Era a bandeira verde e amarela abrigando milhares. Ninguém marchava. Ao contrário,uns correndo, juntavam-se àquela algazarra pulando. Ao fundo, a canção “…Mas renova-se a esperança/Nova aurora a cada dia/E há que se cuidar do broto/Pra que a vida nos dê flor e fruto…”. Em 1984, eu tinha seis anos e amava minha bandeira. Por que me destruíram os sonhos? Talvez tenha sido a vida adulta, que nos leva a racionalizar tudo, até mesmo poder gargalhar, quando em nosso solo tombam mais de seiscentos mil,e descobrimos, de repente, que a nossa pátria amada não é uma mãe tão gentil quanto queriam nos fazer crer.
Talvez seja nossa natureza de impávido colosso que nos obrigue, diante de nossos semelhantes, a dizer e quer que eu faça o quê?!, e a chorar no banheiro, quando sozinhos.
Quando nossos bosques, aos poucos– e aos muitos–, vão desaparecendo, arados pela fome e pelo fogo. E o sol da liberdade e seus raios fúlgidos penetram apenas o suficiente para nos enxergarmos uns aos outros, sem, no entanto, nos reconhecermos, pois há tanta fumaça que nos cega a visão. E assim, perdidos, com um revólver na mão, atiramos em tudo o que ainda se mexe nesse bosque: vidas ou amores.
Onde andas,minha pátria amada?Terra adorada entre outras mil?Talvez mil é que te amem agora, enquanto me deixastes aqui comigo, dizendo que daria uma voltinha com sua bolsinha a tiracolo, e assim eu fiquei correndo atrás de caminhões de lixo pra ter o que comer. Pra tirar a barriga da miséria, que já anda colada às costas. E tu ainda não veio…
No entanto, a canção diz:“mas renova-se a esperança/Nova aurora a cada dia/E há que se cuidar do broto/Pra que a vida nos dê flor e fruto”.
Estou aqui, pátria que me pariu, pra quando a gente se reencontrar com folhas, coração, juventude e fé.
Como diz a canção.