O dia fora como outro qualquer. E ela estava ali, na sua frente. Como sempre esteve. Mas agora era diferente. Haviam marcado um encontro. Longe do ambiente de trabalho. Ela tinha algo a lhe dizer.
O vento levava as mechas à boca, que ela livrava com a mão.
“Então…”
Procurava as palavras na mente, enquanto os olhos vagavam em busca de algo em que pudessem se agarrar.
Por que só agora? Pensou.
“Não sei por onde começar…”
Eu sei. Quando você chorou e confiou em mim e a partir daquele dia me dizia seus segredos. E mesmo assim – e nem assim – revelei os meus. Foi assim que começou. Então eu cuidei de você e te embalei nos meus sonhos. E te protegi e jurei a mim mesmo que morreria por você. Lembra quando você gripava e eu tinha febre? Quando ele te abandonou e os meus olhos amanheceram inchados na segunda-feira pela manhã? Eu cuidei de você, mas a uma distância segura. Lá do meu canto. Onde eu não pudesse te tocar. Onde a visão me deixava a vista turva. Onde o sussurro da tua voz não me jogasse ao chão.
Até que você me notou.
Porque até a poeira se faz notar num cômodo limpo. Porque, de repente, lembramos de alguma porta aberta. Porque, de repente, lembramos de colocar roupa suja na máquina de lavar. Porque largamos alguma peça solta pelo chão.
Me espere às 19:00, dizia mensagem – Naquele lugar.
O garçom havia chegado com o cardápio.
Ela tomou um copo d’água. Pediu desculpas pelo atraso. Não estava vestida de forma adequada, explicou-se.Tão logo se recompôs, disse:
“…Eu não queria que ninguém soubesse. Nem que você soubesse por outra pessoa -recebi outra proposta de emprego…. Daí, se quiser, pode ficar como aquele meu armário. Eu não consigo esconder nada de você, não é?- finalizou com a voz trêmula.
Não. Não consegue.