Eu estou no grupo de risco… do pós-guerra. Explico.
Sou um consultor de empresas da área de Marketing e Vendas na faixa dos 50 anos que conta com o próprio trabalho para viver. Já tive empresa (uma agência de propaganda) com muitos funcionários, mas optei pela consultoria e pelas palestras e cursos. Eventualmente, contrato especialistas e monto um time para a execução de um trabalho específico. Ainda não estou aposentado, tenho uns poucos recursos aplicados para viver alguns dias sem trabalhar e meus bens – dois terrenos na praia – vão valer menos que nada no próximo ano. Nem adianta vendê-los agora.
Esse ano, eu fechei seis contratos para execução entre março e maio. Cinco em diferentes cidades do Rio Grande do Norte e um fora do estado. Um faturamento legal que me garantiria pagar as contas de alguns meses. Mas, TODOS, sem exceção, foram cancelados. Um deles, inclusive, em pleno curso. Pois bem: e agora?
Estou em casa, em quarentena forçada aqui em Natal – mesmo porque não adianta ir à rua – e me pego planejando os próximos meses. Nada fácil. Começo por não saber quando poderei estar de volta à atividade. Mesmo que eu consiga negociar uma consultoria ou palestra ou um curso e feche local, data, valores, divulgação, inscrições etc., será que será – como diz a canção – possível realizar o planejado? Até a data marcada já estaremos livres para circular? Todos os inscritos estarão pensando o que pensam hoje? A consultoria, a palestra ou o curso ainda serão necessários? Haverá dinheiro para pagar esse serviço? E até mais grave: todos estarão vivos?
O resultado de um planejamento ou da criação de cenários não é nada estático. Aliás, muito pelo contrário, é algo extremamente dinâmico. Sempre há um Plano B e os cenários são Otimista, Realista (ou Provável) e Pessimista. Por mais que eu tenha tentado, consegui apenas alguns vislumbres do que poderei fazer. Um deles, é que vou aproveitar essa quarentena para intensificar virtualmente meus contatos comerciais. Quando a crise passar, espero ser lembrado como um possível parceiro na solução de seus problemas.
Mas, o título desse artigo fala no pós-guerra, em boa conta, pela minha história familiar. Estamos vivendo hoje, nós os netos e bisnetos, as histórias que nossos ‘antigos’ nos contaram com lágrimas nos olhos e nenhuma saudade. Foram muitas histórias tristes: pessoas que morreram em uma pandemia no início do século XX no pós Primeira Guerra Mundial; famílias que se separaram durante a Segunda Grande Guerra Mundial e, em seguida, trocaram sua terra natal por distantes terras desconhecidas no pós-guerra; um galo de canto triste e até capim que vira a única comida disponível.
Que lições essas histórias podem nos dar nos dias de hoje? Vou reviver duas delas para pensar no que fazer nos próximos meses. Afinal, se estou aqui no Brasil agora que vivemos uma guerra pandêmica é porque meus ancestrais sobreviveram a eventos similares. Como eles fizeram isso?
Vou começar pelo galo dos três cantos tristes fora de hora.
Por João Carlos Nagy – Sócio Diretor da Capelo & Nagy – Comunicação e Marketing