O professor de Jornalismo Daniel Dantas Lemos pediu afastamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) após polêmica envolvendo denúncias de assédio contra ele. De acordo com a coordenação do curso, o docente se afastou por tempo indeterminado através de licença médica.
Segundo a coordenação de Jornalismo, a licença é por tempo indeterminado, mas não deve durar muitos dias. O docente deverá repor a carga horária, ainda segundo o curso. Atualmente Daniel é professor de três turmas: Ética Jornalística, Jornalismo Investigativo e Laboratório de Linguagem Jornalística.
Em reportagem do Agora RN, veiculada na última terça-feira 19, alunas e ex-alunas denunciaram assédios e relataram situações constrangedoras vivenciadas com Daniel Dantas Lemos. No dia 4 de janeiro, ele recebeu uma advertência administrativa como resultado de uma sindicância instaurada pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN (CCHLA), que apurou o episódio em que o docente baixou as calças em frente a um grupo de alunas no Laboratório de Comunicação (Labcom) em junho de 2019.
Na sexta-feira 22, o Departamento de Comunicação social (Decom) se posicionou sobre o assunto. Em nota, divulgada nas redes sociais, afirmou que repudia as atitudes do professor e disse que ele continua como vice-coordenador do curso de Jornalismo. O Departamento disse que não tem autonomia para desfazer a chapa da coordenação e retirar o professor do cargo.
O Decom disse ainda que vem oferecendo proteção às alunas desde que tomou conhecimento da situação, acolhendo as vítimas com total zelo e discrição, recebendo a denúncia com respeito e encaminhando-a às demais instâncias administrativas da instituição, para que o processo fosse formalizado.
PT vai analisar denúncias
O Partido dos Trabalhadores (PT) se manifestou também na sexta 22 sobre o caso do professor, que é filiado ao partido. Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Mulheres do PT disse que solicitou que as denúncias relacionadas ao docente sejam encaminhadas à Comissão de Ética da legenda.
Na nota, a Secretaria de Mulheres diz que “repudia veementemente os assédios praticados por Daniel Lemos. É inadmissível que um filiado ao partido tenha tal conduta, que fere e reprime as mulheres. Solicitamos que todas as denúncias de assédio relacionadas ao filiado sejam encaminhadas à Comissão de Ética do partido e que sejam avaliadas com o rigor necessários que exige a situação”.
A Secretaria de Mulheres do PT completou dizendo ainda que “o professor é responsável pelas práticas totalmente condenáveis de assédio, não sendo funcionário, dirigente ou parlamentar do PT”.
Desde que a reportagem com Daniel foi publicada, algumas mulheres do partido receberam mensagens nas redes sociais cobrando um posicionamento. A deputada federal Natália Bonavides (PT) compartilhou a nota da Secretaria de Mulheres do PT no próprio perfil do Instagram e comentou prestando solidariedade às estudantes.
O caso
O professor Daniel recebeu uma advertência administrativa em 4 de janeiro como resultado de uma sindicância instaurada pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN (CCHLA), que apurou o episódio em que o docente baixou as calças em frente a um grupo de alunas no Laboratório de Comunicação (Labcom) em junho de 2019. Denúncias também foram feitas em 2017, ex-alunas relataram que foram perseguidas e constrangidas pelo professor, principalmente depois que o docente descobriu que elas haviam ido à Ouvidoria da instituição.
Em outubro de 2016, o professor se envolveu em uma polêmica quando publicou uma carta em tom de despedida nas redes sociais e desapareceu – para reaparecer logo em seguida. O caso virou notícia na imprensa local. No mesmo período, ele respondeu a um processo por violência doméstica.
Antes de lecionar na UFRN, Daniel dava aulas na Universidade Federal do Ceará (UFC) e já possuía um comportamento considerado inadequado. Uma jornalista de Fortaleza, que também preferiu não ser identificada, relatou à reportagem situações incômodas que vivenciou na época das aulas com o professor, no primeiro semestre de 2015.
“Ele sempre tentava se meter no meu relacionamento. Namorava uma garota nesse período e ele vinha conversar com a gente de um jeito ofensivo. Perguntava sobre roxos, se eram ‘chupões’. A gente até comentava que isso era muito desconfortável”, narrou. “Ele fazia piadinhas ‘escrotas’ e era estranho. O pessoal falava que ele era invasivo, tinha brincadeiras que as meninas não gostavam, pelo menos na minha turma. A partir daí, todas começaram a se fechar mais”.
A coordenadora do curso de Jornalismo da universidade cearense, Kamila Fernandes, contou que Daniel se envolveu em “casos de assédio de alunas, de perseguição, de conversas obscenas. Tudo isso enquanto choramingava pelos cantos que estava longe da família. Assediando e enganando alunas. Repetiu tudo na UFRN, onde só agora recebeu uma punição leve, uma advertência. Porque a classe dos docentes não é unida, mas corporativista. A maioria alivia e muito as condutas inaceitáveis dos colegas, ao minimizar os relatos dos jovens estudantes. Sobretudo quando há teor sexual”, escreveu a jornalista e professora no Twitter.
A reportagem, por telefone, Kamila revelou outros acontecimentos. “Depois que ele saiu da UFC, começaram a aparecer relatos. Uma colega professora me contou que ele seduziu uma aluna e depois ficou contando detalhes íntimos da menina, da relação deles. A menina ficou muito mal e queria sumir da faculdade. Ele ia para a balada, os alunos contavam, e ficava grudado no grupo. Não era só ficar perto, era ficar pegando nas meninas”.
Procurado pela reportagem, Daniel disse que não vai se posicionar sobre a denúncia de Kamila. Antes, em outra entrevista à reportagem, ele admitiu que baixou as calças na frente de um grupo de alunas nos corredores da UFRN. “Não tinha brincadeira de cunho sexual, não tinha nada disso. Foi errado, foi estúpido; eu disse isso à universidade. A minha atitude foi reprovável, típica de uma advertência e foi isso que aconteceu”.
O professor também falou sobre os comentários que constrangeram alunos em sala de aula. Ele disse: “Eu lamento ter feito isso, mas parece um comportamento que eu tenho, ou tinha com alguma frequência. É uma coisa que às vezes incomodava, ou incomoda, e é uma coisa realmente da minha prática e eu tenho que repensar ao longo do processo”. Segundo Daniel, ele foi diagnosticado com depressão em 2016.
Fonte: Agora RN
Imagem: divulgação