Na contramão da crise econômica agravada pela pandemia de covid-19, o Rio Grande do Norte segue crescendo no mercado de geração de energia limpa. Consolidado como o maior produtor do Brasil no setor e com os ventos soprando a favor, o Estado já garantiu contratos de R$ 5,3 bilhões somente no primeiro semestre de 2021, que serão investidos na geração de energia eólica ao longo dos próximos quatro anos. Em maio passado, o RN atingiu a marca histórica de 5,1 gigawatts (GW) em potência de energia com fonte eólica instalada. O valor é cinco vezes maior do que o consumido em todo o Rio Grande do Norte (1 GW).
Há ainda a expectativa de que o RN receba o aporte financeiro de mais R$ 6 bilhões em investimentos da AES Brasil para a construção do Complexo Eólico Cajuína, totalizando assim R$ 11,3 bilhões até o fim de 2021. De acordo com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec), a projeção é que as cifras deste ano superem as de 2020, quando foi captado o montante de R$ 7 bilhões. Com o aquecimento do setor, o Governo do RN estima que milhares de novos postos de emprego serão criados, desde a construção das usinas até a manutenção dos parques, uma vez que a modalidade emprega até três vezes mais que as usinas à base de combustíveis fósseis. Ainda não há dado geral sobre esse quantitativo, mas, somente o complexo Cajuína deve gerar em torno de 900 empregos iniciais.
A área que mais recebe investimento no Estado quer mais: o objetivo é atrair R$ 50 bilhões em contratos a médio e longo prazo. Em um projeto ambicioso, a Sedec, em parceria com o Instituto Senai de Inovação (ISI), visa a construção do Atlas Solar e Eólico, que vai contar com seis estações para análise dos ventos e medição da radiação do sol. Além disso, o plano prevê ainda a montagem da maior estação anemométrica do Brasil, com 170 metros, para aferição da velocidade e qualidade dos ventos potiguares. Os equipamentos vão viabilizar a instalação de novos parques em terra (onshore) e principalmente no mar (offshore).
“Nosso potencial em terra é pra mais de 25 gigawatts (GW), fora a parte solar. O Estado está fazendo o melhor atlas solar e eólico do Brasil. A estação anemométrica será instalada no município de Jandaíra, próximo a João Câmara. Vai ser a mais alta do Brasil. E fica interligada tanto com as bases em terra, como no mar e vai medir radiação solar e os ventos. Devem estar todas funcionando até abril do ano que vem”, destaca Jaime Calado, titular da Sedec.
O Estado também se prepara para elevar a produção com projetos de parques eólicos offshore (dentro do mar). Eles possuem maior potencial energético e geram mais hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro. “Isso é só o começo. O fator de capacidade em energia eólica em terra nas regiões Sul e Sudeste é de 23% a 24%, no RN é de 41% a 46%. Temos mão de obra de primeiríssima qualidade treinada aqui nos nossos institutos federais em cursos médios, superiores e pós-graduações. Além disso, o Estado tem uma das melhores políticas fiscais do Brasil e por ser área de Sudene [Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste] tem incentivo fiscal federal, que reduz o imposto de renda pessoa jurídica em até 75%”, comenta Calado.
Quatro projetos offshore aguardam aval
Localizado na esquina da América Latina, com vista privilegiada para o Oceano Atlântico, o Rio Grande do Norte é o Estado com o maior potencial energético eólico do país também no mar. Estudos encomendados pela Sedec demonstram que a capacidade de produção de energia limpa do RN nesta modalidade é de até 160 GW, dez vezes mais que a Usina Termelétrica de Itaipu. Isso porque a frequência e a intensidade dos ventos são maiores no mar do que em terra, o que torna a captação de energia mais eficiente.
Enquanto um aerogerador (turbina eólica em formato de moinho) tem capacidade de produção de 4,2 megawatts (MW), no mar esse número sobe para 12 MW. Ao todo, quatro projetos offshore aguardam liberação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para implantação no Rio Grande do Norte. A autorização do órgão federal se faz necessária por se tratar de uma intervenção em uma área da União. Quando estiverem funcionando, os quatro parques offshore terão capacidade de gerar mais 5GW em energia limpa, igualando a potência instalada atualmente no RN.
As estruturas são montadas afastadas da costa, longe das rotas marítimas, e sinalizadas com luzes para não prejudicar o tráfego de embarcações e aeronaves. As empresas offshore, em tradução livre “fora da costa”, são todas as organizações que têm transações feitas em país estrangeiro, sujeitas a um regime extraterritorial. São registradas em jurisdições com baixa tributação ou até mesmo isentas. Além de constituídas em países que têm um tratamento diferenciado, essas empresas têm alto nível de proteção dos investidores, permitindo até que sejam anônimos.
“Os ventos estão aqui desde Cabral, mas só agora poderão ser explorados no mar graças ao avanço da tecnologia. Nossa riqueza é imensa. Além disso, nossos trabalhos offshore, no mar, estão ligados a produção de hidrogênio verde, que é o combustível do futuro. No mundo, até 2050, 20% do combustível deve ser de hidrogênio verde. Hoje o lugar mais barato de produção de hidrogênio verde é o Brasil, e no Brasil é o Rio Grande do Norte por causa da soma desses fatores. Então nos temos aí uma nova fronteira econômica de grande potencial. Hoje já somos um exportador”, detalha Jaime Calado, secretário de Desenvolvimento Econômico.
