Vivendo um Dia de Cada Vez – A Recidiva do Câncer Infantojuvenil

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Na Casa de Apoio Durval Paiva, os profissionais se deparam com muitas histórias num universo complexo e muito singular, onde perpassam por uma diversidade de vivências e significações. Neste cenário, são encontradas mães com olhares apreensivos, mas também, com muita esperança, buscando por algo que as façam se sentir mais acolhidas.

Há, também, crianças e adolescentes com vontade de brincar, com uma necessidade de usufruírem do convívio com os amigos, de terem suas rotinas restabelecidas, mas, infelizmente, não podem, por estarem passando por um tratamento de câncer e tentando passar por este processo, o mais rápido possível, pois querem dar continuidade às suas histórias.

No entanto, quando estes pacientes precisam repetir o tratamento oncológico, em decorrência do retorno da doença, ou seja, da recidiva (reaparecimento de células malignas no local inicial ou em outras partes do corpo, após um período de remissão da doença), estar presente durante este processo é experienciar um momento único, de sorrir e de sofrer. É perceber que, mesmo passando por momentos tão dolorosos, os pequenos precisam ser fortes e também têm muito a nos ensinar.

A recidiva é um momento extremamente delicado do tratamento, com o recomeço dos procedimentos médicos, o retorno às internações hospitalares e a rotina modificada, novamente. Vivências já conhecidas pelos pacientes e pelos seus cuidadores. Contudo, dessa vez, com um grande impacto emocional, trazendo à tona sentimento de frustração e ameaças à vida, além das dúvidas, em relação às chances de cura.

Durante a prática clínica, no setor de terapia ocupacional da Casa Durval Paiva, existe a oportunidade de acolher e realizar escutas qualificadas com as mães, que, em sua maioria, relatam o medo que sentem com a recidiva do filho. Um verdadeiro choque, acompanhado de dúvidas, tristeza e dor, por verem seus filhos retornando à vida, voltando a ser quem eram, antes do tratamento, retomando uma rotina social e perder tudo isso, mais uma vez.

Neste contexto, o objetivo da terapia ocupacional é o de propor novos caminhos, onde o percurso possa ser menos doloroso, mais humanizado, beneficiando todos os envolvidos no processo de adoecimento: as crianças e seus familiares. Principalmente, por serem retirados do contexto social do qual faziam parte, com limitações às suas atividades, acarretando o afastamento da escola, dos amigos, dos familiares, e do lazer.

Nesse viés, o terapeuta busca oferecer um espaço em que seja possível a escuta, nos mais diferentes lados e dando o valor necessário à cada história de vida, considerando seus medos, dores, desamparos e esperanças, valorizando a singularidade de cada pessoa que chega, para mais um momento de criação de vínculo.

A comunicação, além do diálogo, se torna um instrumento para informar, esclarecer e orientar a família, acerca do diagnóstico e prognóstico da criança. Este acolhimento é extremamente relevante, para a adesão ao tratamento e a diminuição do nível de ansiedade dos envolvidos. Para as crianças, o brincar é um importante recurso de enfrentamento da doença, o lúdico, auxilia na expressão de sentimentos, promove a interação social com outras crianças, familiares e equipe de saúde, favorecendo o estabelecimento de vínculos, estimulando a continuidade do desenvolvimento cognitivo e a autonomia.

Assim, a terapia ocupacional busca promover a qualidade de vida e minimizar as dores, que invadem o universo dos pacientes, quando ingressam no contexto da recidiva da doença. Para isso, o setor considera as relações interpessoais, colabora para que os momentos juntos sejam confortáveis e acolhedores, prioriza a privacidade e a individualidade dos usuários, junto com uma atuação profissional, capaz de contribuir no processo de saúde integral, estimulando-os nos novos projetos e auxiliando-os na elaboração e ressignificação das adversidades da vida.

Imagem: Divulgação

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