Tive o imenso prazer de ter pais amorosos, mas lembro que a cultura de “cala a boca menino”, de maneira ríspida e autoritária, era bem comum.
Tempos depois, morando em Mãe Luiza, já dono do meu nariz, comecei a conviver com famílias por causa do trabalho social em andamento no bairro.
O “cala a boca”, “você não sabe de nada”, e “deixe de falar besteira”, eram mantras comuns.
O mesmo silêncio era exigido em sala de aula, falar só após consentimento e desde que não fosse contestação alguma.
E assim muitos de nós crescemos, chegando hoje a novas formas de censura.
Com o endurecimento das posições políticas, muitos hoje evitam manifestações orais e escritas nas mídias sociais.
Eu mesmo, um jornalista/escritor militante das palavras e oralidades, me assustei com certas reações recentes, a esquerda e a direita, refletindo ser prudente puxar o freio e ficar mais na minha.
Criticar as divindades, emitir opinião, dizer coisas mínimas, continuam irritando, causando raiva e, dependendo do ambiente, o pau pode comer, já tendo amigo de infância ameaçando quebrar meus dentes em plena rua, caso me visse, pelo simples fato de ter chamado o ídolo dele de cabra de peia.
Assim, atravessamos todas as fases da vida, tendo que ter habilidade e paciência para entender seres tão raivosos e violentos, percebendo o quanto tem sido difícil em toda existência humana na Terra, a convivência com o pensamento oposto, a religião alheia, percepção política e até os modus vivendis pessoais, que se não forem ipsis litteris de acordo com o de alguns, causam extremo desagrado ao ponto de gerar intrigas, futricas, crimes e até guerras.
Infelizmente, os seres pensantes e atuantes na linha da harmonização estão em baixa, com vários pontos do planeta entronizando os que falam alto, não toleram críticas e trabalham incansavelmente para uma sociedade fechada, totalitária, onde seus desejos e anseios possam ser enfiados goela abaixo de todos, da mesma maneira que estamos observando há séculos e séculos, posto que os poderosos de plantão disseminam que os rivais não sabem de nada, não entendem nada, estão as serviço de coisas inexistentes, e até endiabrados.
Assim, criam fantasmas, versões, factoides, conspirações, iludindo muitos e abrindo caminho para seus verdadeiros sonhos, a dominação sem oposição, campo livre para um reinado absoluto.
Uma pena, pois a história mostra que esses reinados onde não existe diversidade de posições, opiniões, gêneros, posturas, raças, etnias, times, religiões, são reinados tristes, ocos, moucos, com pessoas robotizadas, idiotizadas, abestalhadas, despidas de amorosidade e desprovidas de conteúdo.
Eis a alma de quem se furta ao diálogo e ama uma sociedade apartada: chocha.
Luzzzzz
Flavio Rezende no último dia de fevereiro de dois mil e vinte e um. 11h20. Capim Macio. Natal. Brasil.
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Crédito das Fotos: Arquivo Pessoal