Durante todo o mês de novembro, uma programação especial destacou as ações desenvolvidas pela Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC-UFRN) em prol da prematuridade, comemorado no dia 17 de novembro em todo o mundo. Com o tema Som da Prematuridade, as atividades envolveram mesas-redondas, palestras, rodas de conversas, cursos, musicoterapia e uma exposição fotográfica retratando o dia a dia das mães de prematuros, de autoria do fotógrafo potiguar, Evaldo Gomes.
O bebê prematuro é aquele que nasce antes das 37 semanas de gestação. São divididos em prematuros extremos, os que vieram ao mundo antes das 28 semanas e correm mais risco de vida do que os bebês que nascem algum tempo depois, pois apresentam um estado de saúde muito frágil; prematuros considerados intermediários, que nascem entre 28 e 34 semanas e constituem a maior parte dos prematuros; e ainda os chamados prematuros tardios, que nascem entre 34 até 37 semanas, grupo esse que aumentou bastante, no Brasil, nos últimos anos e que preocupa bastante em termos de saúde pública.
Anualmente, 15 milhões de crianças nascem prematuras no mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a taxa de prematuridade no país está estimada em cerca de 12% do total de nascimentos, o dobro do índice de países europeus. Isso representa cerca de 345 mil crianças de um total aproximado de 3 milhões de nascimentos, colocando o Brasil em 10º lugar no ranking da prematuridade.
As gêmeas prematuras Andreia e Alice fazem parte desta estatística. Filhas de Gislaine Cristina, as gêmeas nasceram com 25 semanas de gestação, pesando 820g e 810g, respectivamente. A mãe relata que no início foi muito difícil lidar com a situação da prematuridade, ela não pôde colocar suas filhas nos braços, amamentar e vivia uma sensação de medo, angústia, buscando o conforto e apoio em outras mães e na equipe assistencial da Maternidade.
“Venho na UTI ver minhas filhas a cada minuto. Tudo é muito novo pra mim, mesmo já tendo sido mãe anteriormente, não sabia o que fazer, meu desejo era que tudo passasse logo”, relata a mãe emocionada. “Hoje, percebo que Deus me presenteou com duas lindas crianças que estão recebendo todos os cuidados, e logo poderemos ir para casa”, comenta.
Os problemas da prematuridade vão além do baixo peso. Um prematuro precisa de cuidados especiais na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o que aumenta em três vezes o risco de morte e sequelas futuras em sua vida adulta.
A gerente de Atenção à Saúde da MEJC, Maria Daguia de Medeiros Garcia, aponta para a principal causa da gestação prematura. “Se nós tivéssemos um pré-natal bem feito, jamais teríamos tantos prematuros. É no pré-natal que você diagnostica as infecções da mãe e a hipertensão, importantes causas da prematuridade”, afirma.
Mais amor, menos dor
Dentro da programação do Novembro Roxo, a mesa-redonda O som da prematuridade, abordou os malefícios aos recém-nascidos advindos de um ambiente barulhento, bem como a contribuição da música clássica para o desenvolvimento dos pequenos.
Estudos indicam que um dos graves problemas da UTI Neonatal é o ambiente superestimulante, com níveis sonoros altos, que compromete o desenvolvimento e crescimento, em particular nos recém-nascidos prematuros, extremamente sensíveis ao lugar.
Segundo a fonoaudióloga da MEJC, Ana Alexandra Cardoso, a verificação do nível de ruídos dentro da unidade é uma preocupação por parte dos profissionais envolvidos em melhorar a qualidade da assistência neonatal. “As UTIs são locais que utilizam equipamentos com alarmes acústicos, essenciais para alertar aos profissionais de saúde de mudanças ocorridas nas condições clínicas dos pacientes, porém os altos níveis sonoros não afetam apenas os recém-nascidos, mas também os funcionários”, afirma.
O professor do Instituto Metrópole Digital (IMD) da UFRN, Itamir Barroso, participou do debate abordando o papel da tecnologia na diminuição dos efeitos sonoros. “Acredito que a contribuição da tecnologia no atendimento aos recém-nascidos passa pelo termo Internet das Coisas, que nada mais é do que uma rede de objetos físicos capazes de reunir e transmitir dados. Pensar que a própria incubadora terá autonomia para realizar manobras, visando a diminuir ou a alertar o nível de ruídos no ambiente, é algo plausível”, considera. “Contudo, é inimaginável pensar que só a tecnologia será capaz de resolver os problemas em questão. É preciso o envolvimento da equipe em prol do objetivo”, completa.
Diante do envolvimento e comprometimento dos profissionais da MEJC com os recém-nascidos prematuros, estão sendo realizadas sessões de musicoterapia, nas quais crianças tocam músicas clássicas e de ninar para os bebês prematuros e suas mães. Além de diminuir os batimentos cardíacos dos bebês, a música acalma a respiração, melhora o sono e promove estado de alerta silencioso, uma forma de melhorar o ambiente, estabilizando os sinais vitais dos bebês e melhorando o seu desenvolvimento.
Fonte: UFRN