Novo produto contra obesidade

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) deu início ao processo de patenteamento de um novo produto farmacêutico, substância que se apresenta como uma nova alternativa para tratamentos antiobesidade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), houve um aumento de 67,8% no índice de obesos pelo mundo nos últimos treze anos, saindo de 11,8%, em 2006, para 19,8%, em 2018. No Brasil, mais da metade da população encontra-se acima do peso, situação apontada atualmente como um dos agravantes nos casos de contágio pelo novo coronavírus.

A descoberta científica possui atividades farmacológicas importantes, como ação anti-inflamatória, antimicrobiana, antioxidante e antiaterosclerótica. Coordenador do grupo envolvido no pedido de patente, o professor Ádley Antonini Neves de Lima, afirma que todas estas atividades são ainda mais pronunciadas com a inclusão das ciclodextrinas.

O dispositivo patenteado é um complexo de inclusão com ciclodextrinas naturais e derivadas, com a mistura binária de alfa, beta-amirenona, uma substância natural, obtida a partir do Breu branco, planta encontrada na região Amazônica. “Durante o desenvolvimento, conseguimos a melhoria de vários aspectos desta nova substância natural, como por exemplo, sua solubilidade em água, que é fundamental para o desenvolvimento de novos medicamentos, e o aumento da sua atividade antiobesidade, inibindo a ação da enzima lipase e reduzindo o peso corporal em animais”, pontuou o docente do Departamento de Farmácia.

Ao lado dos cientistas Luana Carvalho de Oliveira, Valdir Florêncio da Veiga Junior e Emerson Silva Lima, Ádley depositou o pedido de patente denominado Complexos do Triterpeno alfa, beta-amirenona com aumento da atividade antiobesidade, em cotitularidade da UFRN com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). No documento que embasa o pedido, o grupo indica a utilização do novo sistema para aplicação junto a formulações para uso na terapêutica, cosmética ou para utilização em suplementos alimentares.

O produto, na forma de pós, em diferentes proporções entre a alfa, beta-amirenona e ciclodextrinas. Foto: Luana Carvalho

Vinculado ao grupo de pesquisa Inovação em Fármacos e Medicamentos (INOFARM) e ao  Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), onde Luana de Oliveira desenvolve seu mestrado, o produto nasceu sob a forma de pó, sendo testado em laboratório e obtendo uma inibição da enzima lipase em torno de 90%, índice superior às alternativas existentes atualmente.

“Este resultado aponta para um enorme potencial de redução de obesidade e de peso, onde a alfa, beta-amirenona já foi testada em camundongos e foi observada uma redução significativa no peso dos animais. Vamos testar agora nosso produto, comparando esta redução no peso dos animais com o objetivo de aumentar ainda mais esta ação antiobesidade, com redução mais significativa do peso corporal”, colocou o professor Ádley, que atualmente também coordena o INOVARM.

Embora saliente que a busca por novos fármacos é um processo complexo, ele fez questão de frisar ainda que, com o desenrolar do estudo, a intenção é colocar no mercado um novo medicamento que melhore a qualidade de vida das pessoas, principalmente as que têm sobrepeso e sofrem com algumas comorbidades associadas, como hipertensão e cardiopatias.

O objeto escuro é o Breu branco, de onde é extraída a substância natural objeto do pedido de patente, que está no centro. Foto: Érico Xavier

Ádley acrescentou que o estudo conta com a participação do professor Euzébio Guimarães Barbosa, da UFRN, com estudos teóricos computacionais – in sílico -, além dos já citados docentes Emerson Silva Lima e Valdir Florêncio da Veiga Júnior, que contribuem na síntese e fornecimento da substância natural, bem como em ensaios biológicos e fitoquímicos.

A UFRN mantém atualmente um portfólio com mais de 250 pedidos de patentes, dos quais 22 já foram concedidos. Este último número, inclusive, garante à Universidade a liderança nas regiões Norte e Nordeste em termos de instituições de ensino.

Dentro da Universidade, a Agência de Inovação (AGIR) é a unidade responsável pela avaliação dos requisitos de patenteabilidade, tais quais a novidade, capacidade inventiva, aplicação industrial e suficiência descritiva. Não obstante o período de pandemia, as demandas dentro da Agência de Inovação continuam sendo recebidas pela equipe através do e-mail patente@agir.ufrn.br.

Embora pontue que é importante que os pesquisadores saibam reconhecer as características de um invento patenteável, Daniel Pontes frisou que a Agência de Inovação propicia esse suporte aos cientistas, bem como trabalha também na transferência dessa tecnologia, pois “a ideia é levar ao setor produtivo e à sociedade, o conhecimento que desenvolvemos na academia”.

Fonte: Agecom/UFRN

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