Subnotificação de óbitos por Covid-19 no RN pode chegar a 100%

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A cada morte provocada pela Covid-19 no Rio Grande do Norte, uma pode estar subnotificada. Ao longo de 19 semanas epidemiológicas, encerradas no dia 9 de maio passado, pesquisadores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) se debruçaram num estudo cujo objetivo é apontar a taxa de subnotificação de casos e mortes originadas pelo novo coronavírus no Estado. Segundo a pesquisa, a taxa de subnotificação de casos de pode ser 655% maior com relação ao número de infectados até a data final da análise. Isso significa dizer que a proporção é de seis pacientes não notificados para cada um confirmado.

Até o dia 9 de maio, o Estado tinha 1.921 casos confirmados. O estudo aponta, por exemplo, que levando em consideração os casos sintomáticos, a subnotificação poderia chegar a 2.519 potiguares com a doença. Ao levar em consideração a afirmação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que 80% dos casos são assintomáticos, esse número pode chegar a 12.595 novos registros (com dados tabulados até o dia 9 de maio).

O estudo, intitulado “Análise da Distribuição Espacial da Covid-19 e subnotificação de casos novos e óbitos no Estado do Rio Grande do Norte”, foi divulgado nesta semana e publicado na revista “Pensar Geografia”, do Departamento de Geografia da UERN. O objetivo da análise, explicou o pesquisador Gutemberg Dias (um dos autores do estudo), era chegar a um diagnóstico da subnotificação de casos e mortes por Covid-19 no Estado e entender o contexto da doença. Além dele, assinam o artigo os pesquisadores Carlos Daniel Silva e Souza, Marisa Rocha Bezerra e Filipe da Silva Peixoto. Os dados utilizados no estudo foram tabulados até a 19ª Semana Epidemiológica, encerrada no dia 9 de maio.

“O objetivo era entender a subnotificação de casos e óbitos confirmados no RN na perspectiva de contribuir com as autoridades de saúde para que elas possam planejar melhor as ações, haja vista que pensar unicamente nos dados oficiais, eles balizam, de certa forma, com algum erro. Quando se estima quantos casos temos, o percentual de subnotificação, isso garante as autoridades, no planejamento, uma visão diferenciada”, explicou.

Foram feitas três simulações, segundo o estudo, para se chegar aos resultados A primeira considera que não há duplicidade de registros; na segunda, que há 25% de dualidade de registros, e num último cenário, uma duplicidade de 50%. Com esses cenários, a situação, levando em conta os 1.921 casos diagnosticados até o dia 9 de maio, seriam de 2.519, 2.365 ou 2.211 confirmações, respectivamente, de registros da doença em relação aos casos sintomáticos.

Em outro quadro, observando a análise da Organização Mundial da Saúde (OMS) que 80% dos casos são assintomáticos, os registros podem chegar a 12.595, 11.825 e 11.055, nesta ordem. É a partir disso, por exemplo, que se chega à conclusão de que há seis casos não confirmados a cada um caso confirmado.

Metodologia

Para chegar aos registros de subnotificação de óbitos e confirmações de Covid-19, a metodologia utilizada foi de coletar a média dos casos de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) nas 19 primeiras semanas epidemiológicas dos anos de 2015 a 2019, e comparando com os casos reportados em dados da Sesap/RN, do Ministério da Saúde e do Infogripe, portal da FioCruz, que monitora casos reportados da doença. No caso das mortes, foram analisados os óbitos por SRAG também em consulta ao Infogripe e feita um paralelo com as mortes por SRAG neste ano.

“Tratamos uma série histórica dos últimos cinco anos, levando em consideração as 19 semanas epidemiológicas, as mortes e internações por SRAG. Fizemos também um levantamento dos casos de SRAG e Covid para 2020. Fizemos uma relação e retiramos a média desses últimos cinco anos dos casos de SRAG em 2020 e fizemos a projeção para essas 19 semanas. Chegamos no levantamento dos casos subnotificados e morte de covid”, detalhou Gutemberg Dias.

Rota de transmissão

A pesquisa aponta as cidades de Mossoró e Natal como epicentros do coronavírus no RN e sugere que a disseminação espacial da doença segue as principais rodovias federais que cortam o Estado, como por exemplo, a BR-304 (Fortaleza/Mossoró/Natal), BR-405 (Mossoró/Pau dos Ferros), BR-226 (Natal/Caicó), BR-406 (Natal/Macau) e BR101 (Touros/Natal/João Pessoa).

