Ponta Negra: ordenamento não tem fiscalização

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Praia mais famosa de Natal, Ponta Negra sofre com problemas de desorganização mesmo depois de dois anos do Plano de Ordenamento, Gestão e Fiscalização Integrada de sua orla, realizado pela Prefeitura. Na manhã de domingo, um dos dias de maior movimento, a reportagem da TRIBUNA DO  NORTE constatou que em alguns pontos da praia o excesso de guarda-sóis, mesas e cadeiras, bem como a grande concentração de carrinhos ambulantes, tornam complicado o fluxo de banhistas e até inviabilizam algumas práticas de lazer, como o frescobol.

A falta de cumprimento do Plano de Ordenamento esbarra na carência de pessoal para fiscalizar as irregularidades. O chefe de fiscalização Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb), Leonardo Almeida, informou que atualmente a secretaria conta com 10 fiscais para atender todas as demandas de fiscalização ambiental de Natal. Em função disso, o monitoramento é esporádico e pontual. “Se colocar fiscais permanentes em Ponta Negra, não tenho como fiscalizar mais nada no resto da cidade”, frisou.

A irregularidade mais comum encontrada em Ponta Negra, segundo Leonardo Almeida, são ambulantes com mais de 15 guarda-sóis na areia, limite estabelecido pela Semurb, há dois anos. “Aplicamos multas e fazemos apreensões, mas isso não tem sido suficiente”, disse o chefe de fiscalização, informando que em agosto a secretaria fará uma grande “varredura” no local, e que vai denunciar as pessoas que descumprirem as normas no Juizado Especial Criminal, por crimes ambientais.  As multas variam de R$ 2.028,00 e R$ 7.801,19.

Para o estudante universitário André Felipe, tem dias que Ponta Negra parece uma grande bagunça. “Mesmo com a maré cheia, a gente vê que o pessoal não diminui o número de mesas na faixa de areia. Então fica tudo muito espremido. E ainda tem os carrinhos de crepe andando pra lá e pra cá. Parece que a cada mês surgem mais”, conta o estudante.

Ao longo da orla a reportagem não avistou nenhuma equipe de fiscalização. Essa ausência é reclamada pelo comerciante João, proprietário do Quiosque 10. O estabelecimento dispõe de 15 guarda-sóis na areia, todos identificados. A quantidade está de acordo com as regras de ordenamento da prefeitura. Quando a maré está cheia, ele diz que o permitido é trazer até cinco guarda-sóis para faixa de areia do calçadão. Segundo João, a maioria dos quiosqueiros obedece a determinação. Para ele, os problemas são outros.

“Tem três problemas principais aqui na praia. O primeiro é a concorrência irregular dos ambulantes. Somos 28 quiosques, mas se você for contar os ambulantes são mais de 100. Pode olhar quantos tem parados aí na frente agora, bem uns cinco. E não tem nenhuma fiscalização”, comenta o comerciante. Os outros dois problemas que ele cita são a falta de acessibilidade e a ocupação desenfreada do calçadão a partir das 16h.

“Nos juntamos aqui e fizemos essa escada aí com saco de areia. Sei que não é o certo, mas sem isso o pessoal vinha aqui, não via como descer, e ia embora pra outro lugar. Isso prejudica nosso trabalho. Então fizemos a escada e muitos outros fizeram pela orla”, explica. “E o outro problema é o pessoal que toma conta do calçada. Agora de manhã tá normal, mas se você vier às 16h vai ver isso aqui lotado de ambulante. Pra andar tem que desviar. E tem uns que ainda ocupam vaga de carro com foodtruck”.

Morro do Careca

Outro problema recorrente em Ponta Negra é a subida no Morro do Careca mesmo não sendo permitido. Em uma hora no local a reportagem pode ver algumas crianças e jovens no lado proibido da cerca de proteção. Cerca de quinze minutos depois uma equipe da Polícia Ambiental apareceu, mas o pessoal já havia descido. Por ser uma área de proteção ambiental desde 1997, não é permitido a circulação de pessoas no local para evitar a erosão da duna e a deterioração da vegetação. É uma duna de 120 metros de altura.
Segundo um dos policiais, gente subindo no morro tem todo dia. Os horários mais comuns é de manhã logo cedo e ao meio-dia. “Nosso horário começa às 8h30, antes disso tem gente subindo. Depois é quando a gente para pra almoçar. Aí basta um subir para outras pessoas se sentirem encorajadas a fazer o mesmo, como se a placa de proibido não valesse de nada. E quer saber mais?  Quando pegamos alguém subindo e falamos com algum delegado ele diz que não tem como fazer a ocorrência. Então o que a gente faz é pedir pra pessoa apagar a foto e não postar nas redes sociais para não incentivar outras pessoas a subir”, diz o oficial. “Somos só uma equipe para toda a orla. Procuramos sempre ficar em pontos com vista para o morro, mas muitas vezes somos acionados por causa de ocorrências de roubos aí nos distanciamos bastante”.

Idema fará licitação para novas placas

Dois anos após a implantação de seis placas de aviso sobre a proibição e punição para quem subir o “Morro de Careca”, nada restou das placas. Indiscriminadamente, pessoas ignoram a proibição e sobem diariamente na Zona de Proteção Ambiental. O Idema, responsável pelos avisos e cerca colocada no pé do morro, está em processo de licitação para recolocar os avisos, ainda sem data para que isso ocorra.

O diretor geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, Leon Aguiar, informou que a cerca instalada no pé do morro – atualmente depredada – será reconstruída em até dois meses, em meados de setembro deve estar completamente recolocada. “A recuperação da cerca é mais rápida, podemos encaixar em contratos já existentes”, explicou.

Novas estratégias de proteção estão sendo traçadas, segundo Leon Aguiar, como é o caso de uma campanha educativa. “Estamos rediscutindo estratégias para esse problema do Morro do Careca, que são mais comuns nos fins de semana e em períodos de alta estação”, informou.

Sem efetivo suficiente para patrulhar a área do morro durante todo o dia, a Polícia Militar se limita a fazer trabalhos educativos e de orientação na área. O porta-voz da PM, tenente-coronel Eduardo Franco, disse que os banhistas se aproveitam dos momentos em que policiais vão ao banheiro ou estão em horário de almoço para subir.

Fonte: Tribuna do Norte

Imagem: Magnus Nascimento

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