O Rio Grande do Norte atingiu oficialmente 376 casos confirmados de coronavírus nesta terça-feira, 14, mas os números reais chegam a aproximadamente 2,8 mil infectados pela Covid-19, aponta um estudo produzido por um grupo de pesquisadores da Fiocruz, PUC, USP e outras instituições. Somente 13,3% dos infectados estariam notificados no Estado e a maciça maioria (86,7%), subnotificados. O estudo foi publicado no último sábado, 11, e aponta uma cenário ainda pior nacionalmente, com 92% dos casos subnotificados. O Brasil teria, segundo a pesquisa, 245 mil casos. Desses, apenas 20 mil estão registrados.
O secretário-adjunto de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte, Petrônio Spinelli, citou o estudo na manhã desta terça-feira ao ser questionado sobre o índice de subnotificação local, mas se equivocou ao afirmar que o índice do Rio Grande do Norte era semelhante ao apresentado no Brasil. As tabelas e os anexos do relatório, acessado pela reportagem, mostram que os pesquisadores calculam uma notificação no RN acima da média brasileira.
Apesar da afirmação, o secretário-adjunto observou que o percentual exato é “difícil de precisar” porque o Estado não possui uma amostragem alta por falta de testes em massa. A maioria dos casos seriam de pessoas que não desenvolvem sintomas da doença (assintomáticos) ou apresentam apenas um quadro leve. “Testamos apenas os casos graves. Os leves, a orientação é não ir ao hospital, é de permanecer em casa. Por isso, podemos afirmar que temos sim um número alto de casos não notificados”, declarou Spinelli.
A pesquisa foi feita pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), que envolve pesquisadores da PUC, Fiocruz, USP e outros. As taxas de subnotificação foram montadas pela letalidade da doença no país, calculada pelo número de mortes dividido pelo número de casos, e pelo percentual de óbitos em relação aos casos que tiveram desfecho (recuperação ou óbito). “A metodologia proposta utiliza as etapas para calcular a taxa de notificação de casos de Covid-19 para o Brasil e cada Estado brasileiro com um intervalo de confiança de 95%”, afirmam os pesquisadores.
Segundo a pesquisa, a taxa de letalidade no Brasil para casos que são dados com desfecho (recuperação ou morte) é de 16,3%. O percentual é muito superior ao observado em outros países, dos quais 1,3% dos pacientes morrem. Os pesquisadores destacam que isso não significa que a doença seja mais letal no Brasil, mas que a maior parte dos casos estão subnotificados pelo fato dos testes serem restritos a casos específicos. O protocolo de testagem em pacientes graves é adotado em todo Brasil, incluindo o RN.
A Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Norte (Sesap) não tem o número de pacientes que estão recuperados em todas as regiões de saúde. Para ter esse dado em cada Estado, a pesquisa considerou a probabilidade média de 13 dias entre hospitalização e desfecho. Eles calcularam 6,4 mil casos no Brasil que resultaram em morte ou recuperação até o dia 10 de abril.
Essa data foi utilizada como base no estudo. O Rio Grande do Norte possuía 263 casos e 11 óbitos até então. A estimativa de 13,3% de notificações colocou o Estado acima da média nacional (8%) e a frente de 16 Estados. O melhor índice é o do Mato Grosso do Sul (27,8% de notificação) e o pior, Paraíba (2,2%).
Conclusão
A conclusão é de que o número de testes deve ser aumentado em todas as regiões do Brasil para permitir que a gestão hospitalar tenha uma melhor avaliação da necessidade de recursos (leitos, insumos e equipamentos). “O elevado grau de subnotificação pode sugerir uma falsa ideia de controle da doença e, consequentemente, poderia levar ao declínio na implementação de ações de contenção, como o isolamento horizontal”, afirmam os pesquisadores.
Limitações
As limitações do estudo também são consideradas. Para os pesquisadores, o fato de se basear em premissas de letalidade da doença e da curva de atraso entre notificação e desfecho para o cálculo da taxa de notificações, dificulta um resultado exato. “Uma variação na distribuição do atraso ou no valor da letalidade pode causar grandes diferenças no resultado final”, afirma o relatório publicado pela NOIS.
A falta de “padronização no reporte de óbito por virtude da doença” entre os países também dificultaria o cálculo porque os dados letais podem ser diferentes do considerado (1,3%). A diferença nos tratamentos e das condições hospitalares entre países e Estados brasileiros também é avaliado como uma limitação.
Mossoró e Natal: epicentros da doença no RN
A pandemia de coronavírus atinge com mais força o extremo Leste e Oeste do Rio Grande do Norte, regiões opostas, principalmente através das cidades de Natal e Mossoró, respectivamente. A capital potiguar é considerada em situação de atenção pelo Ministério da Saúde por ter um índice de infectados de 154 casos para cada 1 milhão de habitantes, acima da média nacional. Já a região de Mossoró está entre as com maior quantidade de mortes causadas pela doença para cada 1 milhão de habitantes do país (14 por 1 milhão).
