O Museu Câmara Cascudo (MCC) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) está preparando a retomada das visitas guiadas com o público escolar, mesmo com as portas da instituição fechadas. O setor educativo do museu, coordenado pela pedagoga Cristiana Moreira, desenvolveu o Projeto de Mediação Virtual e realizou a primeira visita virtual experimental para as turmas de Educação Infantil e Ensino Fundamental I do Núcleo de Educação da Infância (NEI) da UFRN.
As visitas presenciais estão suspensas desde março de 2020, quando começaram as medidas de restrição por causa da pandemia da Covid-19. Um dos públicos mais afetados pelo isolamento foi o infanto-juvenil, com a mudança do ensino presencial para o remoto, o modelo híbrido e um recomeço diferente, sem contato com os colegas de sala.
As visitas guiadas ao MCC, realizadas pelas escolas com crianças e adolescentes, são uma forma de complementar a educação científica, histórica e cultural por meio do interesse estampado nos olhos atentos dos curiosos visitantes.
O setor educativo atua na articulação das várias áreas de conhecimento que estruturam o Museu, além de atuar para ampliar a interação com a comunidade. Composto por uma equipe de bolsistas e por uma pedagoga, o setor promove atividades para educar e entreter o público: com visitas e mediações guiadas, oficinas, cursos e minicursos, palestras, peças de teatro, jogos e brincadeiras e qualquer produção de material didático ou de entretenimento para a comunidade como um todo.
De acordo com Cristiana, o fato do Museu Câmara Cascudo fazer parte da UFRN ainda agrega outra função ao setor educativo, a de acolher estagiários e facilitar a realização de pesquisas, manipulação de objetos ou quaisquer outros materiais. “O [setor] educativo é o elo entre sociedade e museu em seu aspecto de curadoria, exposições e no entender as necessidades do público, avaliando as atividades existentes e melhorando o que está sendo apresentado”, afirma ela.
O projeto piloto vem sendo desenvolvido com a participação fundamental de estudantes de graduação da UFRN, que atuam como bolsistas no MCC e são responsáveis pela mediação com as crianças e adolescentes. Os temas podem variar da origem dos dinossauros e de animais marinhos, além de temas disponíveis nas exposições montadas nas salas do Museu. Além das mediações, as crianças também colocam em prática o que aprenderam participando de quizzes e atividades interativas.
O conteúdo abordado, as brincadeiras e o formato da live são definidos pelos professores, que solicitam o encontro, marcado com antecedência, no qual as peças da exposição são separadas e o conteúdo é desenvolvido exclusivamente pensando na necessidade da turma e no nível das crianças. O processo é acompanhado de perto pela pedagoga e, ao final, recebe uma avaliação do próprio docente.
Para a coordenadora do setor educativo do Museu, um dos objetivos é alcançar o maior número de pessoas para o Museu Câmara Cascudo. “Com as mediações, podemos voltar à divulgação científica, possibilitando a interação e aprofundando conteúdos através das exposições”, comenta Cristiana. O outro objetivo é abrir as visitas virtuais para o público escolar, mediante agendamento prévio, assim como era feito nas mediações presenciais.
Segundo Blenda Medeiros, docente do 4º ano do Ensino Fundamental I do NEI, o encontro virtual foi enriquecedor para os pequenos, que aproveitaram o momento para sanar as dúvidas sobre o tema em questão. “Os bolsistas puderam conversar com as crianças, ouvindo as opiniões e perguntas delas, e compartilhando conhecimentos com elas. Eles exploraram, por exemplo, diferenças entre baleias e golfinhos, e trouxeram um quiz para a turma, que tornou o momento ainda mais lúdico”, comentou a professora.
O NEI trabalha, desde os anos 80, com uma metodologia própria denominada Tema de Pesquisa, tomando por base as ideias de grandes educadores como Paulo Freire, Madalena Freire e Sônia Kramer. As experiências dos próprios professores da instituição também formaram o desenho da metodologia que surgia a partir dos cadernos de planejamento. A metodologia consiste na liberdade para a imaginação e a curiosidade. As crianças são estimuladas a pensar e têm a oportunidade de escolher, dentro do seu próprio universo, o tema que querem aprender. Ela contempla três fases: estudo da realidade, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento.
De acordo com Sandro Cordeiro, docente da Educação Infantil, a curiosidade das crianças torna-se o objeto de estudo a partir da criação de conteúdo e estratégias de ensino que incorporam o trabalho pedagógico. O fator da dinamicidade do Tema de Pesquisa possibilita que as dúvidas e questionamentos que venham a surgir ao longo das aulas sejam transformados em novos assuntos, e o aprendizado deixa de ser monótono para ser prazeroso para todos os envolvidos, além de estimular a autonomia desde a primeira infância. Além dele, Dominique Sena e Gilson Lautner, também professores da turma, desenvolvem o plano pedagógico de acordo com as indagações dos pequenos curiosos.
“Visitar um museu significa entrar em contato com um universo infinito de possibilidades. É um ambiente organizado e preparado para novas aprendizagens”, comentou o professor que coordena uma turma com crianças de 5 a 6 anos de idade.
Na turma do professor Sandro, dois questionamentos o levaram a procurar o Museu Câmara Cascudo. As crianças queriam saber como surgiram os peixes e os animais marinhos e ainda se existiam peixes na época dos dinossauros. Assim, a equipe de mediadores do MCC preparou com todo cuidado os materiais necessários para explicar a história da vida marinha e sanar as dúvidas das crianças.
Ainda não há uma previsão para o lançamento oficial do projeto, mas em breve, o Museu Câmara Cascudo pretende abrir o agendamento para visitas virtuais em escolas das redes pública e privada de Natal e de outras cidades.
Fonte: MCC/UFRN