Em ataques cardíacos, mulheres têm mais sintomas típicos do que homens

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Mulheres que sofrem ataques cardíacos apresentam os mesmos sintomas típicos que os homens, anulando uma das razões alegadas para que elas recebam cuidados desiguais. É o que diz uma pesquisa financiada pela British Heart Foundation que coloca em xeque um mito antigo entre médicos de que as mulheres tendem a sofrer sintomas incomuns ou atípicos durante um ataque cardíaco. Os cientistas enfatizam a necessidade de ambos os sexos reconhecerem os sintomas de alerta para poder agir rapidamente.

O pressuposto incorreto de que mulheres apresentam sintomas diferentes durante um ataque cardíaco poderia levar a diagnósticos errados, tratamentos atrasados e intervenções médicas insuficientes. Pesquisas anteriores mostraram que diferenças na abordagem médica contribuíram para, pelo menos, 8.200 mortes evitáveis de mulheres na Inglaterra e no País de Gales durante a década passada.

Nesse estudo, publicado na revista Journal of the American Heart Association, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, registrou os sintomas de pessoas que frequentavam o Departamento de Emergência na Enfermaria Real de Edimburgo, através de um exame de sangue chamado teste de troponina. Este exame é usado quando os médicos suspeitam que uma pessoa está tendo um ataque cardíaco e mede a quantidade de uma proteína liberada pelas células cardíacas danificadas durante um ataque cardíaco.

Entre 1 de junho de 2013 e 3 de março de 2017, os médicos do Departamento de Emergência solicitaram o teste de troponina para 1.941 pessoas. Destas, 274, sendo 90 mulheres e 184 homens, foram diagnosticadas como tendo um tipo de ataque cardíaco conhecido como NSTEMI. Este é o tipo mais comum de ataque cardíaco e ocorre quando a artéria coronária é parcialmente bloqueada.

A dor no peito foi o sintoma mais comum em homens e mulheres, com 93% de ambos os sexos relatando esse sintoma. Uma porcentagem semelhante de homens e mulheres relatou dor irradiada para o braço esquerdo (48% dos homens e 49% das mulheres).

Mais mulheres tiveram dor que irradiava para a mandíbula, e também foram mais propensas a sentir náuseas (33%, contra 19% dos homens).

Sintomas menos típicos, como dor epigástrica (azia), dor nas costas, ardência e pontadas no estômago similares à indigestão, foram mais comuns em homens do que em mulheres (41% contra 23%).

Pesquisas anteriores haviam sugerido que mulheres e homens relatam diferentes sintomas em ataques cardíacos. No entanto, esses sintomas foram registrados, na maioria das vezes, após a confirmação do diagnóstico, o que pode induzir vieses nos pacientes. O novo estudo tentou evitar vieses usando um enfermeiro independente que entrevistava e registrava os sintomas de todos os pacientes que chegavam na emergência com suspeita de ataque cardíaco, antes de receberem um diagnóstico.

Os autores dizem que agora mais pesquisas são necessárias, em populações maiores e mais diversas, para confirmar suas descobertas.

O diagnóstico precoce de um ataque cardíaco é essencial para o tratamento e para as chances de sobrevivência. Pesquisas anteriores mostraram que as mulheres que têm um ataque cardíaco são até 50% mais propensas do que os homens a receber um diagnóstico inicial errado, e são menos propensas a serem testadas com eletrocardiogramas.

“Nossa preocupação é que, ao rotular incorretamente as mulheres como tendo sintomas atípicos, podemos estar encorajando médicos e enfermeiros a não investigar ou iniciar o tratamento para doenças cardíacas em mulheres”, diz Amy Ferry, enfermeira cardiologista da Universidade de Edimburgo e autora principal do estudo.

“Tanto homens como mulheres apresentam uma série de sintomas, mas nosso estudo mostra que os chamados sintomas típicos em mulheres devem sempre ser vistos como um alerta vermelho para um possível ataque cardíaco”, completa.

“Ataques cardíacos são frequentemente vistos como um problema de saúde de homens, mas mais mulheres morrem de doenças cardíacas coronárias do que de câncer de mama no Reino Unido”, diz Jeremy Pearson, Diretor Médico Associado da British Heart Foundation. “Precisamos mudar esse equívoco prejudicial, porque ele está levando a sofrimento evitável e perda de vidas.”

“No Reino Unido, três mulheres morrem de doença cardíaca coronária a cada hora, muitas delas devido a um ataque cardíaco. Sabemos que as mulheres tendem a esperar mais tempo antes de ligar para a emergência depois de experimentar sintomas de ataque cardíaco. Mas esse atraso pode reduzir drasticamente sua chance de sobrevivência”, finaliza.

Fonte: Revista Scientific American

Imagem: DR

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