As duas cidades receberam R$ 26,3 milhões do Ministério da Saúde (Natal R$ 20 milhões e Mossoró R$ 6,3 milhões) para ações de média ou alta complexidade e ação primária voltadas para o coronavírus, oficializados na Portaria Nº 774/20 publicado no Diário Oficial da União no último dia 9. O repasse é um adicional de R$ 4 bilhões feito pelo Ministério a todos os Municípios e Estados brasileiros. O recurso destinado corresponde a uma parcela extra do valor mensal do que cada Estado ou município recebe para essas ações.
Apesar da situação crítica das duas cidades potiguares, o Rio Grande do Norte saiu do Estado de atenção que estava incluído na semana passada e entrou em estado de alerta – um grau mais leve da pandemia. Não existem ações específicas do Ministério da Saúde com relação aos municípios do Rio Grande do Norte, mas elas são prioridades no âmbito da Secretaria Estadual de Saúde. O Ministério da Saúde, porém, revelou preocupação com a questão da região de Mossoró.
A Sesap reserva a maioria dos leitos intensivos e semi-intensivos, destinados aos casos mais graves de coronavírus, para as duas cidades. O secretário-adjunto da pasta, Petrônio Spinelli, afirmou que o Estado planeja abrir leitos em todas as regiões, mas foca nessas duas para não haver colapso na rede de saúde. “A gente traça um plano estratégico para observar o avanço da epidemia e ampliar leitos de acordo com as regiões mais críticas. Mossoró e Região Metropolitana de Natal tem leitos abertos”, disse nesta terça-feira.
O plano de contingência da doença no Rio Grande do Norte prevê 20 leitos intensivos e 18 semi-intensivos para os dois hospitais estaduais de Mossoró e 58 intensivos e 56 semi-intensivos para os hospitais estaduais de Natal e região metropolitana. Apenas parte desses leitos estão instalados e em funcionamento: em Mossoró, 27; em Natal, 30. Outros 9 leitos de UTI em Natal estão reservados para o Covid-19 no Hospital Municipal.
Estado de atenção
Além de Natal, outras cinco capitais estão em situação de atenção para o contágio de coronavírus e outras 12, em emergência – o grau mais alto de preocupação da doença. A capital potiguar tem uma incidência média de 154 infectados para cada 1 milhão de habitantes, acima da média do cenário nacional (111 casos para cada 1 milhão). Já as cidades em situação de emergência possuem uma incidência 50% maior que o índice nacional.
SMS reserva R$ 22 mi para Hospital
A Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS) reservou R$ 22,7 milhões para a contratação de profissionais de saúde para atuar no Hospital de Campanha de Natal, montado no Hotel Parque da Costeira, e no Hospital dos Pescadores. Os custos são para seis meses de operação e, segundo o secretário de saúde de Natal, George Antunes, podem ser menores a depender do número de pacientes que precisem de assistência hospitalar na cidade. “Esse valor é uma estimativa que vai depender se a gente vai precisar ou não contratar mais profissionais”, afirmou Antunes à reportagem.
O valor estimado está no contrato da SMS com duas empresas selecionadas. Uma delas assinou um contrato no valor de R$ 3,6 milhões durante seis meses para a contratação de médicos; o outro contrato foi de R$ 19,1 milhões para contratar assistente social, auxiliares de farmácia, bioquímicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos e outros profissionais. Os contratos afirmam que “as quantidades mencionadas são estimadas e poderão ser implementadas em todo ou em parte, ao longo do Contrato decorrente, dependendo da necessidade da Administração”.
O secretário George Antunes declarou ainda que o hospital vai ter custos adicionais com insumos e medicamentos, mas que não é possível estimar os valores porque a compra não vai ser específica para a unidade, mas para toda rede de saúde municipal. Somente após o primeiro mês de operação é que as despesas do hospital serão mensuradas, afirmou Antunes.
O hospital de campanha custou R$ 8 milhões para ser estruturado com 100 leitos clínicos. O valor pode chegar a R$ 12 milhões com a abertura de 20 leitos intensivos, ainda sem previsão de data. A operação do hospital deve iniciar na semana que vem, projeta a SMS.
Estrutura reforçada na rede pública
Desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no RN, no dia 12 de março, a Secretaria de Estado de Saúde abriu 70 leitos intensivos e semi-intensivos. Além dos hospitais Tarcísio Maia, em Mossoró, Giselda Trigueiro e Maria Alice Fernandes, em Natal, os hospitais do Seridó (Caicó) e Cleodon Carlos de Andrade (Pau dos Ferros) também foram ampliados para receber pacientes em estado grave da doença.
Nesta terça-feira, o secretário-adjunto Petrônio Spinelli afirmou que a expansão planejada de leitos é para uma rede de 324 UTIs e semi-intensivos até o pico da epidemia, previsto para maio, mas essa instalação é gradual. Segundo a Sesap, a ampliação de leitos atual contou com a contratação emergencial de uma equipe médica para o Hospital Giselda Trigueiro e duas para o Hospital Regional Tarcísio Maia. As contratações foram feitas através da ampliação dos contratos com cooperativas médicas que já atuavam no Estado.
Outro item essencial para a assistência aos pacientes graves de coronavírus é o respirador, também chamado de ventilador mecânico. A Sesap possuía 316 equipamentos no dia 12 de março e adquiriu mais 36 desde então, estando com 352 respiradores. Uma parte também foi recuperada para poder permitir a ampliação dos 70 leitos atuais.
Fonte: Tribuna do Norte
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