Da impermanência das coisas

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Engraçado. Quando crianças os adultos nos enchem de manhas. Chamam-nos atenção fazendo caretas, modulando a voz. Usando objetos com sons e cores vibrantes, até que estiquemos as mãos, e ao menor sinal de choro, nos entregam o tão sonhado objeto de desejo. É com o choro que fazemos as primeiras chantagens. Se não temos atenção, largamos o berreiro. Sim, a culpa é dos adultos, porque alguém mesmo já falou Você é culpado por aquilo que cativas. Acho que deveriam ensinar urgentemente às crianças que elas vão perder mais do que ganhar. No máximo, a vida irá barganhar com elas. Irão ganhar dentes, mas logo irão perder.Depois irão ganhar novamente. E novamente perder. Seria mais honesto dizer isso a elas. Ainda não consegui dizer a minha. Porque me tornei adulto.

Uma criança não consegue fazer muita distinção do que lhe pertence. Seja um colo ou uma chupeta, para uma criança o mundo todo é a mesma coisa, e essa coisa é só sua. Crescem e se um dia alguém resolve partir de suas vidas, elas, agora adultas apelam – Seja diante dum túmulo ou de uma canção que lhes fazia lembrar alguém – fazem o que sabem fazer de melhor: elas choram.

Mas isso passa.

Porque nem riso nem o choro são eternos. Sidarta Gautama Buda meditou quarenta e nove dias à sombra de uma figueira para descobri o que até uma criança sabe por instinto.

Assim que percebe que seu brinquedo já não tem mais concerto – ou não os conseguem mais encontrar em canto algum da casa – depois do choro, do trauma, dos pulmões cansados, os olhos perscrutadores logo encontram conforto em outros enigmas, e esquecem até mesmo o porquê estavam chorando há poucos minutos.

Ok – Mas lhes dizem um dia, você cresceu. “Você não pode viver de maneira irresponsável. Largando suas coisas por aí sem planejar seu futuro”. Então, adultos, planejamos o futuro. E descobrimos que na vida terrena das coisas permanentes não há futuro sem a ideia do paraíso, e que só podem chegar lá através da morte e da remissão dos pecados. Os mais infantis os que não suportavam a ideia de esticar o braço por tanto tempo a espera que lhe deem seu brinquedo, atam um cinturão de bombas ao corpo e as detonam. E há aqueles, que escutam que a criança que eles foram ontem se refletem no adulto que é hoje. Que nem as coisas, o mundo, ou as pessoas lhes pertencem ou nunca lhes pertenceram. E fazem o que sabem fazer de melhor. Pagam suas contas, vão para casa ou para a mesa de um bar.

Eles choram.

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