A floresta amazônica contém 13 regiões diferentes, cada qual com espécies de plantas particulares. É o que diz um novo estudo desenvolvido com mais de 5.000 espécies de árvores e de arbustos de 15 de maio de 2020 na revista britânica “Journal of Ecology”. No trabalho, realizado por dois biólogos do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Karla Juliete Silva-Souza e Alexandre Souza, as regiões distintas foram chamadas de sub-regiões florísticas. Algumas das sub-regiões são grandes e dividem a Amazônia entre áreas a leste, a oeste e a norte (no planalto das Guianas). Outras regiões são pequenas e periféricas, contendo espécies de vegetações vizinhas como o cerrado, que penetram pelas bordas na Amazônia.
Para realizar o estudo, os pesquisadores compilaram um banco de dados, idealizado e batizado por Alexandre Souza de Caaporan (floresta bonita em tupi), contendo a distribuição geográfica de mais de 5.000 espécies de árvores e de arbustos encontrados na região. Eles aplicaram técnicas de estatística espacial sobre os dados, mapearam as sub-regiões e também construíram outro banco de dados contendo informações do ambiente para cada local onde as espécies foram registradas. Análises da compilação das informações permitiram aos cientistas investigar os fatores responsáveis pela distribuição e delimitação das várias “Amazônias”. Os resultados sugerem que a distribuição das sub-regiões está associada a ações humanas e a fatores ambientais, como variações do solo, regime de chuvas e inundação pelos rios.
Pioneirismo: divisão por composição de espécies
O estudo constitui a primeira divisão espacial da flora amazônica feita com base em dados de composição de espécies. “A delimitação e mapeamento de sub-regiões de espécies animais ou vegetais é muito importante para planejamentos de conservação da biodiversidade de uma região, pois permite aumentar o número de espécies protegidas. Isso acontece porque passa a ser possível a distribuição de áreas de proteção nas diversas sub-regiões identificadas”, explica Karla Souza.
Tentativas anteriores de divisão da Amazônia foram realizadas com base na aparência da vegetação, observação das predominâncias de ervas, arbustos ou árvores e se as plantas perdiam ou não as folhas na estação seca. Apesar do valor e da utilidade desses primeiros mapas produzidos, o presente estudo mostrou que várias sub-regiões florísticas distintas podem ter a mesma aparência. “Mapas baseados na aparência da vegetação não devem ser usados como indicativo da biodiversidade e não são eficazes nos esforços para aumentar o número de espécies protegidas”, adiciona Karla.
A floresta amazônica forma a região biologicamente mais rica do planeta. Ela cobre vastos 7.500.000 km² em nove países, o que equivale a 40% da América do Sul. Ela abriga um quarto da biodiversidade global e é uma das principais forças do funcionamento climático e biogeoquímico da Terra. A crescente perda e fragmentação de florestas devido à invasão de assentamentos e agricultura extensiva na Amazônia traz consequências para as populações humanas e demais formas de vida no planeta. As populações humanas dependem de forma direta ou indireta dos serviços produzidos pela biodiversidade da floresta amazônica, seja pela estabilização do regime climático ou pela utilização de espécies para produção de medicamentos, alimentos, cosméticos e outros produtos.
Impacto das mudanças climáticas
O mapeamento de sub-regiões florísticas da Amazônia produzido no estudo poderá ser utilizado para guiar os esforços de conservação da biodiversidade das plantas amazônicas. “A relevância que encontramos de fatores como o regime de chuvas e temperatura na explicação da distribuição espacial das sub-regiões alerta para um profundo impacto que as mudanças climáticas podem ter na organização espacial da flora amazônica. O aumento da frequência de anos secos na região deve promover a expansão de certas sub-regiões e a contração de outras, ameaçando a área disponível para milhares de espécies de árvores continuarem a viver e a prestar os seus serviços à humanidade”, analisa Alexandre Souza.
Fonte: Agecom/UFRN e Agência Bori em colaboração