Covid-19: RN tem 5 casos suspeitos de reinfecção em investigação

Equipe da Sesap realizou entrevista coletiva nesta quinta-feira (10) - Foto: Mariana Ceci

Cinco casos suspeitos de reinfecção por Coronavírus estão em investigação no Rio Grande do Norte. A informação foi repassada pela Secretaria do Estado de Saúde Pública (Sesap) em uma coletiva de imprensa que aconteceu no início da tarde desta quinta-feira (10), na sede da Governadoria do Estado. Na noite da quarta-feira (9), houve a confirmação oficial do primeiro caso de reinfecção pelo vírus no Brasil, de uma paciente de 37 anos, profissional da saúde e residente do município de Natal. Durante a coletiva, profissionais do Estado, do Município e da área de infectologia explicaram mais sobre os critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde para notificar e investigar as possíveis reinfecções, que só podem ser de fato confirmadas a partir do sequenciamento genético do material recolhido através do teste RT-PCR.

“Temos acompanhado vários rumores de pessoas que apresentaram os sintomas em mais de um momento da epidemia. Mas o protocolo que temos para investigação está pautado em o paciente apresentar dois resultados positivos pela técnica RT-PCR em que há detecção do SARS-COV-2“, explicou Alessandra Lucchesi, subcoordenadora de vigilância epidemiológica do Estado. O protocolo foi oficialmente estabelecido pelo Ministério da Saúde no mês de outubro. A recomendação é para que a investigação por reinfecção seja iniciada quando há um intervalo de 90 dias ou mais entre o surgimento dos sintomas. No caso do Rio Grande do Norte, está sendo adotado o intervalo de 60 dias.

O infectologista e chefe do Hospital Giselda Trigueiro, André Prudente, explicou que esse intervalo temporal acontece porque há uma distinção entre uma “reinfecção” e um “recrudescimento” dos sintomas. “Muitas pessoas infectadas pelo Coronavírus podem adoecer, melhorar e, depois de algumas semanas, voltarem a apresentar sintomas. Isso não caracteriza uma reinfecção porque, na maior parte das vezes, isso não é provocado pela ação do vírus, mas pela atuação do nosso próprio sistema imunológico”. Sintomas como dor no corpo por exemplo, que podem desaparecer por completo e voltar a surgir após algumas semanas em determinados pacientes, sinalizam atuação de anticorpos sobre as fibras musculares onde anteriormente havia presença do vírus. “Por isso o intervalo de pelo menos 60 dias entre os episódios sintomáticos é importante, porque já se sabe que as pessoas que apresentaram infecção pelo coronavírus podem ter um teste RT-PCR positivo graças a partículas não-vivas do vírus permaneceram na mucosa do nariz ou da garganta”, destacou.

A confirmação de fato sobre a reinfecção, que prova se a pessoa foi infectada pelo mesmo vírus ou não, só pode ser feita a partir do sequenciamento genético do material coletado através dos testes RT-PCR. Isso porque o exame sorológico vai apresentar apenas os anticorpos que o indivíduo desenvolveu contra a doença. “É importante dizer também que esses anticorpos não necessariamente são protetores. Em algumas doenças, os anticorpos IGG podem ser protetores, como acontece com a catapora. Mas, para algumas outras, como é o caso da Covid-19, isso ainda não foi descoberto”, disse.

No caso da paciente residente em Natal que teve o primeiro resultado confirmado no Brasil a partir do sequenciamento, ela apresentou os primeiros sintomas da doença no mês de junho, quando fez o teste RT-PCR e obteve resultado positivo. Algum tempo depois, voltou a apresentar outros sintomas, e fez um segundo teste, que dessa vez veio negativo. Em outubro, no entanto, os sintomas surgiram mais uma vez, e um novo teste RT-PCR foi feito, dessa vez com resultado positivo. “Foi aí que o processo de investigação foi acionado e confirmado pela Fiocruz no dia de ontem”, afirmou Lucchesi.

A representante da Secretaria Municipal de Saúde, Juliana Araújo, destacou que a paciente não teve quadros graves da doença, e em nenhum momento necessitou de internação. A situação, no entanto, deve servir de alerta para os profissionais da saúde que atuam na ponta do atendimento para identificar os possíveis critérios que se encaixem em um quadro de reinfecção. “Essa confirmação reforça aos profissionais de saúde que estão na rede a recomendação de se sensibilizar para a notificação. O município de Natal, atendendo aos critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde desde o mês de outubro, trabalha com a possibilidade da duplicidade de casos”, disse.

O alerta, segundo as autoridades de saúde, deve servir também para aqueles que já se recuperaram da doença e pensavam ter adquirido imunidade após a recuperação, para que não relaxem nos cuidados necessários para evitar a contaminação pelo vírus.

Ao todo, 9 casos foram notificados no RN. Desses, 5 estão em investigação, 1 foi confirmado, e outros 3 apresentam inviabilidade de amostras para análise. Os casos estão em sua maioria no município de Natal, mas também há registro de uma notificação em Parnamirim e uma em São Gonçalo do Amarante.

Primeiro caso

Em setembro, um caso de reinfecção havia sido confirmado pela Universidade de São Paulo (USP), de um paciente de Ribeirão Preto. A situação, no entanto, aconteceu antes dos critérios oficiais para identificação desses casos terem sido estabelecidos. No caso do paciente em questão, houve um intervalo de 38 dias entre o surgimento dos primeiros sintomas e o retorno deles após uma nova exposição ao vírus e, nas duas situações, foram feitos testes RT-PCR que tiveram resultado positivo. O infectologista André Prudente explicou, no entanto, que esse caso à época anunciado como reinfecção se tratava, na realidade, de mais um caso de ressurgimento dos sintomas. “No caso da USP, ainda não havia critérios definidos sobre o que poderia configurar reinfecção. Aquele caso tinha um intervalo de pouco mais de um mês, e viu-se que ele se tratava de uma recrudescência dos sintomas, não uma reinfecção”, disse.

Crédito da Foto: Mariana Ceci

Fonte: TRIBUNA DO NORTE

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