RN lidera leilão com 350,6 MW contratados
O Rio Grande do Norte ficou em primeiro lugar no leilão A-3 e A-4 de compra de energia nova 2021 realizado na última quinta-feira (8). Ao todo foram contratados 350,6 MW em projetos de geração de energia no RN, tendo como principal fonte a eólica para entrega em 2024 e 2025. O valor equivale a quase três vezes o contratado para o segundo colocado no leilão, que foi o estado de São Paulo, com 131 MW. A Paraíba ficou na terceira posição, com 100 MW. Serão investidos R$ 1.427.253.000 na implantação dos projetos.
O leilão A-3 contratou, ao todo, 547,39 megawatts (MW) de potência instalada, com preço médio de R$ 165,11 por MW-hora (MWh), com deságio de 30,83%; e o A-4, 437,32 MW, com preço médio de R$ 174,62/ MWh e deságio de 28,82%. No total, 33 empresas se sagraram vencedoras do leilão A-3/2021, no qual foram contratados 214,6 MW para o RN. Esses projetos somam R$ 2,2 bilhões em investimentos. Já no leilão A-4/2021, que para o Estado são 136 MW, foram contratados 18 empreendimentos, que somam R$ 1,8 bilhão em estimativa de investimentos futuros.
O Estado possui 22 empresas de geração de energia com projetos em operação, de acordo com Boletim Trimestral da Fonte Eólica, divulgado pela Sedec no último mês de maio. O RN já concentra 181 empreendimentos em operação, sendo líder nacional em potência instalada, com 5,2 GW, e possui ainda 52 empreendimentos em construção (1,8 GW) e outros 78 contratados (3,1 GW), sem contar com os contratos desse último leilão.
O valor captado nos seis primeiros meses deste ano, R$ 5.359 bilhões, em investimentos contratados para a energia eólica no RN, representa 76% do total contratado em 2020 – cerca de R$ 7 bilhões. Os investimentos contratados em energia solar fotovoltaica somam R$ 1.211 bilhões desde janeiro de 2021, o que corresponde a 59% do montante captado em 2020. As fontes eólica e solar totalizam mais de R$ 6,5 bilhões captados no primeiro semestre deste ano.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Jaime Calado, aponta que “14 das maiores empresas do mundo do setor eólico estão aqui”, e que a qualificação profissional, além da geografia privilegiada, é um dos principais atrativos do estado. “Temos aqui cursos voltados especificamente para o mercado eólico e por isso estamos gerando emprego de qualidade. Além disso, formamos um grupo de trabalho, composto por pesquisadores e outros agentes, especialmente focado nas energias renováveis, o que irá potencializar ainda mais este trabalho que estamos desenvolvendo, com incentivos e inovação”, disse Jaime Calado.
Panorama no RN
Situação dos investimentos em eólica e solar
Números:
Parques eólicos no RN: 311
Aerogeradores: 2.268
Potência instalada: 5,1 GW
Capacidade em terra: 25 GW
Capacidade no mar: até 160GW
Investimentos:
2020: R$ 7 bilhões
2021: R$ 5.359 bilhões
Previsão total até o final de 2021: R$ 11,3 bilhões
Expectativa a longo prazo: R$ 50 bilhões
Municípios com mais parques eólicos em operação no RN:
1 – Serra do Mel: 36
2 – João Câmara: 29
3 – Lajes: 26
4 – Parazinho: 22
5 – São Miguel do Gostoso: 18
6 – São Bento do Norte: 18
7 – Jandaíra: 15
8 – Pedra Grande: 13
9 – Touros: 12
10 – Bodó: 9
Energia solar fotovoltaica
Investimento 1º semestre de 2021:
R$ 1.211 bilhões (59% do montante captado em 2020)
PRINCIPAIS PROJETOS
1 – Complexo Eólico Cajuína, da AES Brasil, vai gerar 900 empregos iniciais nos municípios de Lajes, Angicos, Pedro Avelino e Fernando Pedroza, com investimento inicial de R$ 6 bilhões e previsão de iniciar a construção já no segundo semestre. O Complexo Eólico Cajuína vai gerar 900 postos de trabalho durante a fase construção das obras (Presidente da AES Brasil, Clarissa Sadock)
2 – Complexo Solar Olinda, com capacidade instalada total de 577,416 MW, em uma área de aproximadamente 2.937,80 ha, localizado na Zona Rural do Município de Galinhos/RN
3 – Complexo Fotovoltaico Pixoré, com capacidade instalada total de 215,0 MW, em uma área de aproximadamente 701,78 ha, localizado na Fazenda Pixoré IV, Zona Rural do Município de Santana dos Matos
4 – Complexo Eólico Currais Novos, a ser localizado na zonal rural dos municípios de Currais Novos, São Tomé, Campo Redondo (no Rio Grande do Norte) e Picuí (na Paraíba) – a ser composto por 16 parques eólicos (Ventos de São Rafael 1 ao 16) com potência total de 1.016,4 MW, com 242 aerogeradores, de interesse da empresa Ventos de São Rafael Energias Renováveis S.A.
Com informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec).
Crédito da Foto: Ana Silva/Arquivo TN
Fonte: TRIBUNA DO NORTE