A menos de um mês do retorno das aulas presenciais, as escolas estaduais do Rio Grande do Norte ainda precisam se adequar para receber os alunos. A volta às aulas, que está marcada para acontecer nos dias 1º e 3 de fevereiro para as escolas estaduais e municipais de Natal, respectivamente, será relativa ao ano letivo de 2020, e dependerá do cenário epidemiológico do estado. No entanto, as escolas ainda não estão preparadas para a retomada das atividades presenciais.
O Agora RN visitou quatro escolas estaduais localizadas na capital potiguar para verificar o andamento da adaptação da estrutura para receber os alunos de volta às atividades presenciais em menos de um mês. No Colégio Estadual do Atheneu Norte Riograndense, segunda escola mais antiga do Brasil, ainda não há nenhuma providência em relação às medidas de biossegurança necessárias. É o mesmo caso da Escola Estadual Alberto Torres, que estava fechada e sem nem um sinal de adequação às novas normas.
A Escola Estadual Professor Anísio Teixeira está passando por reformas e conta com um dispensador de álcool em gel logo na entrada, mas a demarcação do piso para garantir o distanciamento e outras medidas ainda estão em falta. A reportagem não conseguiu contato com nenhuma pessoa da gestão destas três escolas.
Já na Escola Estadual Augusto Severo, a diretora Fátima Oliveira explicou que a unidade está aberta todos os dias para prestar atendimento a quem necessitar resolver questões de documentação, matrícula, transferência etc. A instituição passou por uma reforma recentemente e está com uma boa estrutura, no entanto, em relação às medidas de segurança sanitária exigidas, ainda há poucas providências.
“Para retornar, a gente precisa organizar detalhes. Nós temos borrifadores, mas pouquíssimos, nós não temos nem sequer bebedouro com torneiras, porque não pode ser aquele que os alunos põem a boca. Então a gente precisa desses mínimos detalhes para a gente garantir que tem essa biossegurança para que nossos alunos possam voltar. A própria SEEC tem que nos dar um prazo pra gente fazer”, pontuou a gestora.
Fátima Oliveira ainda esclareceu que a aquisição dos Equipamentos de Proteção Individual e recursos necessários para obedecer às normas deveria ser feita com o recurso do Programa Dinheiro Direto na Escola Emergencial (PDDE), mas que a escola ainda não teve acesso a esse dinheiro.
O PDDE é um recurso federal, e o PDD Emergencial é um recurso extra que foi instituído em outubro de 2020 com o objetivo de suprir, justamente, a necessidade das escolas de se adequarem para o retorno das atividades presenciais. No caso da escola Augusto Severo, foi necessário utilizar o recurso destinado a outras prioridades para adquirir o mínimo de estrutura que existe no local atualmente.
“A fita para demarcação do chão foi comprada com a primeira parcela do Programa de Autogerenciamento da Unidade Escolar (Pague), e compramos álcool em gel, não pra muito tempo, mas temos um pouco. Nós compramos material de limpeza, porque temos que fazer todo dia, uma ou duas vezes por semana a gente lava com água sanitária. O nosso tapete de entrada, tudo nós compramos com a primeira parcela do Pague, que é um recurso estadual. No PDDE a gente ainda não mexeu, a gente só reprogramou porque nossa escola tem outras necessidades”, disse Fátima.
A diretora precisou comprar um termômetro digital com o próprio dinheiro. “Nós já temos o termômetro, enquanto não tinha o recurso eu comprei, é meu e eu deixei à disposição da escola. Mas a escola vai comprar, a gente precisa ter mais de um”. A opinião da diretora é de que as aulas só deveriam voltar se houver o mínimo de segurança sanitária para todos, e que, mesmo assim, sem a vacina, as aulas presenciais não configuram uma situação ideal.
“Se nós tivermos o mínimo de segurança e um número menor de alunos a gente controla a entrada, vai ficar todo mundo em alerta, focando no distanciamento, fazendo esse trabalho, mas a gente tem que ter o mínimo de segurança para voltar. Mas sinceramente, de minha parte, não voltaria, porque é o seguinte: na sala de aula você controla, mas quando eles saem no pátio você não controla. Até porque os professores, no intervalo, querem o lanche deles, o tempinho deles de intervalo, e a gente não vai ter isso, porque a gente vai ficar em cima. A faixa etária dos nossos alunos é muito aguçada, tem muita energia, quando eles se veem, se abraçam, correm pra cima. Por mais que a pandemia demore e vá se fazendo uma construção da consciência sobre, mas existem os negacionistas, então é preocupante. Sem a vacina é preocupante”, lamentou a diretora.
