Um príncipe em minha vida

Na época do nintendinho, eu tinha um cartucho com 64 jogos, entre eles havia um que eu gostava bastante: Arabian (também chamado Arabian Nights ou Super Arabian). Nele você controla um bonequinho de turbante na cabeça, calças folgadas e sapatos de bico pontudo, que saltava e chutava inimigos para pegar os tesouros espalhados pelas fases (navio e caverna).

Algum tempo depois meu amigo Carlos Henrique me emprestou Magic Carpet, um shooter onde você cruza os céus do deserto em um tapete mágico voador e atira contra inimigos. Quando a Disney lançou a animação “Aladdin” nos cinemas e os jogos baseados no filme chegaram ao Super Nintendo e Mega Drive, tornaram-se sucessos instantaneamente.

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Em 1991, o programa Globo Repórter exibiu uma reportagem intitulada “a febre do videogame”. Foram apresentados diversos games que eram lançamento na época, como Super Mario World, F-Zero, Castle Of Illusion e outros jogos do Mega Drive, Super Nintendo, fliperamas e computadores. Entre os jogos de computador exibidos havia um que me chamou muita atenção: Prince Of Persia. Os pequenos trechos de vídeo mostram um rapaz loiro com roupas brancas que corria e saltava sobre abismos, espinhos, e guilhotinas mortais.

A movimentação do personagem era muito realista, bem diferente do que estávamos acostumados nos jogos da era 8 bits. Tal animação foi criada com a técnica de rotoscopia, que consiste em filmar um ator em vídeo e recriar digitalmente cada quadro dos seus movimentos.

Demorou alguns anos para eu conseguir uma cópia desse jogo. Provavelmente copiei a partir do disquete de algum colega da escola, já na época do ensino médio. Como eu não tinha computador em casa e não era permitido jogar nos laboratórios de informática da escola, a única opção que me restava era o computador que havia no trabalho do meu pai.

Apenas no sábado a tarde, quando já não havia muito movimento no escritório, ele me levava para ajudá-lo com algumas tarefas e então eu tinha um tempo para usar o computador. O computador era um PC 386 com sistema operacional MS-DOS 6.2 e Windows 3.1. Foram muitos os jogos que curti nessa época: Wolfenstein 3D, Doom, Raptor, Pinball Fantasies e… Prince Of Persia.

O “príncipe” era o meu favorito! As lutas com espadas, a exploração das masmorras, os saltos sobre abismos e espinhos, o perigo mortal das guilhotinas, as cenas cinemática entre as fases, e tantos outros elementos me capturaram naquele mundo. O jogo tinha tantos elementos interessantes que era impossível não gostar dele. O ratinho de estimação, o espelho mágico que separa a alma, os quebra-cabeça com portões temporizados, as garrafas escondidas… quanta criatividade! E o desafio era enorme, pois tínhamos apenas 60 minutos para sobrepujar todos os desafios e salvar a princesa.

As primeiras vezes que joguei não conseguia ir muito longe. Com mais prática consegui finalizar, porém acima dos 60 minutos, encontrando a princesa morta no final (desculpe-me pelo spoiler). Só depois de muito treino, após decorar os caminhos e ficar fera nas lutas foi que consegui salvar a princesa e ver o “final bom”. Quando passei a frequentar a locadora de Eduardo, Cinemax, encontrei por lá a versão de Super Nintendo do Príncipe da Pérsia. Era um cartucho japonês. Não dava para entender nada do que estava escrito, mas as imagens eram suficientes para transmitir a história a quem fosse jogar.

O gráfico ficou muito bonito, tanto dos personagens, quanto os cenários. Novas áreas foram incluídas, como as cavernas com lava, assim como novas armadilhas, como uma trave giratória que te arremessa para trás. Sofri muito com essa trave na fase 17. Tentei de todo jeito passar por ela e não dava certo. Sabia que tinha que abaixar, mas não funcionava. Tentava passar correndo, saltando, correr e abaixar para escorregar (não existe esse movimento), e nada.

Após meses de tentativa, estava mexendo nas opções e vi que era possível definir um botão com o comando AGACHAR (crouch). Na mesma hora botei a password para a fase que eu estava enganchado, deixei o botão de agachar apertado e botei o direcional para o lado. O príncipe saiu pulando agachado, igual a um sapinho e passou pelas armadilhas sem nenhuma dificuldade. Daí para o final foi rápido. O chefe final deu um certo trabalho, pois, além de ser bom de espada, ele também ataca com magias que ao atingir o príncipe, ele flutua no ar e daí para a morte.

Quando descobri os emuladores no computador, consegui jogar as versões de vários outros consoles: NES, Game Boy, Mega Drive, Master System, Turbografx 16 e Game Gear. Cada versão possuía suas características, melhorias ou limitações. Por exemplo, a versão de NES apresenta a rolagem de tela bem chata, enquanto a versão de Gameboy é preto-e-branco. Mas, no fim, todas eram muito boas.

