Museu do Videogame de Mossoró, da origem ao fim

Durante toda a infância e adolescência fui um grande fã dos videogames. Ficava ansioso por cada novo aparelho que era lançado, esperando o dia em que apareceriam nas locadoras da cidade.

Por volta de 1994 conheci um novo aparelho que capturou toda a minha atenção: o computador. Nele, além de jogar incontáveis games, eu podia fazer muitas outras coisas incríveis. Diante de tantas possibilidades, os videogames me pareciam ultrapassados.

Permaneci com este pensamento por aproximadamente 17 anos, sempre jogando no computador. Acompanhava uma ou outra notícias sobre os consoles, mas sem qualquer intenção de ter outro videogame. Eu estava muito acostumado e satisfeito com o teclado e mouse para querer qualquer controle. Até comprei um Game Boy Advance, mas a preferência era o PC mesmo.

Exposição do Museu do Videogame de Mossoró no IFRN de Mossoró. Imagem: Acervo de Abrahão Lopes

Porém, certo dia, alguns jovens da igreja que frequento –  Kersia, Késsia, Felipe, Gustavo, entre outros – que eram alunos da minha esposa, foram passar a tarde em minha casa. Haveria uma aula seguida por momentos de diversão.

Levaram com eles um Nintendo Wii, um Playstation 2 e vários jogos. Bastou que eu jogasse alguns minutos para que o “bichinho do videogame” me mordesse e todas aquelas memórias da infância e adolescência retornassem e me fizessem querer ter um videogame outra vez.

E foi assim que, em poucos meses, adquiri um Nintendo Wii e, pouco depois, um XBOX 360. E não parei por aí.

Como sou professor de programação de computadores, sempre tenho muitos alunos que gostam de jogos. Então, em 2012, montei um projeto para que eles pesquisassem sobre como eram criados os jogos de videogame.

Com esse projeto pude perceber que havia grande interesse dos jovens em conhecer as origens dos videogames, sua evolução, tecnologias utilizadas, etc.

Daí surgiu a ideia de reunir alguns equipamentos antigos e criar uma linha do tempo contando a evolução dos videogames. Era o início do projeto MUSEU DO VIDEOGAME DE MOSSORÓ.

 

Ao longo do ano comprei alguns aparelhos, mas, como não havia qualquer verba de custeio para o projeto, contava apenas com o pouco que sobrava do salário. Nesse ritmo demoraria anos para conseguir um acervo adequado.

Foi então que comecei a divulgar amplamente o projeto, pedindo doações de materiais aos meus alunos, amigos, familiares e internautas. Quem tivesse algum aparelho antigo, jogos, revistas, acessórios, etc., e desejasse doar para o projeto do museu, eu receberia com gratidão.

Para minha surpresa comecei a receber muitas mensagens e ligações de pessoas que tinham itens para doar. Eram materiais com 10, 20, 30 anos, que estavam esquecidos em algum armário ou despensa mas que agora teriam um novo propósito.

Pouco a pouco reuni os principais aparelhos lançados no mercado brasileiro, partindo do Odyssey (meu primeiro videogame), passando pelo Atari, Nintendo, Master System, Super Nintendo, Mega Drive, Playstation 1, 2 e 3, Nintendo 64, Dreamcast Wii, Xbox 360 e outros.

Videopac G7000, versão europeia do Philips Odyssey (como foi vendido no Brasil). Imagem: Reprodução

Alguns estavam perfeitamente preservados, outros estavam tão sujos e danificados que dava pena. Fiz, então, um trabalho de restauração para torná-los apresentáveis. Desmontava, limpava as placas, lavava as carcaças, colava partes quebradas, trocava peças com outro aparelho que estivesse em melhor condição, etc.

A estética era a parte fácil. Complicado mesmo era fazer o aparelho funcionar. Como eram aparelhos com até 30 anos de idade, muitos dos circuitos e componentes eletrônicos não existem mais no mercado. Além disso, a mão de obra para consertá-los era extremamente difícil de se encontrar, pois os técnicos das eletrônicas convencionais só trabalham com aparelhos mais recentes, do Playstation 2 em diante, por exemplo.

Ainda mandei um aparelho para uma assistência especializada em games, em outra cidade. O conserto custou quase tão caro quanto o valor que paguei no aparelho, sem contar o frete de ida e volta. Não seria possível consertar todos dessa maneira.

Na mesma época em que iniciei o projeto do museu, criei um site para divulgar todas as informações. As redes sociais ainda não tinham a força dos dias atuais. A página ainda pode ser acessada no endereço www.MuseuDoVideogameDeMossoro.blogspot.com. Postei fotos, vídeos, notícias, curiosidades, etc.

Ainda em 2012 fui convidado pela TV local para participar de um programa e exibir os antigos videogames para os espectadores. O que eu não esperava era que o apresentador, o câmera e boa parte do pessoal da produção ficasse tão encantado com aqueles jogos. Quase que não saiu a entrevista porque galera ficou jogando no Super Nintendo.

