Pesquisadores da UFRN descobrem nova espécie de raia

Cientistas do Departamento de Botânica e Zoologia da UFRN encontram uma nova espécie de raia em águas brasileiras, a Hypanus berthalutzea. A descoberta foi descrita no artigo Taxonomia integrativa identifica uma nova espécie de raia do gênero Hypanus Rafinesque, 1818 (Dasyatidae, Myliobatiformes) do Atlântico Sudoeste Tropical, publicado no periódico de Biodiversidade Journal of Fish Biology.

Segundo o professor Sérgio Lima, do Laboratório de Ictiologia Sistemática e Evolutiva do Departamento de Botânica e Zoologia, descobertas de novas espécies podem acontecer ao se encontrar uma forma inédita, ainda não catalogada, ou quando elas eram identificadas erroneamente como outra, caso deste trabalho.

“Este estudo mostrou que as raias-prego do Brasil são, na verdade, mais aparentadas com as da África e apresentam diferenças genéticas, morfológicas e ecológicas suficientes da Hypanus americana para justificar a denominação de uma nova espécie”, explica o professor Sérgio, um dos autores do artigo.

A descoberta começou em 2016, na pesquisa de doutorado da primeira autora do estudo, Flávia Petean, do Programa de Pós-Graduação de Sistemática e Evolução da UFRN. Então iniciou-se a coleta de tecidos para análises genéticas, visitas a museus para analisar exemplares fixados e estudos estatísticos de adequabilidade ambiental.

Todas as espécies do gênero Hypanus, distribuídas tanto na costa Atlântica quanto Pacífica das Américas, assim como uma espécie na costa Atlântica da África, foram estudadas. A comparação da morfologia e do DNA dessas raias possibilitou delimitar e identificar a Hypanus berthalutzae.

Hypanus berthalutzae

Com coloração cinza-esverdeada, a raia possui manchas pretas na região dorsal.

Conhecida como raia de pedra, raia manteiga ou raia-prego, ela possui uma coloração cinza-esverdeada com algumas manchas pretas na região dorsal. Em relação a outras espécies, ela também possui algumas diferenças no clásper, órgão intromitente que os machos usam para a reprodução.

É uma espécie endêmica do Brasil e ocorre desde a foz do Rio Amazonas até o Sudeste da costa brasileira, além de algumas ilhas e arquipélagos próximos à costa como Parcel de Manuel Luís, Atol das Rocas e Fernando de Noronha, preferindo ambientes rasos e com alta salinidade. Recém descrita, ainda faltam, de acordo com a Flávia Petean, referências quanto ao estado de conservação da Hypanus berthalutzae.

“Esperamos fornecer informações suficientes para que ela seja avaliada em breve, assim como a maioria das raias desse gênero, que possuem dados insuficientes para a avaliação até o momento. O resultado dessa ausência de dados é que não há planos de manejo direcionados a essas raias e elas podem estar ameaçadas sem que saibamos”, alerta a pesquisadora.

Homenagem

Em seu nome, a nova espécie de raia traz uma homenagem à pesquisadora Bertha Lutz. Bióloga que trabalhava com anfíbios, Bertha foi uma das primeiras cientistas a ser aprovada em um concurso público no país, com importante atuação no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e uma voz ativa na luta pelos direitos das mulheres, especialmente por meio da educação.

“Quando percebemos que iríamos descrever uma nova espécie e escolhermos um nome, não tive dúvidas de que queria homenagear alguma mulher. Bertha Lutz foi quem iniciou o movimento sufragista no Brasil e, se hoje as mulheres podem votar aqui, devemos a ela. Por isso, resolvemos imortalizar seu nome em uma raia para que ela fique conhecida não apenas entre brasileiras e brasileiros, mas também internacionalmente entre cientistas”, conta Flávia Petean.

Também assina o artigo o pesquisador estadunidense Gavin Naylor, da Universidade da Flórida.

Fonte: Agecom/UFRN

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