Dois anos e um pouquinho no retrovisor de chronos a aposentadoria se apresentou. Disse que já era uma possibilidade e a partir daí, a cada pensar nela, a mesma aparecia com uma indumentária diferente ao meu olhar interior.
As vezes estava de black tie, demonstrava que seria uma vida de convites, cerimônias, eventos.
Outro dia, quando na rede mirava sua aparência, parecia estar de negro, cara fechada, anunciando períodos de depressão, apatia, desânimo e ociosidade.
Enquanto a vida acontecia e a aposentadoria ia mostrando um guarda-roupa de situações, o juízo bipolar neste caso específico, circulava pelas extremidades entre êxtases de uma decisão redentora do ponto eletrônico, e a possível entrada no vácuo existencial, buraco negro para baixa estima, tristeza e inatividade total.
Mais dias e mais fantasias surgiam, de arlequins, sungas praianas, ternos, batas indianas, fui fluindo em pensares por um ano, até que justo no dia do meu aniversário, decidi que a bermuda, a roupa informal, o vestuário colorido, seriam o caminho, dando passo administrativo no pedido e alcançando o desejo meses depois.
Um ano aposentado chegará em meses, mas as roupas que anunciavam negatividades foram igualmente aposentadas, com o destino me inserindo num universo mágico de eventos sim, trabalhos idem, novos dons despertos, movimento, viagens, presença familiar, escritos, fotos, visitas, produtividade, atividade incessante e prazerosa, deixando a decisão sem contestação e seu usufruto uma benção constante.
Todo meu conhecimento é um ajuntamento de leituras, vivências e percepções pessoais. Nunca achei que o que falo como meu entender, seja o certo, posto que apesar de muito vivido, observador e bem intencionado, me acho as vezes razo, superficial, apenas alguém com opinião, muitas vezes mutante, que flui através das marés da idade, das convivências, confessando não ser assim ou assado por interesse financeiro ou pessoal, uma vez que não concentro energia em convencer ninguém de nada – quem convive comigo sabe disso, apenas falo o que penso, a partir dos movimentos que executo, não sendo cimento, adepto do gesso, não afirmando verdades definitivas, apenas me posicionando de forma pontual.
Aposentado estou fluído, maleável, energizado, visto a carapuça da alegria, a indumentária mais leve da locomoção apartada de datas, me percebo mais criativo, amoroso, cheio de boas energias.
E se a inexorabilidade da vida não solicitar que bata ponto em outra dimensão – por aqui estarei circulando cheio de vibração.
LuzZzzz
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Flávio Rezende aos nove dias, segundo mês, ano dois mil e vinte. 12h45.
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Crédito das Fotos: Arquivo Pessoal