A estimativa é de que as turmas na Escola Estadual Augusto Severo tenham em média 12 alunos no ensino presencial, na modalidade híbrida, e estudantes e funcionários do grupo de risco vão continuar realizando as atividades de forma remota. A diretora conta que em 2020 foi realizada uma enquete para saber a opinião dos pais sobre a volta às aulas presencial, e que 74% não achava que era seguro voltar.
É o caso de Nara Becker, que veio de Santa Catarina para Natal há cerca de um mês, e está procurando escola para suas quatro crianças. Sobre a estrutura para receber os estudantes, Nara demonstra preocupação. “Eu acho que ainda não tá preparada, não. As escolas que eu passei não tinham álcool em gel, teve uma pessoa que me atendeu sem máscara. Ainda falta dar uma organizadinha para receber os alunos, mas eu acho que eles estão se adaptando”, sublinhou.
Entre as outras dificuldades na busca por uma escola, Nara cita o atraso do ano letivo. “Eu observei que o ano letivo de 2020 aqui nem acabou. Lá em Santa Catarina já acabou em dezembro, então eu observei que aqui eles ainda vão concluir o ano de 2020 para começar 2021 ainda em abril”. Mesmo reconhecendo o prejuízo de continuar com o ensino remoto, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (SINTE) acredita que ainda não é o momento para retomar as atividades presenciais.
“Não vemos como iniciar o ano letivo de forma presencial antes da imunização dos(as) profissionais de educação, como também, dos estudantes. Há um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado entre governo do estado e Ministério Público, porém é mera formalidade. O MP não vai poder obrigar a categoria a voltar a trabalhar de forma presencial se não der a garantia de que a Covid-19 não vai ser disseminada. Portanto, as aulas deverão ser retomadas de forma online, sendo consciente, de que continuará o prejuízo sem precedentes para a maioria dos nossos estudantes que não têm as condições estruturais para acompanhar aulas remotas. Pois nem todos dispõem de internet e de espaço físico adequado para ter boas aulas remotas. As secretarias alegam que mais de 90% das escolas aderiram, mas esquecem de informar que há turma, onde aparece na aula remota apenas um aluno. O SINTE e a CNTE, sempre se posicionaram contrário às aulas remotas, por termos clareza das debilidades estruturais dos estudantes e dos(as) profissionais de educação”, contou o coordenador geral do SINTE, José Teixeira.
Segundo o coordenador, se for necessário, existe a possibilidade de uma greve da categoria. “O SINTE sempre está preparado para a luta. Principalmente nesse momento, onde não vamos permitir colocar a vida da nossa categoria em risco”, afirmou.
O que diz o poder público?
Segundo a Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC), o RN está se preparando para seguir as diretrizes definidas no Documento Potiguar, um protocolo de segurança sanitária elaborado pelo Comitê de Educação para Gestão das Ações de Combate à Pandemia da Covid-19, e será utilizado como base para as escolas estaduais.
O protocolo estabelecido pelo Documento Potiguar detalha as medidas práticas para todas os ambientes da escola, e incluem as áreas comuns e de acessos da escola, salas de aula, refeitórios, cozinhas, bibliotecas, setores administrativos, salas de reunião, bebedouros coletivos, banheiros coletivos, parques, salas de jogos e locais de recreação.
Para todos os ambientes, as medidas de segurança em comum são: Uso obrigatório de máscara; Limpeza e higienização dos locais; Manutenção de janelas e portas abertas, e ar condicionado desligado para a ventilação natural; Dispensadores de álcool gel nos locais; Demarcação do piso para manter a distância de 1,5m entre as pessoas e fixação de cartazes informativos necessários à não contaminação com o vírus.
Há também o protocolo para cada ambiente específico, como a aferição da temperatura de como termômetro digital na entrada da escola; Fornecimento de copos, garrafas ou outro utensílio individual à comunidade escolar para evitar a prática de levar a boca ao bebedouro público para beber água; Controle do acesso aos banheiros para respeitar o distanciamento social, entre outras.
As atividades, tanto do estado quanto do município, são planejadas para acontecer de forma híbrida, em que uma parte dos estudantes assistem às aulas presencialmente e a outra parte faz uso de tecnologia e acompanha às aulas de forma remota.
Fonte: Agora RN
Imagem: SECOM/PMN