Do que você mais sente falta das aulas presenciais? Talvez seja até difícil ter apenas uma resposta para essa pergunta. Em tempos de aulas em formato remoto, por conta da pandemia da covid-19, as dinâmicas de ensino mudaram. Um exemplo disso é o já tradicional quadro branco que deu espaço às telas dos computadores e dos dispositivos móveis.
Com essa mudança de rotina, a busca de ferramentas para oferecer os conteúdos das disciplinas aos alunos universitários, com qualidade, de maneira acessível e sem perder as atividades práticas, entraram em discussão. Tanto os docentes quanto os discentes precisaram se adaptar à nova realidade.
Esse foi o ponto de partida para o professor Allan de Medeiros Martins, do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE), criar o sistema Board. Um software desenvolvido e registrado pela UFRN, por meio do Laboratório de Automação, Controle e Instrumentação (LACI), do Centro de Tecnologia (CT).
Board
O Board é um quadro eletrônico, intuitivo e interativo que permite ao usuário escrever e desenhar na tela do seu computador, notebook, celular, mesa digitalizadora ou tablet; com o uso do mouse ou das canetas digitais. Além de ser gratuito, o sistema é on-line, podendo ser acessado neste site. Sendo assim, não é necessário instalar o programa no equipamento utilizado, promovendo, dessa forma, uma maior acessibilidade e democratização.
O sistema possui todas as funcionalidades básicas de um software de desenho, como paleta de cores e larguras de linhas, até as opções de apagar, copiar, colar e salvar, que podem ser vistas na prática neste vídeo. Contudo, ao contrário do Jamboard, conhecido quadro eletrônico da Google, por exemplo, o Board possui alguns diferenciais em relação aos programas já disponíveis nesse nicho do mercado tecnológico. O principal deles é o “vidro digital”.
Tela de vidro digital
Essa função possibilita que o usuário utilize o slide da aula ou qualquer página da web, por meio da URL, como se fosse um quadro branco, sendo possível escrever e desenhar por cima do conteúdo apresentado. Nesse sentido, não precisa ficar alternando entre o slide e a outra aba aberta, enquanto dá aula em salas de videoconferência como o Google Meet ou Zoom.
Usada desde o primeiro semestre remoto implementado pela UFRN, em turmas da graduação e pós graduação da área das exatas, a proposta do “vidro digital” surgiu a partir de um impasse. “Os professores reclamavam que eles tinham os slides, mas quando precisam escrever alguma coisa, retiravam o slide da apresentação, colocavam o quadro e escreviam”, explica o professor Allan de Medeiros.
“Cheguei a tentar usar o Jamboard, mas a minha dificuldade foi porque eu queria escrever no meu slide. Sempre dei aula com os slides projetados no quadro branco, e eu escrevia nele. E ficava super legal de dar aula. Então, pensei que agora seria a oportunidade perfeita… Já que eu vou ter aula on-line, posso colocar os meus slides e escrever neles”, acrescenta o desenvolvedor do Board.
Outras aplicabilidades
Além da possibilidade da escrita na tela de vidro virtual, o sistema disponibiliza mais de 20 aplicações para o ensino de projetos voltados ao campo das engenharias. Entre as funcionalidades consideradas inovadoras estão os conteúdos vetoriais, as animações interativas e os desenhos predefinidos. Em vista disso, torna-se a educação mais eficiente durante o ensino remoto.
Integralizando o Board, o IDynamic, laboratório virtual com animações relacionadas ao estudo de sistemas de controle, traz para mais próximo do aluno, mesmo que virtualmente, a experiência prática. Segundo Marcus Cavalcanti, aluno do 7º período do curso de Engenharia Elétrica, apesar de muitas disciplinas não proporcionarem um contato com o ambiente mais real, nas disciplinas de Controle I e Controle Digital, ministradas pelo professor Allan de Medeiros, não foi bem assim.
“O sistema implementado é bastante útil. Ele é muito importante porque a gente está em contato com a prática, mesmo de forma remota, de casa, fora do laboratório. Temos acesso, pelo menos, a experiências muito próximas do real”, afirma o graduando em Engenharia Elétrica. Mesmo estando em aprimoramento, o Board está sendo adotado e testado por professores de outras instituições como UFBA, UFAL E IFRN e contribuindo para a formação de diversos estudantes pelo Rio Grande do Norte afora.
No caso dos alunos da disciplina de Sistemas de Controle, do Instituto de Computação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o professor Ícaro Araújo declara: “tanto o Board como o iDynamic me ajudam bastante com as aulas síncronas. E com o iDynamic ainda é possível passar atividades mais práticas aos alunos. Atividades estas que, por conta da pandemia, seriam só atividades escritas ou de pesquisa. As ferramentas discutidas aqui contribuem, principalmente, para metodologias de ensino ativas”.
Embora o compartilhamento e interatividade entre o docente e o discente ainda não sejam em tempo real durante o uso do sistema na mesma tela, após as aulas virtuais realizadas por meio do Board, o professor Allan de Medeiros salva o arquivo e compartilha via Sigaa com os alunos da referente disciplina. Portanto, o estudante consegue acessar a qualquer hora e em qualquer lugar a aula ministrada.
Trazendo dinamismo e inovação, outra funcionalidade importante desse software é o “play”. Quando o aluno acessa o arquivo importado pelo professor, este é carregado no próprio Board. Ao apertar o play, é possível animar passo a passo o conteúdo que o professor fez anteriormente. Ou seja, você consegue assistir a aula novamente quantas vezes quiser. “Para estudar é muito positivo. Tudo o que o professor escreveu, na ordem que ele escreveu, em cada slide que ele escreveu, aparece lá aos poucos, como se ele estivesse escrevendo na hora que você está estudando”, diz o aluno Marcus Cavalcanti.
Tecnologia associada à educação
Nessa perspectiva, de acordo com o pedagogo da assessoria acadêmica do CT, Thiago Araújo, a tecnologia associada aos processos educativos pode resultar em ganhos para os estudantes. Pois, a partir da demonstração da aplicação prática da teoria de uma forma mais visual, isso torna o conhecimento mais próximo à realidade deles. Por consequência, isso facilita o método de ensino e aumenta a aprendizagem significativamente.
Devido ao grande potencial retorno à comunidade acadêmica interna e externa da UFRN, conforme o docente Allan de Medeiros, o Board é um sistema que, após as diversas adaptações, ficou versátil. Como ele mesmo disse, “o quadro não é só um quadro”. Ao ponto de, futuramente, mesmo com o retorno das atividades presenciais da Universidade, continuar utilizando o software em suas turmas.
O professor Ícaro Araújo, da UFAL, também faz parte desse time. Quando questionado se pretendia seguir manuseando o Board, mesmo depois do encerramento das aulas remotas, a resposta foi um “com certeza”. “Adaptei minhas aulas para incluir, além dos assuntos teóricos, algumas práticas envolvendo o uso da ferramenta. Além disso, esse conjunto de aplicativos não necessita de um hardware muito potente. Isso faz com que uma quantidade maior de alunos consiga estudar sem perder tempo com travamentos do programa ou telas de carregamento”, conclui Ícaro.
Fonte: Agecom/UFRN