O pequeno Guilherme foi transferido para a Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que faz parte da rede Ebserh/MEC, logo após seu nascimento no oitavo mês de gestação e apresentando baixo peso. A criança ainda foi diagnosticada com sopro cardíaco e hipertensão pulmonar.
Por ser pequenino, Guilherme não conseguia respirar sem ajuda de ventilação mecânica e, apesar dos medicamentos utilizados, não conseguia ganhar peso suficiente. Ele ficou na MEJC, entre a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a Unidade Canguru, recebendo cuidados de profissionais das especialidades de Cardiologia, Pediatria, Neonatologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, até a tão aguardada alta para casa depois de seis meses.
Para celebrar a luta constante desses pequeninos e de seus familiares, foi instituído, em 2012, o Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita, comemorado em 12 de junho. A data começou a ser defendida em 2009, quando Daniela Busch, mãe de Ana Luiza, acometida de uma cardiopatia congênita corrigida cirurgicamente com sucesso, começou uma campanha na antiga rede social Orkut. O movimento chamou a atenção de muitas mães e da Associação de Apoio a Crianças Cardiopatas Pequenos Corações.
Cardiopatia congênita é toda anormalidade do coração apresentada pela criança desde o nascimento. São cerca de 21 mil crianças nascidas por ano no Brasil com algum tipo de cardiopatia congênita; dessas, cerca de 6% morrem antes de completar um ano.
Felizmente, esse não foi o caso de Guilherme, que ficou internado por seis meses, como lembra a mãe, Danusy Dantas, mas venceu a batalha. “Digo muito que a equipe da MEJC foi a primeira família que o Guilherme teve. Todo mundo o acolheu e agarrou a causa junto com a gente. Todo mundo vibrava com a sua melhora e as suas conquistas. Foram momentos de muita angústia, mas também foram momentos bem fraternos. Hoje, ele tem seis anos e não sente mais nada. Não toma nenhuma medicação e não tem nenhum tipo de doença”, destacou.
Teste do coraçãozinho em Natal
A MEJC realiza Teste do Coraçãozinho (oximetria de pulso neonatal) em todos os bebês com objetivo de realizar triagem de cardiopatias em recém-nascidos assintomáticos. Esse teste, quando alterado, leva à realização de ecocardiograma antes do bebê receber alta da maternidade, para investigar possíveis doenças. Além disso, ao suspeitar de sintomas de cardiopatia na criança, os pediatras contam com avaliação especializada de cardiopediatras para diagnóstico e orientações de acompanhamento.
A UTI neonatal da MEJC, referência para gestações de alto risco, possui profissionais neonatologistas com treinamento em ecocardiografia funcional e aparelho de ecocardiograma para avaliação dos bebês à beira leito. Dessa forma, é possível dar suporte às crianças com cardiopatia grave mediante uso de medicamentos e encaminhá-las para a realização de cirurgia cardíaca, quando indicado.
“A suspeita de cardiopatia congênita pode ser feita ainda na gravidez, durante o acompanhamento do pré-natal. Nessa situação, a gestante pode ser encaminhada pelo obstetra para realizar o ecocardiograma fetal. O eco fetal é um exame de ultrassom específico para avaliar a formação do coração do bebê. Quando uma cardiopatia é detectada ainda no período fetal, realiza-se orientação e aconselhamento da gestante – com programação da melhor assistência possível para a mãe e o bebê ao nascimento”, destaca Melina Lima, cardiopediatra da MEJC.
Entrevista: médica explica mais sobre a cardiopatia congênita
Qual a importância de termos uma data para falar sobre a cardiopatia congênita?
O Dia Nacional de Conscientização, 12 de junho, visa a educar as pessoas sobre as cardiopatias congênitas e sobre sinais e sintomas de cardiopatia na infância, de forma a aumentar a conscientização pública por meio de programas e campanhas e incentivar doações para fornecer apoio e pesquisa a instituições que atuam no cuidado à criança cardiopata.
As cardiopatias congênitas são as malformações mais comuns na criança, com uma incidência aproximada de 1 caso para cada 100 nascidos vivos. A suspeição e diagnóstico precoces podem impactar positivamente na qualidade de vida da criança e da família, por proporcionar tratamento adequado e multiprofissional antes que surjam repercussões mais graves.