Muitos anos depois, quando comprei meu primeiro celular com tela colorida, o Nokia 3530, logo comprei o Prince Of Persia Harem Adventures, uma versão desenvolvida na linguagem Java pela Gameloft. Era muito similar aos jogos dos consoles, porém rodando em uma telinha minúscula e usando as teclas numéricas para movimentar o personagem. Era bem complicado jogar no celular, mas ainda assim consegui me divertir bastante.

Certo dia chegaram às minhas mãos os disquetes do Prince of Persia 2, para PC. Eu estava muito empolgado para jogar essa nova aventura. Após a cinemática inicial, o príncipe aparece saltando por uma janela no topo de um prédio, luta contra alguns guardas e embarca em um navio para fugir de seus perseguidores. As fases seguintes incluem uma praia, uma caverna e… uma senha que necessitava do manual que vinha junto do jogo original. Babou minha alegria. Como a cópia dos jogos em disquete era muito simples de ser feita, as desenvolvedoras inventaram outras maneiras para que jogadores de cópias não conseguissem avançar no jogo pelo qual não pagou.

Era comum colocar no jogos a solicitação de senhas que vinham espalhadas pelo manual de instruções, ou na caixa do jogo. Na época não existia PDF e qualquer imagem escaneada ocupava muito espaço, tornando inviável a distribuição desse material. Infelizmente nunca encontrei o jogo original para vender e parei na segunda fase. Só muitos anos depois foi que joguei a versão do SNES do segundo jogo. Apesar de todas as novidades, não foi tão marcante para mim quanto o primeiro jogo, tanto que eu nunca fui até o final. Quem sabe algum dia…

Outra decepção que tive foi com o Prince of Persia 3D (Arabian Nights), do PC. Apesar de eu já ter jogados diversos jogos 3D em terceira pessoa, como o fantástico Tomb Raider, não consegui comprar a ideia do príncipe em 3D. Os elementos estavam ali: os espinhos, as poções, as lutas com espada, os saltos, etc., mas não me cativaram. E eu também achava o gráfico muito feios, quando comparados com os belíssimos sprites do SNES. Também não fui muito longe e larguei logo.

Na época em que eu estava na faculdade, por volta de 2003, eu tinha um Gameboy Advance e acompanhei o lançamento do Prince of Persia: Sands of Time. Era uma proposta diferente das anteriores, mas que ficou muito boa! Joguei sem parar até zerar. Demorei vários dias, mas não larguei o jogo até concluir. Cheguei a desenhar o mapa completo do jogo no computador e publiquei no site GAMEFAQS, usando o apelido “Iorek B”. O arquivo encontra-se disponível até os dias atuais. O Sands of Time trouxe novas possibilidades para a franquia, fugindo do clássico “salvar a princesa” e passou a tratar de temas mais abrangentes.

Nos anos seguintes novos títulos foram lançados, mas não cheguei a jogá-los, nem na época, nem até os dias atuais. “Warrior Within” e “The Two Thrones” foram lançados para PS2, XBOX, PC, PSP e GameCube, ainda mantendo alguns elementos clássicos como as lutas de espadas e saltos entre plataformas, mas trouxe combates mais variados e elementos de magia que deram um novo aspecto à série. Tenho muita vontade de jogá-los algum dia.

Após muitos anos longe da franquia, voltei aos jogos do príncipe no XBOX 360, com “Prince of Persia: The Forgotten Sands”, “Prince of Persia” de 2008 (um que tem o gráfico em cel shading , parecendo desenho animado), e por fim “Prince of Persia Classic”, baseado no jogo original, mas com gráficos e jogabilidade atualizadas para a atual geração de consoles. Com exceção do “Classic”, os outros dois têm histórias bem variadas e muitas magias, porém ainda mantém alguns dos elementos clássicos.

Um dia desses, navegando pela loja de aplicativos do celular, descobri o “Prince of Persia: Escape”, baseado no jogo original. Nele você precisa fugir das masmorras, correndo e saltando sobre abismos, desviando das armadilhas e escalando paredes, até chegar ao portão no final da fase.

As fases iniciais são bem tranquilas, mas depois fica bem difícil, sendo necessário muita precisão e velocidade nos saltos. Assim como outros jogos de celular, conforme avança nas fases, você coleta jóias que podem ser trocadas por novas roupas. Por fim, também conferi o príncipe em outras mídias, através do filme de 2010, Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo, um show de efeitos visuais e elenco carismático; e da graphic novel / quadrinhos “Príncipe da Pérsia”. Boas opções para continuar as aventuras longe dos games.

Infelizmente não há previsão para o lançamento de novos jogos da franquia, mesmo em seu 30º aniversário nada foi lançado. A única coisa boa é que a fórmula do “Prince of Persia” evoluiu e se tornou a maravilhosa franquia Assassin’s Creed, que tem lançamentos regulares ano após ano. Vivi muitas aventuras como um assassino do credo, mas essas são histórias para outra hora.

Abrahão Lopes – professor do Instituto Federal do RN, fã de jogos eletrônicos há mais de 35 anos, autor do livro Memorial Locadoras & Fliperamas e da série Guia Rápido: Xbox One (Jogos / Conquistas e Gamerscore).

Conheça mais acessando: www.abrahaolopes.com

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