Estudo mostra nova possibilidade de modificar memórias traumáticas

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O medo é essencial para a sobrevivência pois permite prevenir situações potencialmente perigosas, porém, alguns eventos amedrontadores geram memórias exacerbadas e persistentes que afetam negativamente a vida das pessoas, podendo conduzir ao desenvolvimento de fobias e distúrbios de ansiedade como o estresse pós-traumático.

A extinção é um processo que forma uma memória inibitória que impede a expressão do medo aprendido sem eliminá-lo permanentemente. Assim, abordagens terapêuticas baseadas na extinção são comumente usadas para tratar o estresse pós-traumático. No entanto, essas intervenções nem sempre são efetivas e com a passagem do tempo a memória do trauma volta a tomar conta do comportamento. Por esse motivo, a neurociência busca entender como memórias mal adaptativas podem ser recontextualizadas de forma duradoura.

Novo estudo mostra que uma proteína chamada mTOR (pelo seu nome em inglês mammalian target of rapamycin ou alvo mecanístico da rapamicina), a qual regula o crescimento e a proliferação celular através do controle da síntese de proteínas, é capaz de modular a expressão do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), proteína essencial para manter reprimidas as memórias aversivas. O trabalho, realizado em ratos, demonstra que a evocação da memória de extinção ativa a mTOR na região CA1 do hipocampo dorsal, e comprova que a inibição dessa proteína impede a persistência da memória de extinção, efeito este revertido pela administração de BDNF recombinante.

Segundo Andressa Radiske, primeira autora do artigo, os resultados sugerem que manipulações farmacológicas que modulam a sinalização da mTOR e do BDNF podem ser utilizadas como adjuvantes para melhorar a reelaboração psicoterapêutica do trauma. O trabalho complementa resultados publicados previamente pelo grupo que tiveram grande repercussão na comunidade científica especializada.

Coordenado pelo professor Martín Cammarota, a pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Pesquisa da Memória do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em colaboração com o Instituto de Neurociências Edmond e Lily Safra e o Departamento de Fisiologia da UFRN. Dada a sua relevância, o trabalho foi destacado na capa da edição do mês de janeiro da revista Learning & Memory. Além do professor Cammarota e de Radiske, assinam o artigo as pesquisadoras Maria Carolina Gonzalez e Diana Nôga e as professoras Janine Rossato e Lia Bevilaqua.

Fonte: Agecom/UFRN

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