Para diminuir o impacto da pandemia sobre a defasagem de aprendizado entre os estudantes da rede pública de ensino, os alunos do terceiro ano terão aulas com os conteúdos cobrados nas provas do Enem pela televisão aberta. Para garantir a produção e exibição do material, o Governo do Estado vai lançar na próxima semana um edital para que as emissoras de TV concorram. Vence aquela que oferecer menor preço, incluindo no pacote a produção e exibição dos vídeos.
A governadora Fátima Bezerra (PT) anunciou dia 8 de setembro que as aulas presenciais na rede pública só retornarão em 2021. Quase 18 mil estudantes de escolas públicas farão Enem no Rio Grande do Norte.
As aulas irão ao ar todos os dias, de segunda à domingo, em horários de menor audiência. Será uma das poucas alternativas para estudantes como Fernanda Alves de Oliveira, de 18 anos. Ela terminaria o 3º ano do segundo grau em 2020, mas com a suspensão das aulas por causa da pandemia do novo Coronavírus, não teve acesso ao conteúdo das disciplinas que serão cobradas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio.
“Nesse momento só estamos tendo aula de geografia e inglês. Desde a pandemia tivemos ciclos de aulas, mas de maneira irregular, nunca houve aula de todas as disciplinas. É preocupante porque não me sinto capacitada pra fazer a prova do Enem, apesar de todo o apoio dos professores e, agora, nós só vamos ter aula no ano que vem. Esse assunto vale um bom debate”, desabafa a estudante da Escola Estadual Francisco Ivo Cavalcanti.
O acesso aos conteúdos disponibilizados pelos professores se torna ainda mais difícil porque Fernanda, assim como boa parte da turma dela, não tem celular nem computador. Pra acompanhar as poucas disciplinas, só pelo telefone do pai ou do namorado. Segundo o Secretário Estadual de Educação, Getúlio Marques, para resolver essa questão é preciso adquirir equipamentos e tecnologia. Processo que está em fase inicial de levantamento de preços, sem data para concretização.
“Estamos estudando as possibilidades e conversando com instituições. É preciso saber quais tecnologias e equipamentos são necessários. Às vezes o estudante não tem acesso à internet, mas às vezes ele não tem nem o equipamento. Vamos aproveitar essa situação para melhorar o sistema de ensino para o ano que vem, quando o sistema híbrido deverá prevalecer”, planeja.
Difícil vai ser conseguir acompanhar tanto conteúdo em um espaço de tempo tão curto. As provas do Enem estão marcadas para os dias 17 e 24 de janeiro, no caso da versão impressa e 31 de janeiro e 7 de fevereiro, no caso da versão digital.
Os resultados estão programados para sair em 29 de março. Para a direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, as provas do exame deveriam ser remarcadas para não prejudicar os estudantes das escolas públicas.
“Defendemos que o ENEM só aconteça quando as escolas públicas tiverem finalizado seu ano letivo. Infelizmente esse não é o entendimento do governo federal. Uma coisa é certa, a desigualdade já presente nas seleções vai ser ampliada, com maior desvantagem pra quem estuda na escola pública. Segunda a PNAD/IBGE, 40% dos estudantes do RN não tiveram nenhum tipo de aula remota”, critica Bruno Vital, coordenador Geral do Sinte RN.
IFRN
Além dos alunos do 3.º ano, os estudantes que fazem o 9.º ano do primeiro grau e vão participar da seleção para o IFRN também estão se sentindo prejudicados. Durante esse período, 82% das 600 escolas optaram pelo ensino remoto, mas sem a cobrança de avaliações, já que nem todo mundo tem como acompanhar as aulas virtuais.
Os vídeos podem ser vistos no site do Sigeduc, restrito a estudantes e professores, ou no aplicativo EducaRN em Ação, que pode ser baixado por qualquer pessoa, em todos os modelos de celular. A iniciativa positiva, porém, não foi suficiente pra atender à demanda.
“No início até que tínhamos mais aulas, mas elas foram diminuindo com o tempo”, avalia a estudante Fernanda Alves.
Segundo Getúlio Marques, 75% dos alunos assistiram às aulas virtuais, mas apenas 50% dos estudantes participaram de forma efetiva, respondendo aos exercícios e interagindo com os professores.
“Queremos buscar esses alunos, saber o que está acontecendo. Na próxima quarta teremos uma melhoria na plataforma da Unesco do Busca Ativa, que localiza o aluno por georeferenciamento. Vamos fazer o diagnóstico, avaliação emocional, juntar os estudantes em grupos diferentes, com estratégias diferentes de acordo com as necessidades de cada um, respeitar os estudantes em atraso para ministrar os conteúdos. Teremos 4 meses de agora com os 10 meses do próximo ano”, planeja o secretário.
Para assistir às aulas virtuais:
Sigeduc (apenas para alunos e professores): https://sigeduc.rn.gov.br/sigeduc/verTelaLogin.do
Aplicativo EducaRN em Ação: Disponível para baixar na play store do celular
Fonte: Agência Saiba Mais
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