Carnaúba ameaçada

Quais são as ameaças e estratégias para a manutenção das populações naturais e produtos oriundos de uma palmeira economicamente relevante? Como aliar conservação e a exploração sustentável desses recursos frente às atuais condições sociais e econômicas dos extrativistas? Essas são algumas das indagações que levaram um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) a estudar a palmeira carnaúba (Copernicia prunifera), especificamente sobre as ameaças à diversidade genética da espécie.

A cera de carnaúba é um dos principais produtos de origem vegetal da pauta de exportações do país. O valor da produção na extração de ceras e fibras da carnaúba movimenta mais de 230 milhões de reais por ano. Conhecida como “árvore da vida”, devido às diversas finalidades dos seus produtos, a carnaúba ocorre no bioma Caatinga, uma das maiores áreas de floresta tropical sazonalmente seca da América do Sul, que tem sido, no entanto, severamente afetada pela colheita insustentável dos recursos naturais.

Carnaúbas no semiárido da Caatinga, cera da carnaúba e produção artesanal – Fotos: Canvas

É no ambiente semiárido da Caatinga, principalmente nos vales dos rios do Nordeste e planícies inundáveis, na época de chuva, que se encontra a carnaúba. Esse bioma foi identificado como uma região ecologicamente vulnerável às mudanças climáticas. Os carnaubais sofrem com a intensa exploração, pois o método utilizado consiste na retirada de praticamente todas as folhas para a obtenção do pó-cerífero. Há também registros de corte e uso do caule na construção civil.

Secagem das folhas para remoção do pó-cerífero – Foto: Fábio Vieira

Nessa perspectiva, o grupo, coordenado pelo professor Fábio de Almeida Vieira, da Escola Agrícola de Jundiaí e coordenador do Laboratório de Genética e Melhoramento Florestal (LabGeM), resolveu informar estratégias de conservação com base em estudo de diversidade genética, no qual foi avaliado se as populações naturais remanescentes da espécie em uma área intensamente explorada exibem evidências de impactos genéticos negativos.

Em artigo publicado na revista Biodiversity and Conservation, os pesquisadores analisaram ainda as relações entre os resultados obtidos e a exploração intensiva dos carnaubais e como isso pode interagir com as mudanças climáticas esperadas. As populações estudadas mostraram evidências de gargalos genéticos, enquanto o cenário climático futuro de mudança climática sugere que habitats potencialmente adequados para a carnaúba dentro de sua área de distribuição nativa serão reduzidos.

Pecuária nos carnaubais, corte e uso da madeira na construção civil – Fotos: Fábio Vieira

“Além da necessidade de conservação in situ das populações de carnaúba para minimizar a perda de diversidade genética importante, que é matéria-prima para a evolução e melhoramento, a criação de bancos de germoplasma para conservação ex situ e estratégias para o desenvolvimento de florestas plantadas e produtivas são urgentemente necessárias para aliviar a pressão sobre as populações naturais e assim garantir a sustentabilidade e manutenção dos recursos oriundos da carnaúba que geram renda para as comunidades extrativistas”, explica o professor Fábio Vieira.

Próximos passos

Sob orientação do professor Fábio Vieira, a obtenção dos dados dessa pesquisa teve início durante a realização do curso de mestrado da pesquisadora Jéssica Ritchele Moura dos Santos, aluna egressa do Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais (PPGCFL) da UFRN, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O estudo foi orientado pelo professor Fábio de Almeida Vieira e teve avanço durante a realização do pós-doutorado do professor Fábio na University of Stirling, Escócia (UK), também com financiamento da CAPES.

Entre os próximos passos, os pesquisadores citam um trabalho em andamento de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em colaboração com a UFRN que está investigando a história evolutiva e colonização da carnaúba em diferentes habitats, além das relações filogenéticas com outras espécies do gênero. Os resultados fornecerão dados adicionais relevantes para a definição de estratégias de conservação da carnaúba.

Mudas da carnaúba produzidas na EAJ/UFRN, plantio e regeneração natural – Fotos: Fábio Vieira

Colaboradores

Além da Jéssica e do professor Fábio, também assinam o artigo os pesquisadores Richeliel Albert Rodrigues Silva, ex-aluno do PPGCFL da UFRN, Cristiane Gouvêa Fajardo, bolsista do Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD) da CAPES/PPGCFL, Murilo Malveira Brandão, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e Alistair S. Jump, da University of Stirling (UK).

Fonte: Agecom/UFRN

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