Era uma vez uma Bruxa muito malvada que anualmente exigia que uma criança recém-nascida de Protetorado fosse dada a ela em sacrifício, os pais da criança escolhida deveriam desistir de seu filho ou filha e dá-lo de bom grado à Bruxa – ou pelo menos sem resistência -, deixando-o em uma clareira na floresta, caso contrário ela lançaria uma terrível maldição no vilarejo.
Pouco se sabia sobre o que a Feiticeira fazia com os bebês que recebia, alguns diziam que ela os comia, outros acreditavam que os deixava na floresta para serem engolidos por qualquer criatura, já os responsáveis pela captura da criança, os chamados Anciãos, sabiam que não havia bruxa alguma e acreditavam que haviam contado aquela lenda apenas para manter o povo de Protetorado sob controle, porém o que eles não sabiam é que realmente existia uma bruxa, que anualmente encontrava um bebê abandonado em uma clareira e o levava para outras cidades para ser adotado por uma nova família. Essa senhora mágica e bondosa se chamava Xan e não entendia por que razão aquelas crianças eram abandonadas no meio da floresta, então sentindo pena, alimentava as criancinhas famintas com luz estelar durante sua longa jornada para um novo lar.
Posso afirmar com toda a certeza que “A Garota que bebeu a Lua” é diferente de tudo o que já li, pois apesar de ser um livro infanto-juvenil, carrega uma carga emocional muito forte e traz discussões muito pertinentes inclusive para a atualidade. A trama nos apresenta um vilarejo dominado pelo medo, com seus residentes reféns da tristeza e outros sentimentos ruins, estabelecidos por pessoas sedentas por poder, que instauraram um pavor inexistente culpando uma suposta bruxa na qual eles mesmos sequer pensavam que realmente existia.
É inevitável fazer paralelos com nossa realidade sociocultural e política, inclusive pela imediata exclusão daqueles que não são comuns, como era o caso de Luna e das crianças rejeitadas por Protetorado e também pelo poder que os Anciãos tinham para amedrontar a população, assim como as Irmãs da Guarda funcionavam como uma polícia que dominava tudo e todos.
A escrita da autora é clara e poética, e seu enredo é muito consistente, inclusive o universo criado por Barnhill poderia ser expandido se ela assim o desejasse, pois existe uma outra história que funciona como pano de fundo para os acontecimentos do livro, e seria muito interessante ler mais sobre o que ocorreu antes da trama que nos é apresentada e revisitar esse mundo tão interessante sob uma nova perspectiva.
Trata-se de uma aventura encantadora e comovente e que com certeza tornou-se uma das minhas histórias preferidas da vida, uma vez que é cheia de magia, tem personagens femininas muito fortes, dragões e uma ambientação fascinante – aspectos estes que todo amante de livros de fantasia adora. Acredito que “A Garota que bebeu a Lua” é um livro que consegue conquistar nossos corações.
Fonte: O Barquinho Cultural