Quem fuma tem chance maior de sofrer com sintomas graves da Covid-19 – este estudo americano, por exemplo, mostrou que o número de jovens com risco elevado de enfrentar complicações severas da doença é duas vezes maior graças ao tabagismo. Apesar dessa relação, cientistas têm pistas de que uma planta parente do tabaco pode ser uma alternativa para a criação de uma vacina contra o novo coronavírus, que já infectou mais de 13 milhões de pessoas por todo o mundo.
Tradicionalmente, os componentes básicos usados em vacinas não têm origem vegetal. Funciona assim: quando cientistas suspeitam que uma determinada molécula pode servir de base para uma vacina ou medicamento, a forma como eles fazem para produzi-la é estimular culturas de células de animais (ou, quando possível, bactérias ou fungos) a fabricar a substância. Assim, pesquisadores conseguem obter, a um custo relativamente baixo, o material necessário para os testes. Faltou matéria-prima? É só colocar essas estruturas microscópicas para trabalhar mais e repor o estoque. É o que os cientistas chamam de “biofábricas”.
Mas, nos últimos anos, cientistas do mundo todo vêm investindo em plantas geneticamente modificadas como formas alternativas de garantir a produção de vacinas. Essa é, há mais de duas décadas, a aposta da Medicago, empresa bioquímica baseada em Quebec, no Canadá, que iniciou na última segunda-feira (13) os primeiros testes com humanos de uma vacina para Covid-19. Participarão do estudo 180 pacientes saudáveis com idade entre 18 e 55 anos.
A novidade é que a produção da candidata a vacina é baseada na Nicotiana benthamiana, ou tabaco selvagem, planta nativa da Austrália e “prima” da espécie de tabaco que serve à produção de cigarros e charutos, a Nicotiana tabacum. Você pode ver uma foto da N. benthamiana abaixo (crédito: reprodução/Creative Commons)
Assim, a N. benthamiana transgênica se torna uma produtora de matéria-prima para a fabricação de vacinas contra o novo coronavírus. Uma vacina, afinal, serve para carregar pedaços de vírus inativos (ou proteínas que se parecem com vírus, no caso) para dentro do corpo de uma pessoa. Quando esse material é injetado em um paciente, seu sistema imune reconhece a ameaça e passa a produzir defesas contra o potencial invasor. Se a pessoa imunizada tiver contato com o vírus no futuro, seu organismo já saberá se defender – e ela não ficará doente.
Anticorpos criados a partir de plantas de tabaco já se mostraram promissores no combate de vírus como o HIV e o ebola. No caso do novo coronavírus, a Medicago afirma que uma única dose da vacina se mostrou capaz de aumentar drasticamente o número de anticorpos – os soldados de defesa que o corpo produz para combater o invasor. Se os resultados preliminares forem confirmados em humanos, a vacina deve passar, ainda, por novos testes em outubro. A ideia da Medicago é produzir 100 milhões de doses até o fim de 2021.
Segundo explicam pesquisadores da Universidade de Londres neste artigo para o site The Conversation, variedades de tabaco se tornaram a versão vegetal “dos ratos de laboratório”. Fáceis de serem modificadas geneticamente, tais plantas têm a vantagem de crescerem rápido, produzindo folhas largas. Tudo isso, por tabela, aumenta a produtividade – um fator que pode ajudar a acelerar o acesso de uma maior parte da população mundial à vacina no futuro.
Além da Medicago, há outras empresas investindo na produção de uma vacina com base em tabaco. A inglesa British American Tobacco, maior empresa de tabaco do planeta, anunciou no início de abril os planos de produzir até três milhões de doses de uma vacina feita a partir da planta. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), existem pelo mundo, hoje, 23 candidatas a vacinas contra Covid-19 que já chegaram à fase de testes em humanos.
Fonte: Revista Superinteressante
Imagem: Tomaz Silva