“Essa constatação é importante para que o Estado e Municípios possam montar barreiras sanitárias ao longo das rodovias e, sobretudo, no entorno dos municípios de maior incidência de casos de Covid”, diz o artigo.

Situação em Mossoró preocupa

A cidade de Mossoró, Oeste potiguar, tem a maior taxa de incidência de  coronavírus por 100 mil habitantes do Rio Grande do Norte. O indicador é de 223,6, segundo Boletim Epidemiológico da Sesap. De acordo com os dados da pasta, foram 33 mortes por Covid-19 na cidade 665 casos confirmados. Outros seis óbitos estão em investigação e o município possui 784 casos suspeitos.

Conforme a Sesap, Mossoró é a segunda cidade do Rio Grande do Norte com o maior número de recuperados da doença: 150 pacientes até agora.

A cidade é hoje considerada a mais vulnerável do Estado para o novo coronavírus, segundo um estudo divulgado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Apesar de ter menos casos e menos mortes que Natal, por exemplo, a localização geográfica próxima a municípios do Ceará, um dos Estados do Nordeste mais afetados pela doença, coloca os mossoroenses numa situação de risco.

Testagem em massa não é feita no RN

Desde que a Covid-19 chegou ao Rio Grande do Norte, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) tem adotado um protocolo para testagem dos pacientes. A recomendação vigente é datada do dia 28 de março de 2020 e a coleta de exames é restrita a um grupo de usuários. Até agora, segundo boletim mais recente da Sesap, foram realizados 13.177 exames, sendo 8.215 do tipo RT-PCR e outros 4.953 testes rápidos.

“A coleta para os exames de diagnóstico somente serão realizados em: pacientes hospitalizados com sintomas de SRAG; pacientes que atendam a definição de casos suspeitos que pertençam ao grupo de risco; pacientes que atendam a definição de casos suspeitos que sejam profissionais de saúde”, diz a nota técnica 9/2020, assinada pelo secretário Cipriano Maia, pela coordenadora de promoção à saúde, Neuma Lúcia de Oliveira, e pela Subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica, Alessandra Lucchesi.

Atualmente, a Sesap possui 41.680 exames de RT-PCR disponíveis no estoque e outros 25.860 testes rápidos. Sobre esse último, o Ministério da Saúde enviou 68.880 kits ao Rio Grande do Norte. Do total, 51.500 testes foram enviados aos municípios potiguares e 2.200 encaminhados às unidades da rede estadual de saúde.

Os testes rápidos, com resultados entre 15 e 20 minutos, são aplicados em grupos prioritários, como idosos, profissionais de saúde e de segurança, conforme orientação do Ministério da Saúde. Ainda há testes em estoque a serem enviados à medida que os quantitativos já distribuídos para as unidades sejam efetivamente utilizados e notificados.

“É importante destacar que a testagem aponta se a pessoa teve ou não contato com o novo coronavírus, detectando se o organismo possui os anticorpos produzidos como mecanismo de defesa contra o vírus”, disse a Sesap em nota.

De acordo com o diretor administrativo do Laboratório Central do Rio Grande do Norte (Lacen/RN), Derley Galvão, para ampliar os critérios da testagem na população, seria necessário aporte de insumos e discussão sobre qual metodologia seria aplicada nos potiguares, uma vez que cada método possui custos diferenciados. Já há discussões na Sesap para mudanças de critérios, mas não há perspectiva para que a alteração entre em vigor.

“A metodologia do RT-PCR, que fazemos no momento, é cara. A sorologia, por exemplo, é mais barata. Tem que ver qual fase da doença que a testagem em massa iria detectar. Por exemplo: vai testar em massa na fase mais aguda, que seria ideal o RT-PCR? Ou seria numa fase posterior, que seria a detecção de anticorpos? Tem que se definir isso”, questiona Derley Galvão.

Projeções

Veja abaixo os números projetados pelos pesquisadores Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) em relação à Covid-19:

Fonte: Análise da Distribuição Espacial da Covid-19 e Subnotificação de Casos Novos e Óbitos no Estado do Rio Grande do Norte. Autores: Gutermberg Henrique Dias, Carlos Daniel Silva e Souza, Marisa Rocha Bezerra e Filipe da Silva Peixoto. Estudo publicado na Revista Pensar Geografia em Maio/2020.

 

Fonte: Tribuna do Norte

Imagem: iStock

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