“Estudar de forma remota e sem acesso à internet é extremamente limitativo”

Micael tem 17 anos e Mikaela 15. Os dois fazem os cursos técnicos integrados no IFRN

Micael Matias de Carvalho e Mikaela Matias do Nascimento são irmãos e estudam no Campus Pau dos Ferros do IFRN. Ele, com 17 anos, faz o segundo ano do Curso Técnico em Informática. Ela, com 15, faz o primeiro ano do Curso Técnico em Informática.

Como milhares de brasileiros, viram as atividades acadêmicas se suspenderem em março deste ano em razão da pandemia de Covid-19. Mas enquanto muitos desses estudantes conseguem utilizar o tempo em casa para pesquisar temas de interesse ou acessar material didático disponível online, Micael e Micaela enfrentam dois impedimentos: não possuem computador nem acesso à internet.

Eles moram no Sítio São José, em Coronel João Pessoa, município a 50 km de Pau dos Ferros. “Estudar de forma remota e sem acesso à internet é extremamente complicado e limitativo, já que nós, estudantes não vistos pela maioria dos nossos representantes governamentais, podemos utilizar apenas de livros – quando temos”, explicou Micael.

Micael demonstra uma capacidade reflexiva ampliada sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para a implantação de aulas online: “sem contato com professores para tirar dúvidas, sem vídeo aulas, sem participar de encontros virtuais, nosso aprendizado se torna muito mais difícil justamente porque não temos acesso à grande parte dos recursos tecnológicos que muitos têm”.

É o que lembra o professor José Roberto Oliveira, diretor-geral pro-tempore do Campus Natal-Zona Leste. A unidade do IFRN é especializada em Educação a Distância (EaD). De acordo com o diretor, “o termo EaD aparece no discurso de muita gente, como solução ou problema, numa dicotomia polarizadora, que empobrece uma análise da complexidade do tema e situação”.

O professor lembra que é necessário falar sobre qualificação profissional da equipe responsável, acompanhamento e avaliação, conteúdo e metodologias próprios à modalidade, além de políticas de acesso às TICs. “Muitos estudantes não dispõem em suas casas de equipamento, acesso à internet, espaço adequado para estudo, sem falar de alimentação, pois muitos só conseguem ter três refeições por causa da merenda escolar”, destaca.

É a situação financeira que não permite a Micael e a Mikaela terem computador em casa. “Aqui em casa somos cinco pessoas. A renda aqui é basicamente o Bolsa Família e algum ‘bico’ que meu pai arruma de vez em quando”, explica Micael.

O estudante tem consciência da problemática social, do potencial de transformação e da necessidade das políticas públicas citadas pelo professor José Roberto: “digo direto para minha irmã que não devemos ter vergonha da nossa situação, porque isso não foi escolha nossa. A gente não escolheu nascer pobre e sem acesso a muitas coisas. Devemos nos motivar a lutar pelos nossos sonhos e nos orgulharmos de nossa origem, para mostrar que o grupo que a gente faz parte existe e também tem direitos à formação, trabalho”.

O acesso às TICs

Aproximadamente 64% dos estudantes do IFRN não possuem computador de mesa (desktop) em casa, enquanto 43% não possuem notebook. Além disso, 36% deles afirmam não ter acesso à internet diariamente. Os dados foram extraídos do Suap – sistema administrativo e acadêmico da Instituição.

Imagem: Ascom/IFRN

Fonte: IFRN

 

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