusivos de nova geração lançados neste primeiro ano de mercado dos consoles. Eu aguardaria os preços se estabilizarem ou surgir um jogo exclusivo de nova geração que você queira muito jogar e realmente justifique o investimento.

Se você  não possui um Xbox One, um PS4 ou um PC gamer, talvez valha a pena considerar a compra, já que você não tem acesso aos jogos mais recentes. Se estiver decidido a entrar pra nova geração, saiba que tanto PlayStation 5 quanto Xbox Series são equipamentos fantásticos e bastante similares em termos de qualidade e satisfação. Neste caso sua decisão deve ser tomada com base naquilo que você quer jogar, na sua disponibilidade financeira e nos consoles que seus amigos usam.

E você? Tem um Xbox Series ou um PlayStation 5? Está pensando em comprar? Se tiver dúvidas ou quiser contar sobre a sua experiência, deixe aqui nos comentários.

Texto de  Maurício Katayama

Fonte: GameBlast

 

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