Entender a origem de algumas expressões é, ao mesmo tempo, mergulhar na história e encantar-se por descobertas fascinantes. Algumas delas possibilitam conhecimento da cultura e dos costumes de determinados povos.
Talvez a característica que mais chame a atenção seja o fato de que não é possível entender a história de uma língua sem levarmos em conta os eventos políticos e históricos pelos quais passou o povo que falava essa língua, isto é, para entender a história interna de um idioma, é imprescindível que levemos em conta sua história externa. Faço, a partir de agora, um recorte de algumas expressões, com o propósito de despertar a curiosidade sobre a temática.
Acabar em pizza – Uma das expressões mais usadas no meio político é “tudo acabou em pizza”, empregada quando algo errado é julgado sem que ninguém seja punido. O termo surgiu no futebol. Na década de 60, alguns cartolas palmeirenses se reuniram para resolver alguns problemas e, depois de muitas horas seguidas de brigas e discussões, estavam com muita fome. Foram a uma pizzaria, tomaram muito chope e pediram grande quantidade de pizzas. Depois disso, simplesmente esqueceram o assunto, foram para casa, e a paz reinou. Depois desse episódio, Milton Peruzzi, que trabalhava no jornal Gazeta Esportiva, publicou a seguinte manchete: “Crise do Palmeiras termina em pizza”. Daí em diante, a expressão pegou.
Aos trancos e barrancos – A expressão se refere a algo que segue adiante, mas com muita dificuldade. Tranco é o salto que o cavalo dá, mas também pode ser um golpe brusco. Barranco (no Brasil) é a ribanceira de um rio que tem margem íngreme, mas em Portugal (que é de onde veio a expressão) é uma vala aberta por ações da natureza, como uma enxurrada, ou pelo homem.
As paredes têm ouvidos – Expressão nascida na França e originada da perseguição contra os huguenotes, que resultou na matança conhecida como a Noite de São Bartolomeu (em 24 de agosto de 1572). A rainha Catarina de Médicis, esposa de Henrique II (rei da França), era muito desconfiada e uma perseguidora implacável dos huguenotes. Para poder escutar melhor as pessoas de quem mais suspeitava, mandou fazer uma rede com furos, nos tetos do palácio real. Foi este sistema de espionagem que deu origem a esta expressão.
Casa da mãe Joana – Esta Joana é a condessa de Provença e rainha de Napóles (Joana I). Em 1347, ela regulamentou os bordeis de Avignon, onde vivia refugiada. “Casa da mãe Joana” então virou sinônimo de prostíbulo, lugar de bagunça.
Chegar de mãos abanando – Originada no período de grandes imigrações no Brasil (final do século XIX), quando estrangeiros vinham com a família para trabalhar nas fazendas dos barões do café. Os imigrantes deveriam trazer ferramentas para começar o trabalho. Quem viesse sem nada, ou com as mãos abanando, era considerado avesso ao trabalho.
Colocar a mão no fogo –Nasceu na Idade Média. Para provar sua inocência, o acusado deveria caminhar alguns metros, na frente de um juiz e de testemunhas, segurando uma barra de ferro em brasa nas mãos. As mãos eram protegidas apenas por um pedaço de estopa envolvido em cera. Três dias depois, a estopa era retirada. Se a mão estivesse sem nenhuma marca, o acusado era considerado inocente. Se aparecesse uma queimadura, o sujeito era enforcado.
Elefante branco – A expressão vem de um costume do antigo reino de Sião, situado na atual Tailândia, que consistia no gesto do rei de dar um elefante branco aos cortesões que caíam em desgraça. Sendo um animal sagrado, não podia ser posto a trabalhar. Como presente do próprio rei, não podia ser vendido. Matá-lo, então, nem pensar. Não podendo também ser recusado, restava ao infeliz agraciado alimentá-lo, acomodá-lo e criá-lo com luxo, sem nada obter de todos esses cuidados e despesas. Daí o ditado significar algo que se tem ou que se construiu, mas que não serva para nada. “Eis o que significa a parábola: a semente é a palavra de Deus”. (Lc 8,11)
João Maria de Lima é mestre em Letras e professor de língua portuguesa e redação há mais de 20 anos.
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