Armazenar energia, multiplicar a eficácia

Uma nova tecnologia, sob a forma de pó, é a mais recente descoberta científica realizada no âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e que tem alto potencial para ser usada como eletrodos – ou polos condutores de corrente elétrica – para armazenamento de energia. Denominado Síntese verde de óxidos metálicos usando chia (salvia hispanica l.) como precursor orgânico, o estudo rendeu um depósito de pedido de patente e está envolto em um contexto no qual, devido à crescente demanda energética e ao aumento da escassez de recursos energéticos naturais, o mundo está se preparando para uma era de aumento dos custos de energia. Como ‘antídoto’, a utilização de energia de fontes renováveis e a forma como armazená-la tornou-se um foco de pesquisas entre a comunidade científica.

“O foco desta inovação é a criação de um processo para a produção de nanopartículas de óxidos metálicos (NiO), via síntese verde usando chia (salvia hispanica l.) como precursor orgânico, atuando como agente quelante e polimerizante, ou seja, capazes de formar complexos hidrossolúveis. O NiO e seus compósitos são amplamente utilizados em dispositivos de armazenamento de energia”, colocou Jakeline Raiane Dora dos Santos, vinculada ao programa de Pós-graduação de Ciência e Engenharia de Materiais (PPGCEM) da UFRN, doutoranda orientada pelo professor Uilame Umbelino Gomes.

Fluxograma do processo de obtenção de nanopartículas de óxidos metálicos através da síntese verde.

Além deles, fazem parte ainda do grupo de cientistas autores do pedido de patente os pesquisadores Luciena dos Santos Ferreira, Thayse Ricardo da Silva e Daniel Araújo de Macedo, estes últimos do programa de Pós-graduação de Ciência e Engenharia de Materiais (PPCEM) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – instituição cotitular da pesquisa.

Para o grupo, o armazenamento de energia é um dos pontos chave da utilização de fontes de energia limpa. Então, é um desafio o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento para melhorar a eficiência dos sistemas de suprimento em momentos de alta demanda, armazenando a energia quando em excesso e liberando-a em uma variedade de escalas de tempo.

A chia sendo processada para originar os materiais cristalinos na forma de pó.

Os pesquisadores destacam que, diante deste cenário, vem se  desenvolvendo síntese de óxidos metálicos como materiais para eletrodos, por ser um material que tem se destacado por ter baixo custo, alta estabilidade química e térmica, estar em abundância na natureza e alta capacitância específica teórica em uma janela potencial de 0,5 V. O resultante deste novo processo é conseguido após cinco etapas, as quais incluem mistura de reagentes, formação do gel, secagem, maceração e calcinação, originando os materiais cristalinos na forma de pó.

O professor Umbelino Gomes identificou que os pós obtidos são de alta pureza, pouco aglomerados ou de fácil desaglomeração, têm boa homogeneidade química e estreita distribuição de tamanho de partícula. Essas ‘peculiaridades’ são obtidas a partir de sínteses baseadas em reações químicas a baixas temperaturas, situações que estão atraindo cada vez mais a atenção dos pesquisadores.

O pó obtido é de alta pureza, tem boa homogeneidade química e estreita distribuição de tamanho de partícula.

“Estas características dos materiais particulados proporcionam maior flexibilidade de processamento e controle microestrutural e elétrico dos materiais cerâmicos. Os pós obtidos por esta rota de síntese verde podem ser usados em aplicações como sistemas de armazenamento ou conversão de energia, catálise, sensores, aplicações biomédicas e científico-tecnológicas tal como ciência e engenharia de materiais”, listou Umbelino Gomes.

Para o diretor da Agência de Inovação (AGIR) da UFRN, Daniel de Lima Pontes, este depósito de pedido de patente é um exemplo de criação de produtos e processos que ajudam no desenvolvimento econômico do país e regional. “É também uma espécie de  utilização dos resultados encontrados nas pesquisas científicas que geram produtos que atendem a demanda de um mercado específico, um mercado grande. Na UFRN, temos uma vitrine tecnológica com mais de 200 pedidos de patente que podem ser fruto de  parcerias público-privadas, por exemplo, na qual os investidores podem ter vários benefícios ao associar-se à universidade, como o know-how e a expertise que nós detemos em vários âmbitos”, afirmou Daniel Pontes.

Os pedidos de patentes e as concessões já realizadas podem ser acessadas através do endereço www.agir.ufrn.br, mesmo local em que os interessados obtêm informações a respeito do processo de licenciamento. O diretor da AGIR esclareceu que, mesmo durante a pandemia, a Agência está realizando atendimento e dando andamento aos depósitos de pedido de patente.

Fonte: Agir/UFRN

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