O isolamento social para quem pode ficar em casa, medida de enfrentamento ao novo coronavírus regulamentada pelo Ministério da Saúde em 12 de março, completa um mês amanhã. Conforme a Covid-19 avança, o tempo dentro de casa, sem ver familiares e amigos, aumenta. Segundo especialistas, a partir de agora é natural que a ansiedade das primeiras semanas de adaptação se transforme em solidão e que o isolamento fique mais difícil.
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Para o psiquiatra Rodrigo Guimarães, é importante ter calma e mentalizar que a crise vai passar:
— O que a gente percebe é que, no começo, as pessoas ainda estavam empolgadas, num clima meio de férias. Depois, passaram a “inovar”, como cantar na varanda. Agora, começa uma fase mais difícil, em que a falta de afeto, de encontro, de estar socialmente ativo, começa a bater, e a ansiedade vai se tornando uma tristeza, que se mistura com o medo da própria doença, que tem chegado em parentes e conhecidos — afirma.
Segundo Guimarães, há meios de se contornar a situação, mas é preciso ficar atento, já que a ansiedade pode se agravar, principalmente em quem já tem tendência, levando à somatização:
— O cérebro produz reações que afetam, sim, o corpo. Para quem tem problema de pele, como dermatite e psoríase, isso pode se agravar. O intestino também pode ficar mais descontrolado, assim como quem tem gastrite pode desenvolver crises.
Para os especialistas, nesses momentos, é importante buscar amigos e familiares e não se cobrar tanto.
— Muitos se sentem frustrados de estar em casa sem ânimo de fazer mil cursos, ou exercícios, ou atividades extras. É importante ter rotina e se manter ativo, mas a cobrança por resultado pode agravar a ansiedade — comenta a psicóloga Ana Paula Alcarde Poveda.
Se a situação ficar muito difícil, buscar ajuda é fundamental. O psicólogo Romanni Souza, que elaborou o teste abaixo para que os leitores possam testar seus níveis de ansiedade, explica que é um sentimento comum a todo ser humano, principalmente em situações atípicas, mas alerta para quando pode prejudicar a saúde:
— A ansiedade pode se tornar um sintoma patológico durante o isolamento — diz.
Uma nova fase. Após o período de adaptação à nova rotina e da ansiedade inicial da mudança, o sentimento, após duas ou três semanas de quarentena, que têm prevalecido, é o da solidão. Segundo os especialistas, esse é um processo natural, semelhante ao luto. Tenha calma e mentalize que a quarentena irá passar.
Somatização é real. A solidão, a ansiedade e a tristeza são sentimentos que ativam hormônios e processos mentais que podem afetar o seu corpo fisicamente. A pele, para quem já têm tendência, como dermatite e psoríase, pode piorar, mas será passageiro. O estômago, em forma de gastrite, e o intestino, com prisão de ventre ou o contrário, também pode reagir. Não se preocupe além da conta: tudo será passageiro.
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Falta de ar. A falta de ar é uma sensação também presente em crises de ansiedade. Em geral, elas vem com palpitações e tristeza. Na Covid-19, estão ligadas a outros sintomas, como cansaço e tosse. Fique atento e consulte o médico antes de ir ao hospital.
Rotina estabelecida. A rotina é fundamental para controlar a ansiedade. Se permita mudar um pouco o horário de acordar ou comer, mas estabeleça rotinas depois de levantar. Só fique na cama se for para descansar ou dormir.
Crianças
Cuidado com as crianças. Elas percebem o que está acontecendo e é importante que os pais filtrem as notícias, para evitar que elas fiquem ansiosas. Nada de excesso de informação nem alienação completa, mas se surgir uma pergunta, responda com verdade. Explique porque elas não podem ver os avós ou amigos. Há animações e histórias em quadrinhos que ajudam a mostrar o que está acontecendo.
A vontade é… Depois de algumas semanas, a tentação é fugir da quarentena. Não caia nessa cilada. As máscaras caseiras devem ser usadas apenas para quando é essencial sair de casa. O isolamento, para quem pode, continua sendo a melhor forma de evitar a Covid-19.Lembre-se de que se cuidar é também cuidar dos demais.
Cuidado com as válvulas de escape. Gosta de beber um vinho no jantar, ou fazer uma live com cerveja com seus amigos para relaxar? Mantenha os hábitos que te dão prazer e os encontros sociais, mas não ultrapasse o limite do consumo de bebidas alcoólicas para além do que você já está acostumado. O efeito pode ser o contrário e aumentar a ansiedade.
Procure ajuda. A solidão ficou muito forte? Procure ajuda. Há terapeutas fazendo consultas online. Se a religião também conforta, acesse-as. Há tutorias e vídeos online com exercícios de meditação que podem ajudar.
Dá para medicar? Medicação pode ser necessária, mas é preciso sempre fazê-las sob orientação médica. Nunca use medicamentos sem prescrição médica.
Faça exercícios, mas esqueça as cobranças. Exercícios físicos liberam hormônios de bem estar e ajudam no alívio a ansiedade. Mas não se cobre. Procure aquilo que te dá prazer e não se cobre além do que consegue fazer, nem estabeleça metas impossíveis de emagrecimento ou alcance físico.
Cuide do seu sono. É natural que o sono mude com a nova rotina, mas é importante estabelecer uma rotina de sono, descansando as horas necessárias, já que ele regulariza diversos hormônios, inclusive do bem estar. Não troque o dia pela noite. Se o sono não vier, busque ajuda médica.
Para quem está só. Quem está em isolamento sozinho em casa, é importante não se isolar completamente. Busque familiares e amigos pela internet, marque encontros.
Para quem está acompanhado. As relações podem ficar estremecidas com o isolamento social. Entenda que cada vive esse momento de formas diferentes e evite assuntos que naturalmente levarão a discussões. Negocie as tarefas de casa.
Crédito das Fotos: Editoria de Arte