Quais são as cardiopatias mais comuns?
As cardiopatias congênitas mais comumente diagnosticadas são as comunicações interventriculares, comunicações interatriais, persistência do canal arterial, defeito do septo atrioventricular, coarctação de aorta e Tetralogia de Fallot. São cardiopatias com manifestações clínicas diferentes, que podem se apresentar tanto com sintomas mais leves ou evoluir com insuficiência cardíaca, a depender da gravidade das lesões.
Também existem defeitos na formação das válvulas cardíacas, que podem se apresentar com estenose (estreitamento) ou insuficiência. Já no período neonatal, precisamos estar atentos aos problemas mais graves que vão impactar no bem-estar do bebê e que devem ser encaminhados para avaliação de cirurgia cardíaca antes da alta hospitalar, que são as chamadas cardiopatias críticas, como a transposição das grandes artérias (TGA) e a Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo.
Quais sinais e sintomas de cardiopatia na criança?
Os principais sintomas que devem fazer suspeitar de cardiopatia na criança são: cansaço ou dificuldade para respirar; infecções respiratórias de repetição; ganho de peso insuficiente ou baixo desenvolvimento pondero-estatural. Para os recém-nascidos e lactentes, observar ainda se há sudorese e interrupções das mamadas para “pegar fôlego”, o que denota esforço para algo que deveria ser natural; e cianose, que é a cor arroxeada na pele, principalmente notada na face, nos lábios ou nas mucosas.
É importante investigar a presença de cardiopatia se houver suspeita de algumas síndromes genéticas em que a cardiopatia é uma associação frequente, como, por exemplo, Síndrome de Turner ou Síndrome de Down. Os clínicos ou pediatras também podem suspeitar da presença de uma cardiopatia ao notar arritmia ou som de sopro durante a ausculta do coração.
Quando procurar a ajuda de um profissional? Quais são os exames feitos e os objetivos?
Os pais ou pediatras que notem sinais sugestivos de cardiopatia no recém-nascido e na criança devem procurar um cardiopediatra, que é o especialista no coração da criança. Fazem parte da investigação avaliar o histórico familiar e fatores predisponentes, o exame físico cardiovascular e realização de exames complementares, como eletrocardiograma, radiografia de tórax e ecocardiograma. Em casos específicos, pode ser necessário complementar avaliação com angiotomografia e cateterismo cardíaco para definição das intervenções a serem adotadas.
Como funciona o serviço de detecção e acompanhamento na maternidade?
A suspeita de cardiopatia congênita pode ser feita ainda na gravidez, durante o acompanhamento do pré-natal. Nesta situação, a gestante pode ser encaminhada pelo obstetra para realizar o ecocardiograma fetal. O eco fetal é um exame de ultrassom específico para avaliar a formação do coração do bebê. Quando uma cardiopatia é detectada ainda no período fetal, realiza-se orientação e aconselhamento da gestante, com programação da melhor assistência possível para a mãe e o bebê ao nascimento.
A Maternidade Escola Januário Cicco realiza teste do coraçãozinho (oximetria de pulso neonatal) em todos os bebês com objetivo de realizar triagem de cardiopatias em recém-nascidos assintomáticos. Esse teste, quando alterado, implica a realização de ecocardiograma antes da alta da maternidade. Além disso, os pediatras, ao suspeitar de sintomas de cardiopatia na criança, contam com avaliação especializada de cardiopediatras para diagnóstico e orientações de acompanhamento.
A UTI neonatal da MEJC, referência para gestações de alto risco, possui profissionais neonatologistas com treinamento em ecocardiografia funcional e aparelho de ecocardiograma para avaliação dos bebês à beira leito. Desta forma, é possível oferecer suporte às crianças com cardiopatia grave mediante uso de medicamentos para avaliação e encaminhamento de cirurgia cardíaca, quando indicado.
A educação continuada com exposição de temas em cardiopediatria e troca de conhecimento entre os profissionais, alunos e residentes é prioridade no nosso serviço, e essa ação é realizada durante todo o ano, por meio de aulas expositivas, simpósios e discussões de casos clínicos.
Fonte: Agecom/UFRN