Gatos contraem e transmitem Covid-19, mas adoecem pouco, sugere estudo

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O caso médico de um gato atendido num hospital veterinário na Catalunha, na Espanha, traz novas evidências de que os felinos domésticos contraem e transmitem o novo coronavírus, mas adoecem pouco de Covid-19. O animal, cujo dono havia morrido da doença, foi recebido com graves problemas respiratórios e sofreu eutanásia para prevenir dor e sofrimento.

Por ser uma das primeiras suspeitas de problemas respiratórios graves, o corpo do animal acabou sendo encaminhado para necrópsia em um laboratório de alta segurança. O resultado do procedimento foi descrito nesta sexta-feira (18) em um estudo publicado pela revista científica PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. No artigo, os cientistas descrevem a história de Negrito, um gato persa mesclado com gato europeu comum, de quatro anos de idade.

Quando ele chegou ao Centro de Pesquisa em Saúde Animal de Barcelona (Irta-Cresa), os cientistas logo constaram que, de fato, o animal tinha sido infectado pelo Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19. O que acabou matando o felino, porém, foi uma “cardiomiopatia hipertrófica”, doença caracterizada por um inchaço do coração que compromete seus movimentos.

O problema, segundo os cientistas, não estava relacionado ao coronavírus, mesmo tendo evoluído para edema pulmonar e trombose.

“Não se encontrou nenhuma evidência de pneumonia viral, e nenhum Sars-CoV-2 foi detectado no pulmão”, escrevem os cientistas, liderados por Joaquim Segalés. No tecido cardíaco de Negrito e outros órgãos danificados do animal também não havia presença do vírus, que se apresentou no organismo apenas de forma superficial, no focinho e nas vias aéreas superiores.

A constatação da infecção, porém, é fruto de preocupação, afirmam os pesquisadores, porque não está claro qual seu papel no núcleo de transmissão de Covid-19 em que ele vivia. Após o dono de Negrito morrer de Covid-19, o gato foi adotado por familiares do espanhol, que moravam em outra casa, todos os quais também diagnosticados com o coronavírus.

Zoonose reversa

Segundo os pesquisadores, não está claro se Negrito teve algum papel na disseminação da doença. Casos suspeitos de “zoonose reversa”, em que o patógeno é transmitido de humanos para animais, são menos bem estudados na literatura científica do que episódios comuns de zoonose, de animais para humanos.

Os cientistas do Irta-Cresa fizeram uma busca de outros trabalhos e levantaram apenas casos confirmados de zoonose reversa em quatro cães, seis gatos, oito grandes felinos de zoológico (cinco tigres e seis leões) e algumas doninhas em fazendas de pele.

Pela proximidade que gatos têm, e por sua presença comum em habitações pequenas no mundo inteiro, porém, os cientistas acreditam que é preciso entender melhor a dinâmica da Covid-19 na relação entre felinos e humanos.

“Como a susceptibilidade de gatos domésticos está agora bem estabelecida, são necessários estudos amplos sobre a prevalência do Sars-CoV-2 nesses animais para entender com precisão o papel dessa espécie na pandemia da Covid-19”, escrevem Segalés e colegas.

“Apesar de ser ser altamente especulativa a possibilidade de o Sars-Cov-2 agravar doenças pré-existentes em gatos e outros animais, seria importante certificar se isso pode ocorrer.”

O caso de Negrito chegou a ser noticiado pela imprensa local da Catalunha em maio como o primeiro gato do país diagnosticado por Covid-19. Só agora, porém, com um estudo já submetido a revisão independente, fica esclarecido que não foi o vírus que matou o animal. Uma boa notícia trazida pelos cientistas é que Whisky, o companheiro de apartamento de Negrito, passa bem e aparentemente não chegou a contrair o patógeno.

No estudo, os pesquisadores agradecem às últimas donas do gato, Esther e Carla Zamora, por terem doado o corpo do felino à ciência.

Fonte: O Globo

Imagem: iStock

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