Com uma extensão territorial de aproximadamente 850 mil quilômetros quadrados, a Caatinga, entre os seis biomas naturais do país, é o único encontrado exclusivamente no Brasil. Responsável por ocupar cerca de 70% do nordeste, a região apresenta diversas peculiaridades em seu patrimônio biológico, que se adapta conforme as características presentes no clima semiárido, como as secas e as longas estiagens.
E é em meio à flexibilidade e à resistência apresentadas pelas espécies típicas existentes na fauna e na flora desse bioma que é encontrada a pityrocarpa moniliformis. Popularmente conhecida como catanduva, a árvore destaca-se por florescer durante a transição da estação seca para chuvosa, marcada pelo período entre os meses de dezembro a abril, quando geralmente ocorre a carência de recursos florais na Caatinga.
O autor da pesquisa, defendida como dissertação de mestrado em 2019 pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais da Escola Agrícola de Jundiaí (PPGCF/EAJ/UFRN), Francival Cardoso Felix, destaca que a espécie apresenta um grande potencial melífero, uma vez que permite o fornecimento de grandes quantidades de pólen e néctar utilizadas por abelhas exóticas e nativas da Caatinga para produção de mel.
Atualmente doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal (PRPPG) da Universidade Federal do Paraná, Francival destaca o valor da catanduva para as regiões do semiárido: “Além disso, a espécie pode ser usada na restauração de áreas degradadas no semiárido, combatendo o processo de desertificação. Por isso, acreditamos que essa espécie possa contribuir como uma fonte de renda alternativa ou complementar para o nordestino, o que a torna essencialmente importante”.
O estudo, que possui como orientador e coorientador, respectivamente, os professores da EAJ/UFRN Mauro Vasconcelos Pacheco e Fábio de Almeida Vieira, gerou três artigos ao longo de toda a pesquisa. O último, intitulado Seleção de árvores matrizes de Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow & R.W. Jobson para produção de sementes, foi publicado neste ano e conta com a coautoria de Josenilda Aprígio Dantas de Medeiros, Cibele dos Santos Ferrari, Kyvia Pontes Teixeira das Chagas, Maria Luiza de Lima Castro e Wendy Mattos Andrade Teixeira de Souza.
De acordo com os pesquisadores, na investigação, eram feita em duas etapas principais: a seleção de matrizes potenciais, nas quais eram realizados estudos genéticos com marcadores moleculares em árvores-mãe e progênies; e a comprovação da qualidade das sementes, por meio de testes laboratoriais de viabilidade e vigor e testes de emergência de plântulas em campo.
Inicialmente, cerca de 100 árvores adultas de catanduva, dos municípios de Mossoró e Macaíba, foram marcadas e monitoradas com apoio das equipes do Laboratório de Sementes Florestais e Laboratório de Genética e Melhoramento Florestal da EAJ. Ao longo do período de dois anos, esse número foi diminuindo de acordo com os avanços das etapas de amostragem e seleção das matrizes, resultando em 27 selecionadas ao fim da pesquisa.
A partir do estudo, foi criado o Pomar de Sementes Florestais no campus da EAJ, coordenado atualmente pelo professor Mauro Vasconcelos Pacheco. Após as árvores utilizadas para a pesquisa crescerem e começarem produzir, novos estudos devem ser feitos com as matrizes e as sementes, dando início ao chamado Programa Melhoramento Genético, que consiste em selecionar indivíduos que produzem mais sementes ou mais flores e, a partir daí, replicar o potencial da espécie em larga escala.
“Os trabalhos com espécies arbóreas precisam de vários anos para gerar resultados ainda mais consistentes. Por isso, os projetos de longa duração não podem ser interrompidos e devem ser incentivados”, explica Francival. “Como os recursos de tempo e financeiro são finitos, não avaliamos outras populações potenciais que poderiam ser levantadas para termos maior acesso à diversidade genética da espécie. Um trabalho mais abrangente em todo o Nordeste poderia nos dar resultados ainda mais robustos”, completa.
Fonte: Agecom/UFRN