Noventa dias se passaram desde o primeiro caso confirmado do novo coronavírus no Rio Grande do Norte, na data de 12 de março. O Estado decretou as primeiras medidas de distanciamento social no dia 23 do mesmo mês, mas o número de mortes causadas pela pandemia ultrapassou 500 no dia exato em que os três meses foram completados, na sexta-feira, com 509 vítimas fatais e mais de 13 mil infectados.
O número de casos confirmados por dia ainda é crescente, e o governo estadual avalia que o distanciamento social é a única medida para desacelerar o contágio. Entretanto, o Rio Grande do Norte não sustenta mais três meses de distanciamento social nos termos atuais. O risco é um cenário dramático de desemprego. Essa é a avaliação do secretário estadual de Tributação, Carlos Eduardo Xavier.
“Eu não creio que o Rio Grande do Norte sustente mais três meses de isolamento social neste patamar [de medidas] que a gente tem hoje, muito por causa do impacto econômico”, declarou Xavier nesta sexta-feira, 12. Entretanto, ao contrário da sobrevivência econômica, a assistência hospitalar requer distanciamento social para não entrar em colapso.
A Secretaria de Estado de Saúde Pública do RN (Sesap) abriu 345 leitos (críticos e clínicos) desde o início da pandemia, mas foram insuficientes para evitar a situação atual de ocupação máxima dos leitos. E abrir novos leitos nos próximos meses se torna cada vez mais difícil pela escassez de profissionais de saúde, avaliam especialistas do comitê técnico da secretaria.
Até esta sexta-feira (12), 1.895 profissionais de saúde foram contratados emergencialmente para possibilitar a abertura dos 345 leitos. A quantidade não é suficiente para abrir todos os leitos de terapia intensiva (UTI) que já estão equipados. Há 14 leitos de UTI prontos para funcionar, mas sem profissionais para atuar neles, segundo o Sistema Regula RN, uma parceria da Sesap com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A previsão é a falta de recursos humanos ser um problema cada vez maior, se o número de infectados continuar crescendo e demandar mais da rede de saúde.
“A abertura de leitos em qualquer sociedade encontra um limite físico, que são de recursos humanos. Você tem um número determinados de médicos, de enfermeiros e outros profissionais que trabalham no ‘front’ da UTI. Tudo isso tem limite”, declarou o médico epidemiologista Ion Andrade, participante do comitê científico da Sesap. Ao lado do limite, há os profissionais de saúde que são vitimados pela Covid-19. No boletim epidemiológico do da 10 de junho, 185 profissionais da área tinham falecido em decorrência da doença. A Sesap não publicou o detalhamento das vítimas da sexta-feira até a publicação desta reportagem.
Uma recomendação expedida no dia 5 de junho pelo comitê da Sesap criado para combater o coronavírus afirmou que o distanciamento social adiou o pico da pandemia para setembro. Andrade evitou fazer novas previsões com o argumento de que o pico depende do comportamento social, mas reconheceu que a pandemia ainda tem espaço para crescer.
O plano de contingência da Sesap prevê a abertura de mais 226 leitos críticos e 346 leitos clínicos enquanto os casos aumentam, com a contratação de 1,3 mil profissionais de saúde para auxiliar a abertura destes leitos. A dificuldade é conseguir profissionais para os leitos intensivos. “É preciso ter experiências em cada uma das áreas necessárias na UTI. Você não pega um profissional que acabou de se formar e coloca na UTI com esse grau de exigência”, continuou Andrade.
O secretário estadual de Saúde, Cipriano Maia, descreve a situação atual da rede pública de saúde como de “emergência máxima”. Nesta sexta-feira, 58 pessoas em estado grave, das quais sete eram consideradas em estado “muito grave”, estavam na fila de espera por um leito de terapia intensiva (UTI) nos hospitais estaduais. Em Natal, as Unidades de Pronto-Atendimento (UPA), local onde é feito o primeiro contato entre doentes da Covid-19 e a rede de saúde, estavam na mesma semana com o dobro da capacidade de internação.
O único modo para reduzir isso, avaliou Maia, é com o distanciamento social. “Nossa expectativa é que o Pacto pela Vida tenha sucesso em aumentar o isolamento social e assim possamos está num cenário bem mais favorável, com declínio de casos, de óbitos e de ocupação da rede de atenção, conduzindo a retomada da vida social e das atividades econômicas com segurança e responsabilidade para evitar novas escaladas de casos e óbitos”, disse.
O decreto estadual de distanciamento social em vigor foi publicado no dia 4 deste mês com regras mais rígidas para aumentar o isolamento. Ele segue até esta terça-feira, 16, se não for renovado, e prevê a reabertura gradual da economia a partir do dia 17, mas condiciona isso a ocupação de 70% dos leitos críticos (intensivos e com respiradores). A dois dias do fim do decreto, 94,9% dos leitos estão ocupados. A pior fase da pandemia do novo coronavírus ainda não passou, mesmo três meses depois do seu início.
Perfil das vítimas fatais até a quarta-feira, 10
487 vítimas fatais da Covid-19
328 (67,3%) das vítimas tinham 60 anos ou mais
360 (74%) das vítimas tinham comorbidades de risco, como hipertensão e diabetes
283 (58,1%) vítimas eram homens
204 (41,9%) vítimas eram mulheres
Raça/cor/etnia
Amarela: 48
Branca: 91
Parda: 192
Preta: 9
Não informado: 147
Óbitos confirmados de acordo com ocupação
38% eram profissionais de saúde
60% exerciam outras profissões
2% não informaram
A Sesap não publicou o detalhamento das vítimas nesta sexta-feira (12) até a finalização desta reportagem, quando o número total de mortes era 509.
Isolamento social
Desde a publicação do primeiro decreto de distanciamento social, o RN teve uma média de 40% de adesão ao isolamento durante os dias úteis, segundo plataforma InLoco. Percentual cresce para 49% em domingos e feriados.
Com informações da Sesap, InLoco e Governo do RN.
Crédito da Foto: Demis Roussos/ ASSECOM-RN e Magnus Nascimento
Fonte: TRIBUNA DO NORTE