Mais de 86 bilhões de neurônios, com aproximadamente 7 mil conexões cada, estão presentes no cérebro humano. As ligações que acontecem nele interagem e elaboram respostas adequadas aos diversos estímulos recebidos constantemente. A compreensão desses mecanismos é fundamental para desvendar os mistérios do sistema nervoso e avançar em seu conhecimento.
Cientistas do Centro de Biociências (CB-UFRN) e da Universidade Autônoma de Madri têm trabalhado nesse sentido e demonstraram pela primeira vez no cérebro de um primata como o córtex da região frontal se conecta às áreas de memória e controle das emoções. A descoberta foi descrita no artigo Projeções do córtex pré-frontal medial (A32 e A25) no sagui comum: um estudo anterógrado subcortical, publicado no periódico Scientific Reports.
Neste estudo, desenvolvido entre 2017 e 2021, a atividade cerebral de saguis, modelo mais próximo das características neuroanatômicas e neurofisiológicas de humanos, foi analisada. Utilizando técnicas de traçadores – substâncias que marcam as vias por onde passam os neurônios – os pesquisadores mapearam vias neurais que conectam diferentes áreas do sistema nervoso, mais especificamente córtex e regiões subcorticais.
Envolvido em aspectos relacionados a tomadas de decisão e personalidade entre outras funções, o córtex pré-frontal coordena a capacidade de um indivíduo avaliar riscos em seus diferentes níveis. Para isso, recebe informações quanto ao estado geral do organismo vindas das diversas vísceras para uma correta escolha de atitudes diante das situações vividas a todo o momento.
Imagine-se um pedestre no cruzamento de uma avenida perigosa e de tráfego intenso. Mesmo sendo algo tão corriqueiro no cotidiano, o simples ato de atravessar de forma segura essa via exige a integração de informações visuais e auditivas do ambiente, bem como o acesso às memórias sobre acidentes ocorridos naquele local e às emoções que isso desperta. Instantâneo e invisível, esse processo é controlado pelo córtex pré-frontal.
“Essa região precisa se conectar com as áreas de emoções, memórias e de controle da atividade visceral para avaliação de risco e tomada de decisão. Entender tais conexões pode auxiliar na compreensão do funcionamento do sistema nervoso”, explica o professor e pesquisador do Departamento de Morfologia da UFRN, Expedito Silva do Nascimento Júnior, um dos autores do artigo.
Na avaliação do cientista, além de consolidarem uma parceria internacional entre UFRN e Universidade Autônoma de Madri, os resultados representam um avanço significativo para o estabelecimento fino das vias neurais no cérebro de um primata. Ainda segundo Expedito, o estudo abre um conjunto de possibilidades em diversos níveis de pesquisa a partir do conhecimento gerado.
“Os dados podem auxiliar as ciências da saúde por meio da compreensão das vias e o consequente desenvolvimento de técnicas e medicamentos que mais seletivamente atuem nesses circuitos. Da mesma forma, as áreas de engenharia de softwares e inteligência artificial devem se beneficiar ao entender melhor como o cérebro atua, viabilizando uma comunicação mais eficiente”, projeta o professor Expedito.
Também assinam o artigo os cientistas Jorge Alexander Ríos-Flórez, Ruthnaldo R. M. Lima e Helder Henrique Alves de Medeiros, do Departamento de Morfologia (DMOR-UFRN), Jeferson Souza Cavalcante, do Laboratório de Estudos Neuroquímicos do Centro de Biociências (CB-UFRN), e Paulo Leonardo A. G. Morais, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).
Fonte: Agecom/UFRN