A Medicina é uma profissão que se ancora na arte e na ciência. O médico não consegue exercer seu ofício sem atentar para estas duas condições. A tomada de decisão médica pode ser complexa e pautada em desafios. “A ocasião é fugidia, a experiência enganadora, o julgamento difícil”, aforismos do médico grego Hipócrates (460 a.C – 377 a.C) bem atuais nos momentos de fortes conflitos éticos.
A imensurável perda de um paciente pode acontecer quando em extrema indecisão, o médico atue como o “Asno” de Jean Buridan (1300 – 1358), filósofo e religioso francês. Neste paradoxo, o asno, quando em frente a um balde de feno e outro de água, na dúvida entre em qual avançar primeiro, morre de fome e de sede. Agir é uma qualidade esperada no médico e a negligência pode levar ao pior dos desfechos. Ter cautela é árduo, missão nobre para os médicos vocacionados.
Quando pensamos somente em ciência, e seus métodos meticulosos, mas, necessários, não podemos esquecer dos questionamentos que ela própria suscita. “A Medicina é uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidade”, palavras de William Osler (1849 – 1919), médico canadense, por muitos considerado o pai do pensamento médico moderno. Situações em que a ciência não encontrou resposta para os anseios de todos, merecem parcimônia, porém dever legal de enfrentamento. Este terreno de dúvidas sempre fez parte da atividade médica, campo dinâmico, ora de evidência robusta, ora sem clareza científica.
Tomar decisões em Medicina faz parte do seu cotidiano, exige conhecimento e técnica, mas acima de tudo, coragem: uma força humana que dependerá essencialmente de cada um, do mais íntimo do ser, do temperamento e da personalidade do profissional. No auge do ato médico, a decisão tem como clímax, a ação de salvar a vida de outra pessoa. Não existe responsabilidade maior para os que fizeram juramento tão honroso. Sendo assim, munido de seu saber, acima das querelas, incumbido de seu dever, ciente que o destino de uma pessoa estará nas mãos de alguém que passe confiança, o médico terá a missão corajosa de lutar contra uma doença que aflige o próximo. Esse papel foi uma escolha feita pelo então estudante de Medicina, desde os bancos escolares: “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta”, Raul Pompéia (1863 – 1895), escritor brasileiro.
Na arte médica, a relação médico-paciente, e porque não dizer, paciente-médico, balizas devem ser observadas: os princípios éticos da Autonomia, Beneficência, Não-maleficência e Justiça. O homem, como qualquer artífice, entra em confronto com seus medos, suas incertezas, mas acima de tudo, imbuído de sua coragem em vencer desafios. A execução de seu trabalho pode escapar como água entre os dedos. A tomada de decisão é imperativa e crucial. É a vida ou é a morte. Por isso, citar Medicina como sacerdócio, faz todo sentido.
” Se você estiver atravessando o inferno, não pare.”
Wiston Churchill (1874 – 1965), político britânico.
Gustavo Xavier
Médico Psiquiatra e Conselheiro CREMERN