O lugar-comum, também conhecido como clichê, é a frase ou combinação de palavras que se torna desgastada pela repetição excessiva e perde a força original. Muitas vezes, por simples desconhecimento de que estão sendo usadas expressões ou ideias extremamente comuns, empregam-se certas construções que já perderam toda a capacidade de exprimir algo com maior precisão.
Essas fórmulas gastas de construção podem até servir para tornar os textos mais fáceis de ser lidos ou aceitos por leitores pouco criteriosos, mas certamente demonstram que o texto em que aparecem não se destaca pela qualidade.
O clichê deve ser evitado, pois transmite a quem lê uma ideia de texto superado, envelhecido e, o que é pior, sem imaginação. Nem sempre, porém, o lugar-comum tem origem remota: há casos de clichês recentes, difundidos principalmente pela televisão e pelas redes sociais, que são adotados por quem escreve.
Entre os chavões mais frequentes, estão as locuções e combinações invariáveis de palavras (sempre as mesmas, na mesma ordem) que também comprometem o texto. É o caso das frases feitas que, embora originárias da linguagem popular (dar a volta por cima, por exemplo), terminam por se repetir à exaustão, produzindo o mesmo efeito do lugar-comum. Vejamos o que vem a seguir. Os termos destacados se enquadram entre os clichês e, de tão vazios, não dizem nada. Vejamos se você já ouviu ou escreveu algo parecido. Será mera coincidência?
Para “dar o pontapé inicial” neste texto e evitar “uma amarga decepção”, é melhor “acertar os ponteiros”, pois quem está a fim de “agradar a gregos e troianos” tem de “atingir em cheio o objetivo” e aceitar “as críticas construtivas”. Até porque, “mais do que nunca”, “hoje em dia” não se pode ter “a doce esperança” de “cantar vitória antes da hora”. “Afinal de contas”, “no apagar das luzes”, sempre há alguém que quer “correr por fora”. Não é por se tratar de um assunto “que dispensa apresentações”, “conhecido do Oiapoque ao Chuí”, que vamos “entregar de mão beijada”. Tudo bem que não vamos “guardar a sete chaves”, mas não se pode “deixar a desejar”.
“Depois de um longo e tenebroso inverno”, é melhor ficar “em ponto de bala” e seguir “de vento em popa”, pois, “na hora da verdade”, quem não está “inserido no contexto” não vai “encontrar seu lugar ao sol”. Mesmo que seja “uma lenda viva”, seu “leque de opções” não se abrirá e, então, “quem nasceu para brilhar” vai perder “o bonde da história”. “Sem poder de fogo”, não dá para “pôr a casa em ordem”. Assim, é preciso “pôr a mão na massa” e “pôr as barbas de molho”, além de “pôr as cartas na mesa”, é claro. O sucesso, “propriamente dito”, não vem para quem “foge da raia”.
Portanto, é melhor “bater em retirada”, pois não se sabe se tudo vai “cair como uma luva” ou “cair como uma bomba”. O importante é que possamos “chegar a um denominador comum”, mesmo que seja com “a rapidez de um raio”, para “colocar os pingos no is” ou “colocar um ponto final”. É hora de “contabilizar as perdas”. Não dá mais para “dirimir dúvidas”, mas não se deve “dizer cobras e lagartos”. É melhor “encerrar com chave de ouro” e “em sã consciência” do que “arrebentar a boca do balão”.
Para finalizar um recado: o que é escrito sem esforço é lido sem prazer. Os chavões envelhecem o texto. Ideias prontas, imagens e comparações corriqueiras não produzem a menor impressão artística. Livre-se delas. O texto agradece. O leitor retribui. Afinal o que importa é que não se diga: “Estão pasmados, não respondem mais, faltam-lhes as palavras”, conforme Jó 32,15.
João Maria de Lima é mestre em Letras e professor de língua portuguesa e redação há mais de 20 anos.
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