Planta muito comum no semiárido brasileiro, a bromélia rupícola ou macambira-de-flecha tem uma importância que vai muito além dos seus usos em artesanatos, medicamentos e alimentos para animais e pessoas da região. Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) mostra que a planta tem papel-chave na conservação da biodiversidade da região e está publicado em early view na revista “Ecology”. A pesquisa recebeu apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Para investigar como a bromélia rupícola atua nos ecossistemas da caatinga, bioma endêmico do Brasil que ocupa boa parte do Nordeste e a porção norte de Minas Gerais, os pesquisadores realizaram observações mensais durante o período de 2011 a 2018 em três afloramentos rochosos onde elas ocorrem, localizados no município de Santa Maria, no estado do Rio Grande do Norte. Esses locais, que somam cerca de 21 mil metros quadrados de área, continham 313 aglomerados com 3.696 unidades da planta amostradas.
A equipe de pesquisa constatou que a espécie é uma das poucas que consegue crescer nesses afloramentos rochosos, que são bastante inóspitos do ponto de vista das condições físicas. Nesses locais, elas formam um habitat favorável para os animais que vivem na região, proporcionando um ambiente com temperaturas mais amenas e maior umidade em comparação com o meio externo e funcionam, assim, como um refúgio. “Ao criarem tais oásis, essas bromélias atraem desde pequenos invertebrados, como formigas, cupins e besouros, até anfíbios, lagartos, serpentes e aves, incluindo mamíferos de pequeno e de médio porte, criando uma rede de interações [teias tróficas] entre esses grupos”, explica Jaqueiuto da Silva Jorge, um dos autores do estudo.
Além de oferecer abrigo e ambiente adequado para a reprodução e fixação de ninhos de diversas espécies, o estudo mostrou que essa espécie de bromélia também é uma fonte importante de alimento para muitos animais. “Elas disponibilizam seus próprios tecidos, como folhas, partes internas e flores, além de néctar e pólen em abundância, principalmente nos períodos de seca na região, épocas de escassez de recursos”, conta Jorge. Assim, espécies herbívoras que se alimentam da planta atraem seus predadores naturais que, por sua vez, trazem outros, chegando a consumidores finais como mamíferos, a exemplo do furão e do gato macambira, espécies características da caatinga.
Ambientes ameaçados
Por atuarem como espécie-chave na reunião de tal diversidade de animais, essa espécie de bromélia é fundamental para a manutenção da biodiversidade nas regiões semiáridas brasileiras. No entanto, a sua preservação vem sendo ameaçada, uma vez que os lajedos e afloramentos rochosos têm sido cada vez mais atingidos pela mineração e queimadas. “Em nosso estudo, propomos políticas de conservação para preservar esses ambientes. Continuaremos realizando pesquisas com essas plantas e sua fauna associada, a fim de compreender melhor tais relações e como isso afeta nosso bem-estar enquanto espécie”, afirma Jorge.
O pesquisador ainda acrescenta que a bromélia rupícola funciona como um ótimo modelo para estudos na área da ecologia, sobre interações entre seres vivos e formação de comunidades, e outras áreas e temas, como o estudo dos processo de decomposição e aporte de nutrientes em ambientes semiáridos. “Apesar de terem sido negligenciadas nos estudos sobre importância biológica, nossas pesquisas vêm demonstrando que as bromélias como um todo exercem papéis essenciais nos ecossistemas em que ocorrem, principalmente como amplificadoras da diversidade biológica”, finaliza.
Imagem: Jaqueiuto da Silva Jorge
Fonte: Agecom/UFRN