Tecnologia e sustentabilidade

Um estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Peneiras Moleculares (LABPEMOL), do Instituto de Química da UFRN, mostra que é possível transformar resíduos de suco em pó em óxido de grafeno, material que tem atraído cientistas e a indústria da tecnologia por suas características promissoras e variadas possibilidades de uso. A pesquisa foi uma das selecionadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em concorrência nacional.

O projeto, intitulado Síntese eco-friendly de óxido de grafeno reduzido, demonstra um processo sustentável para obtenção do componente. Os pesquisadores desenvolveram a síntese do grafeno utilizando sobras do suco em pó, que são dispensadas durante o procedimento de embalagem do produto nas fábricas. Dessa forma, o estudo garante o reaproveitamento do material, que não teria mais utilidade no processo industrial.

O grafeno é, atualmente, uma tecnologia amplamente aplicada em diversas áreas, e que tem como gargalo o seu alto custo financeiro de produção. “Pensando em fazer a diferença, chegamos à proposta do processo para produção eco-friendly de óxido de grafeno reduzido, originado de um projeto que visava a reinserção de resíduos industriais no mercado através da produção de novos materiais.”, explica a professora Sibele Pergher, coordenadora do projeto e atual pró-reitora de pesquisa da UFRN.

Óxido de grafeno reduzido obtido a partir de resíduos de suco em pó. Projeto eco-friendly visa a reinserção de resíduos industriais no mercado através da produção de novos materiais

Para o desenvolvimento do trabalho, a UFRN conta com parceria com a empresa BQMil, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, que disponibilizou os resíduos a serem utilizados na pesquisa, oriundos da indústria alimentícia. Essa cooperação proporciona a viabilidade do estudo e vislumbra a aplicação prática dos resultados.

O pesquisador Eduardo Rigoti, doutor em Ciência e Engenharia de Materiais, explica que, com os resultados, é possível criar uma alternativa para a empresa geradora do resíduo, agregando valor tecnológico às cadeias produtivas. Para se ter ideia, somente nessa empresa onde os pesquisadores atuaram, 20 toneladas de resíduos são geradas por semana.

Thais Freire, mestranda em Ciências Farmacêuticas e integrante da equipe de pesquisadores, ressalta a relevância da sustentabilidade associada aos resultados da pesquisa: “o óxido de grafeno é, hoje, um dos materiais mais promissores para se obter o grafeno em nível de escala industrial para aplicação tecnológica. Atualmente, no Brasil, já existem plantas-piloto de produção de grafeno que estão localizadas na região centro e sudeste do país. Portanto, a existência de uma proposta de produção amigável ao meio ambiente, e de possibilidade de scale up, é de extrema importância”.

De acordo com a pró-reitora Sibele Pergher, o estudo está na fase de finalização da patente para depósito.

Projeto dos pesquisadores do Laboratório de Peneiras Moleculares da UFRN foi selecionado pelo CNPq em concorrência nacional. Estudo está na fase de finalização da patente para depósito.

Edital

O projeto Síntese eco-friendly de óxido de grafeno reduzido recentemente foi selecionado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), na primeira fase da chamada pública CNPq/ MCTIC/SEMPI Nº 01/2020, que seleciona propostas de pesquisa, desenvolvimento e inovação em empreendimentos e soluções baseados em grafeno.

Na concorrência nacional, participaram 73 projetos, das cinco regiões do país, número considerado elevado pelo CNPq, considerando-se a complexidade do tema. Desses, 30 foram escolhidos. O estudo da UFRN é o único do Rio Grande do Norte e está entre os quatro selecionados do Nordeste.

“O reconhecimento do edital do CNPq nos dá visibilidade, tanto no meio acadêmico como para outras indústrias que geram outros resíduos ou resíduos da mesma natureza. Além disso, nós recebemos incentivo para que a comunidade conheça as pesquisas que são feitas dentro da universidade”, destaca Rigoti.

Para Marcelo Rosado, diretor da BQMIL, empresa parceira da UFRN, ressalta o empenho dos pesquisadores em buscar soluções para problemas ambientais, através de propostas inovadoras. “Essa conquista se torna possível graças ao comprometimento da Academia em oferecer soluções futuras à nossa sociedade. A empresa BQMIL tem o compromisso em desenvolver ciência com o conceito da Economia Circular, e acreditamos que a Quinta Revolução Industrial exigirá uma atitude com comprometimento prioritário em solucionar problemas ambientais. Estamos honrados em saber que o nosso projeto de pesquisa foi selecionado neste edital nacional tão concorrido e de tantas exigências tecnológicas”.

Nessa primeira fase do edital do CNPq, as equipes empreendedoras ou startups terão seis meses para apresentar relatório técnico, plano de negócios e carta de interesse de uma aceleradora ou incubadora. O grupo da UFRN já possui uma startup: a empresa ZeoGlass, incubada na incubadora Tecnatus. Além disso, eles participam do INCT Midas, rede nacional de pesquisadores na área de química para criar oportunidades e solucionar problemas das indústrias através da inovação tecnológica.

Para obter o resultado, os pesquisadores se utilizaram da interdisciplinaridade do projeto, integrando, além da Química, outras áreas de conhecimento e especialidades, como a Engenharia de Produção. O aluno de graduação da UFRN, Pedro Ferreira de Albuquerque Amado Peixoto, é o mais recente integrante do grupo.

Como parte dos objetivos do trabalho, os pesquisadores têm participado de cursos de empreendedorismo focados na aplicabilidade do grafeno. “O incentivo a parcerias vislumbra que, ao final, os resultados possam sair das Universidades e cheguem ao mercado”, salienta Eduardo.

Com a seleção, o trabalho recebeu recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, através do CNPq, para dar continuidade às pesquisas. Conforme o desempenho, a pesquisa pode ser selecionada na próxima fase do edital, em 2021.

Fonte: Agecom/UFRN

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