Durante uma participação na TV local, a equipe do programa se encantou com o Super Nintendo. Imagem: Acervo de Abrahão Lopes

O vídeo dessa participação, bem como os demais vídeos e imagens que serão citados ao longo do texto, estão disponíveis no site do museu e no YouTube.

Na escola onde trabalho existe um evento científico onde os professores e alunos desenvolvem projetos em diferentes áreas do conhecimento e os apresentam à comunidade. Esta era uma excelente oportunidade para meus alunos mostrarem sua pesquisa sobre a criação de jogos.

Para chamar a atenção do público eu levaria os  videogames. Assim o pessoal poderia ver a apresentação dos alunos e se divertir ao mesmo tempo.

Foram muitos dias de preparação, criando cartazes, banners, pegando TVs emprestadas, extensões elétricas, fazendo a decoração, arrumando mesas, realizando divulgação, etc.

Quando tudo estava organizando, a TV local veio fazer uma reportagem e o vídeo veiculado durante o noticiário daquele dia ajudou a atrair ainda mais gente.

A primeira (e única) exposição do Museu do Videogame de Mossoró aconteceu em abril de 2013. Durante três dias, centenas de pessoas a visitaram, relembrando momentos da infância e adolescência. Inclusive vi alguns pais apresentando aos seus filhos os jogos e aparelhos que eles tinham em sua juventude.

Imagem: Acervo de Abrahão Lopes

Após a exposição, continuei durante algum tempo reunindo materiais, escrevendo alguns posts no site e divulgando o projeto, dei entrevistas para alguns sites e emprestei os aparelhos para exposição em eventos.

Apesar do interesse em continuar a fazer o museu crescer, tive que me dedicar a outras tarefas e novos projetos pessoais e no trabalho.

Outro acontecimento que, de certa forma, decidiu o futuro do museu foi a minha mudança, da casa na qual eu morava, para uma nova residência.

A casa antiga era muito grande e havia um cômodo para armazenar todo o material do museu. Já a nova casa era bem menor, e não havia espaço para acomodar tantos itens. Precisei distribuir o acervo nas casas de amigos e familiares.

Certo dia, meu grande amigo, professor Heitor Liberalino, que havia concordado em guardar em sua casa parte do acervo do museu, me ligou pedindo para ir até lá.

Quando cheguei em sua residência, ele me recebeu com uma notícia bastante desanimadora: uma infestação de cupins havia atacado o armário onde os materiais estavam guardados e destruíram muitos itens. Os bichinhos certamente gostavam muito de videogame, pois comeram não só as caixas de papelão, mas devoraram até mesmo os consoles, deixando-os irrecuperáveis.

Imagem: Acervo de Abrahão Lopes

Com essa perda e demais dificuldades enfrentadas, além do foco em outros projetos, a motivação para continuar com o museu já não era mais a mesma. Com tristeza, anunciei o fim do projeto em novembro de 2014.

Foram quase 3 anos de muito aprendizado, novas amizades e diversão. A experiência adquirida com este projeto me ajudou em muitos outros momentos futuros.

Sobre os itens que escaparam dos cupins, devolvi grande parte aos antigos donos, outros foram doados à colecionadores e pessoas que haviam colaborado com o projeto, e algumas coisas que eram da minha coleção pessoal foram vendidas para suprir outras necessidades.

Mantive comigo o Nintendo Wii, o “bichinho” que despertou toda a nostalgia que havia em mim; o XBOX 360 e o XBOX ONE, minhas plataformas modernas favoritas.

Felizmente outras pessoas tem feito um trabalho semelhante aqui no RN. Em Natal, o pessoal do Museu Do Videogame Potiguar, coordenado pelos amigos Glidio e Lúcio Amaral, possuem um acervo incrível, e em Mossoró, a Equipe Handwork conta com Morais Filho, Otávio e Leandro levando a nostalgia dos games ao público em diversos eventos.

O Museu do Videogame de Mossoró não foi o único projeto relacionado a videogames que desenvolvi desde então. Orientei alunos na criação de alguns jogos, inclusive um que foi premiado; escrevi em blogs, fiz pesquisas científicas relacionadas aos games, conversei com pessoas da área, escrevi alguns guias e um livro sobre as antigas locadoras de games. E não pretendo parar por aqui. Muita coisa ainda está por vir, mas isso é história para outro momento.

Abrahão Lopes – professor do Instituto Federal do RN, fã de jogos eletrônicos há mais de 35 anos, autor do livro Memorial Locadoras & Fliperamas e da série Guia Rápido: Xbox One (Jogos / Conquistas e Gamerscore).

Conheça mais acessando: www.abrahaolopes.com

Ou nas redes sociais: abrahao2k

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