A música é um dos meios culturais que mais agregam e difunde interação social à sociedade, por sua comodidade em poder aprecia o som mesmo estando realizando outras atividades, é um atrativo singular, para entreter, relaxar, educar e até mesmo politizar seu público. E desde de muito antes dos meios de comunicação serem acessíveis e criados por seus fundadores, artistas já produziam e compartilhavam seus pensamentos em forma de letras, melodias e harmonias ritmadas, introduzindo a população uma nova perspectiva para pensar e se comunicar.
“A arte em si é um ato político, mesmo que não seja o tema da letra. Artistas estão sempre procurando espaços para ocupar e nadando contra a maré do capitalismo para manterem as contas pagas de alguma maneira. O músico que diz não misturar arte e política já está se contradizendo na essência daquilo que faz”, comentou a jornalista e produtora cultura Cá Tavares sobre esse assunto peculiar e bastante controverso entre artistas, produtores e o público.
Entre os comentários, um dizia o seguinte; “Eu era um fã até ver as suas opiniões políticas. Música é meu santuário e a última coisa que eu preciso é ouvir suas merdas políticas enquanto estou ouvindo. No que depender de mim, você acabou. Continue falando e você vai destruir a sua fanbase.“. Aonde o próprio Tom Morello, guitarrista do RATM, rebateu às criticas, satirizando o comentário: “Scott!! De qual das minhas músicas você era fã que NÃO contém ‘merdas políticas’?! Eu preciso saber para que eu possa apagar do catálogo.”
Todavia, essa conexão entre música e política é antiga, e nem sempre entendida, porém ela é essencial para mostrar distintos pensamentos e práticas remetentes na sociedade, expressando de forma inerente diferentes preocupações com o mundo, as pessoas, algumas vezes indo de frente contra o sistema, mas sempre se manifestando e dando apoio para expressar mudança e desenvolvimento social.
Há 100 anos atrás a cantora norte-americana, Billie Holiday, lançou a canção “Strange Fruit“, que traz em sua composição uma explícita ação violenta aos negros daquela época, falando sobre o racismo, a indiferença e a relação que dos negros diante àquela sociedade, indiferente e injusta. No entanto, mesmo sendo tão intensa e trágica, fez um sucesso extremo no final da década de 30.
Porém, essa revolução está enraizada nas veias de todo artista, que muitas vezes acabam sendo ocultas pela indústria fonográfica, administrada por poderosos responsável por inserir dinheiro às suas obras, trazendo as composições o que eles querem transpassar ao público, deixando insosso as composições e diferindo as formas para refletir e corromper mentes de seu sistema, transformando todos com um único ideal e pensamento.
Como na canção “The Times Are A-Changing“, de Bob Dylan, lançada em 1964, mas que mantém viva a essência e a necessidade de mudança, com um discurso afiado e frases fascinantes, hipnotizam o ouvinte, com sua melodia simples e precisa, diante a luta pelos direitos civis e as divergências ofertadas pelo Estado à nação. Tanto que posteriormente, a faixa foi relançada na abertura do longa-metragem “Watchmen” (2009), de Zack Snyder, em que traz um grupo de super-heróis que vivem numa realidade alternativa e os conflitos finais da Guerra Fria estão mais fortes do que nunca, e a canção de Dylan não mais traduz tal ocasião pela luta e perseverança da liberdade e dos direitos da sociedade.
Por falar em problemas sociais ocasionados pela guerra, o álbum “What’s Going On“, de Marvin Gaye, interpreta um manifesta pleno e política de paz e amor a humanidade. Lançado no início da década de 70, traz de maneira intrínseca e inquieta suas percepções diante as histórias do irmão de Marvin na guerra do Vietnã. Porém, a faixa que dá título ao disco é uma poderosa canção contra os males no mundo, sendo um instrumento utilizado por alguns artistas no início dos anos 2000, para em tributo aos atentados de setembro de 2001, nos Estados Unidos, comovendo as pessoas a difundirem o amor, tornando um clássico do soul e uma mensagem singular de paz a humanidade.
Outro artista que foi uma referência em canções políticas e de resistência, foi Bob Marley, que criou diferentes hinos de luta em prol a sociedade. Uma dessas faixas é “Get Up Stand Up“, que foi composta durante uma digressão pelo Haiti, e mostra uma reflexão sobre a pobreza e o sofrimento da população daquele país, mas que também remete uma fala universal contra a opressão e as desigualdades que há no mundo. Essa música foi adotada pela Anistia Internacional como hino não oficial da humanidade, e talvez esteja entre as canções mais famosas do artista.
Nos anos 80, bandas e artistas progressistas que se opunham contra o sistema foram difundidas pelos diferentes meios de comunicação, traduzindo de maneira direta e indispensável, a forma de como os jovens daquela década pensavam e se interagiam na sociedade referente os regimes políticos adotados pelo sistema. Entre esses grupos estão, The Smiths, U2, The Cure, The B-52’s, Pixies, Bronsky Beat, Prince, entre outros, que acabaram influenciando uma leva de artistas no Brasil, a produzirem canções reflexivas e diretas ao sistema, mesmo que redesenhada em formas sutis e ritmos contagiantes, como o Capital Inicial, Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Ira!, entre outras, que fizeram canções que até hoje são cantadas e utilizadas de maneira social para indagar o conhecimento social, político e libertador cívico de cada cidadão, buscando distintas formas de pensamento, com composições que induzem a isso, e não apenas melodias desarmônicas e fúteis que visam ostentar e prejulgar seu semelhante.
Todavia, esse pensamento não encerrou na década de 1980, já que nos anos e décadas posteriores, ainda tivemos artistas que visavam politizar com arte e música seu público, como Disposable Heroes of Hiphoprisy, Bruce Springsteen, o português Valete, a cantora Pitty e o rapper brasileiro Emicida, que traduzem as suas canções temas delicados, mas que necessitam ser abordados, com rimas e composições precisas e diretas para bater de frente diante ao sistema que nos regem, trazendo inovação e pensamento a cada compasso apresentado.
Fonte: O Barquinho Cultural