Um produto líquido, que adiciona capacidade de resistência à radiação ultravioleta, além de propriedade luminescentes, quando aplicado na superfície de tecidos, papel, plásticos, cerâmicas, tintas e fibras, é fruto de um estudo vinculado aos programas de pós-graduação em Engenharia Mecânica (PPGEM) e em Engenharia Têxtil (PPGET) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Cientista envolvido na descoberta científica, José Heriberto Oliveira do Nascimento destaca que a invenção tem potencial para beneficiar a saúde humana, ao proteger a pele da agressão das radiações UVA e UVB, além de benefícios estéticos.
“A característica multifuncional deste material desenvolvido pelo grupo faz com que ele tenha uma caraterística diferenciada que permite ser utilizado em diferentes tipos de materiais têxteis e poliméricos, naturais, sintéticos ou regenerados. Cientificamente, falamos que ele adere às superfícies tanto catiônicas quanto aniônica. Podem ser aplicados por diferentes métodos, como spray, processos de tingimento e estamparia têxtil, além de impressão digital”, colocou o docente do Departamento de Engenharia Têxtil. Heriberto listou ainda algumas características do produto que tornam sua viabilidade e importância realçadas: fácil aplicação, excelente adesão nas superfícies, ecológico e não tóxico, diferente dos corantes e pigmentos florescentes existentes hoje. Além disso, acrescenta às superfícies dos materiais uma luminescência e proteção à radiação únicas.
Ele acrescentou que “os agentes de proteção UV aplicados em roupas, plásticos e tintas, em sua maioria, não apresentam essas propriedades conjuntas”. Já comprovada, a exposição prolongada à radiação ultravioleta (UV) proveniente do sol pode resultar em uma série de problemas de pele, tais como aceleração do envelhecimento, queimaduras, manchas e câncer de pele. Neste contexto, o uso de produtos têxteis com propriedades anti UV se tornou uma alternativa prática e eficiente na proteção a radiação solar. Um dos três pesquisadores envolvidos na invenção, Brenno Henrique Silva Felipe situou que a descoberta carrega consigo um produto tecnológico que impede a penetração de 99% de radiação UVA e UVB, classificando-o com UPF 50+ excelente, conforme a norma australiana de sistema de classificação.
“É importante notar que a radiação UVA é a principal causadora da diminuição da resposta imunológica das células epiteliais, enquanto que a UVB está intimamente ligada ao câncer de pele. Além disto as cores apresentam maior resistência a radiação UV, principalmente as cores complexas como as florescentes, que são derivadas de corantes ou pigmentos tóxicos e altamente poluentes”, expôs o doutorando do PPGEM. O estudante diz ainda que o grupo já tem o domínio da síntese do produto, com parâmetros sendo otimizados há dois anos.
Inclusive, os cientistas estão estudando a existência de outras propriedades, como bactericidas e relativas à combustão. Neste sentido, José Heriberto disse que atualmente a equipe está finalizando os testes de outras propriedades que vão além destas patenteadas, com a utilização de vários métodos em laboratório que simulam escala industrial. “Acredito que muito breve, podemos fazer um teste numa indústria”, colocou. O produto resultou em um depósito de pedido de patente denominado “produto anti-uv e luminescente nanotecnológico para acabamentos funcionais em materiais têxteis”.
Rivaldo Leonn Bezerra Cabral, terceiro autor, somou algumas informações da patente a partir do fato de que a base da invenção está na utilização de pontos quânticos de grafeno dopado – com características modificadas – e não dopado. “Esses pontos são nanopartículas caracterizadas por possuírem propriedades eletrônicas responsáveis por tornar a superfície dos materiais coloridas, brilhantes e luminescentes, com um elevado fator de proteção ultravioleta, pois protege contra radiações UVA, UVB e UVC, e sua utilização dificultando a falsificação destes materiais. De mais a mais, o material patenteado apresenta várias tonalidades, ou gradientes, de cores, de tamanhos e de fatores de proteção, inclusive classificado como excelentes”.
O que é uma patente?
Patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores, autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Assim, é o primeiro passo para garantir direitos de comercialização exclusiva, por um determinado período, de uma nova invenção com aplicação industrial.
Na UFRN, a Agência de Inovação (AGIR) é responsável pela orientação aos inventores quanto aos procedimentos e requisitos de patenteabilidade dos resultados das pesquisas realizadas, bem como sobre aspectos da própria gestão da propriedade intelectual. Esta é a 20ª patente depositada pela UFRN em 2020, aproximando-se dos 31 pedidos, número recorde da Universidade registrado nos anos de 2015, 2017 e 2019.
Segundo o diretor da Agência de Inovação, Daniel de Lima Pontes, embora a pandemia, a tendência é que em 2020 os números se repitam ou até aumentem, já que no ano passado observou-se um aumento na celeridade das análises dos pedidos por parte do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Os pedidos de patentes e as concessões já realizadas podem ser acessadas através do endereço www.agir.ufrn.br, mesmo local em que os interessados obtém informações a respeito do processo de licenciamento. O diretor da AGIR esclareceu que a Agência está realizando atendimento e dando andamento aos depósitos de pedido de patente através do e-mail [email protected].
Fonte: Agecom/UFRN