10 coisas que pessoas autistas querem que os outros saibam sobre elas

No programa de rádio Word of Mouth, da BBC, o escritor Michael Rosen perguntou a Alis Rowe, escritora e empresária britânica, de que maneiras as pessoas autistas vivenciam o mundo de forma diferente.

Rowe, que tem Síndrome de Asperger, diz que todos nós precisamos ter em mente que “o que está na cabeça da outra pessoa não é igual ao que está na sua”.

Segundo ela, é importante entender que cada indivíduo tem sua experiência própria e única de mundo, e essas percepções diferentes podem ajudar todos a se comunicar melhor.

Rowe lista dez desafios que as pessoas do espectro autista enfrentam em situações sociais – e o que as outras pessoas podem fazer para facilitar a comunicação com elas.

1. Cada pessoa autista é diferente, mas pode compartilhar desafios semelhantes

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças em todo o mundo tem algum Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A condição afeta a maneira como as pessoas veem, ouvem, sentem e interagem com o mundo ao seu redor, em diferentes graus.

Pode dificultar o ato de conversar com outras pessoas ou interpretar sinais sociais e, muitas vezes, causa ansiedade.

Várias pessoas /do espectro têm dificuldade de filtrar o barulho de fundo em ambientes mais movimentados.

Assim como na população em geral, algumas pessoas autistas são bastante sociáveis, enquanto outras são mais tímidas e retraídas.

Algumas podem ser incapazes de falar e preferem se comunicar por meio de gestos ou símbolos.

Portanto, embora todas as pessoas do espectro tendam a enfrentar desafios semelhantes, a maneira como a vida delas é afetada pode ser bem diferente.

2. Uma pessoa autista pode achar difícil escutar o que alguém está dizendo quando há outros sons

Pessoas “neurotípicas” – aquelas que não estão no espectro do autismo – são capazes de se concentrar no que as outras estão dizendo durante uma conversa porque seus cérebros bloqueiam automaticamente outros sons.

Mas muitas pessoas autistas têm dificuldade de filtrar os barulhos de fundo, então pode haver vários outros elementos competindo por sua atenção, como o trânsito, uma música ou até mesmo outras pessoas falando.

Ou seja, o simples ato de ouvir o que alguém está dizendo pode ser um grande esforço consciente; é possível que precisem se concentrar bastante e pedir à outra pessoa para repetir o que falou.

3. Podem não entender certas insinuações e nuances que outras pessoas perceberiam

Autistas podem não identificar, por exemplo, como o tom de voz e expressões faciais são capazes de mudar o significado do que alguém está dizendo.

Por isso, são mais propensas a interpretar as coisas literalmente e podem ter dificuldade de entender sarcasmo, metáforas ou expressões incomuns.

No entanto, é importante não supor automaticamente que uma pessoa autista não vai entender uma conversa cheia de nuances – algumas podem aprender a identificar esses sinais, mas não é fácil.

4. Contextualizar pode ajudar bastante

Compreender o significado por trás do que as pessoas estão dizendo pode ser um desafio para quem está no espectro autista. Portanto, oferecer algum contexto é crucial.

Alis Rowe dá um exemplo: se você visse um pintarroxo na praia de Brighton, no sul da Inglaterra, e gritasse: ‘Uau, olha aquele pássaro!’, alguém com autismo pode ter dificuldade de entender o que há de tão extraordinário nele.

Mas, se você acrescentar: ‘Que estranho ver um pintarroxo no litoral’, eles vão entender mais facilmente o que você quis dizer.

5. Quem é autista pode ter dificuldade em saber quando falar com outras pessoas

Como as pessoas autistas têm mais dificuldade em interpretar o comportamento e a linguagem corporal dos outros, elas podem não conseguir identificar quando é apropriado iniciar, terminar ou entrar em uma conversa.

Convidá-las a contribuir para uma discussão e fazer perguntas diretas pode ajudar.

6. Autistas podem soar diferente quando falam

 

Para muitas pessoas do espectro, falar exige uma reflexão cuidadosa. Elas podem dizer as coisas lentamente, gaguejar, falar com uma voz monocórdica, enfatizar partes incomuns de uma frase ou entrar em maiores detalhes.

Como não estão familiarizadas com esses padrões de fala, as pessoas neurotípicas às vezes tendem a se desligar da conversa ou não compreendem o que está sendo dito.

Portanto, é muito importante dar espaço para que uma pessoa autista fale, além de ouvir com atenção o que ela está dizendo.

7. Para autistas, socializar pode ser mais difícil do que parece

Indivíduos autistas de alto funcionamento (em que a pessoa tem habilidades cognitivas acima da média em comparação com outros autistas) podem se tornar muito bons em imitar certas habilidades sociais.

Mas embora pareçam estar socializando alegremente, trata-se na verdade de um grande esforço.

Colocar os pensamentos na forma de mensagem de texto ou e-mail pode oferecer uma maneira menos estressante de manter uma conversa.

8. Autistas podem não expressar emoções da maneira que os outros esperam

 

Pessoas autistas podem comunicar suas emoções de maneira diferente ou reagir inesperadamente a certos acontecimentos por causa de outras questões com as quais estão lidando.

Por exemplo, Alis diz que quando tirou notas boas e conseguiu uma vaga na universidade, todos esperavam que ela fosse ficar feliz. Mas, na verdade, ela ficou preocupada porque isso significava sair de casa e mudar sua rotina.

Às vezes, as pessoas autistas sentem as coisas de maneira especialmente forte e podem ter dificuldade de encontrar palavras para expressar suas emoções. Perguntas claras podem ajudar.

9. Autistas podem repetir coisas

 

Há vários motivos pelos quais alguém do espectro pode repetir uma palavra ou frase: podem querer mostrar à outra pessoa que registraram o que ela acabou de dizer, mas, como não conseguem responder imediatamente, usam a repetição como tática para ganhar tempo para pensar.

Também podem estar ansiosos.

Ou podem sentir que uma pergunta que fizeram ainda não foi respondida satisfatoriamente.

10. Escrever pode ser uma maneira útil de se comunicar

 

Para alguém do espectro autista, redigir suas ideias em uma mensagem de texto ou e-mail pode ser uma maneira menos estressante de desenvolver uma conversa.

Isso permite ter tempo para digerir as mensagens, refletir sobre o conteúdo e preparar uma resposta sem a pressão de responder imediatamente.

Além disso, pode ser mais fácil entender o que a outra pessoa quer dizer sem todos os sinais sociais adicionais atrelados a uma conversa ao vivo.

Por outro lado, pessoas autistas podem ter dificuldade de falar no telefone, uma vez que há a expectativa de que sejam capazes de responder rapidamente, e pode haver ruídos ao fundo que podem ser um fator de distração.

Fonte: BBC News Brasil

Imagem: iStock

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