O Brasil é o país dos privilégios e privilegiados.
Sei disto e digo isto há bastante tempo, mas nada melhor que um bom dia de trânsito calmo para nos fazer repensar o assunto.
Hoje (21 de junho de 2019, sexta feira pós feriado de Chorpus Christi), a maioria da população está com a mesma rotina de sempre. Acordando às 5h para estar às 8h em seu emprego, produzindo, gerando riqueza e pagando seus impostos.
Enquanto isso, grande parte do funcionalismo está em praias, serras, viagens ao exterior (opa, tem muitos que podem) sem qualquer desconto em seus salários.
A culpa nem de longe é destas pessoas privilegiadas, muito pelo contrário, pois eles apenas estão usufruindo daquilo que todos nós, pagadores via impostos destes privilégios autorizamos a virar cultural. Sim, aqui no Brasil é aceitável que um juiz tenha 60 dias de férias, mais 10 ou 15 de recesso ficando a justiça parada durante feriadões com sextas, quintas e até a semana toda imprensadinhas. É algo legal e autorizado por nós, mesmo sabendo que temos processos que duram décadas nas instâncias jurídicas brasileiras. Também aceitamos que nossos representantes nas casas legislativas trabalhem apenas 2 dias e meio por semana, que recebam 13º, 14º e até pouco tempo 15º salários, e que, juntos com o poder judiciário, desfrutem de auxílios que correspondem ao triplo dos salários da maioria da população que sustenta estes “benefícios”. Aceitamos numa boa que órgãos e empresas estatais estejam fechados num dia como hoje, uma sexta feira, como ponto facultativo, como se este nome fosse mesmo algo facultativo.
Não achamos nada anormal saber que somos nós, que estamos trabalhando hoje, dia de sexta imprensada pelos privilegiados, produzindo, que pagamos estes privilégios, enquanto uma parte privilegiadíssima da população está de papo pro ar às nossas custas. À custa de mais de cinco meses de nosso trabalho consumidos pelo gigantismo do Estado e de seus privilegiados.
Quanto entro em algum debate sobre o assunto, sempre tem um destes privilegiados que diz, sem qualquer constrangimento, que isto é legal (para quê falarmos em moral, né?) e que, para conquistar estes “direitos”, tiveram que estudar muito para passar em um concurso.
Vamos por partes.
Em primeiro lugar, alguns destes “direitos” são estendidos a quem tem cargos comissionados, também.
Em segundo lugar, pessoas que entram em empresas privadas fazem árduos processos seletivos, onde além de provas de conhecimento, são avaliadas também a aptidão para o próprio cargo e sua capacidade de produção, algo que nem sequer passa perto na gigante maioria dos concursos públicos.
Nem preciso dizer o quanto isto influencia a produtividade baixíssima do serviço público brasileiro. De novo, deixando claro que a culpa, na maioria das vezes, nem é do servidor, mas sim da cultura que paira em nós, brasileiros.
Achamos normalíssimo que existam diferenças monstruosas entre os valores de salários para mesmos tipos de cargos entre o poder público e a iniciativa privada, algo que chega a mais de 30 vezes em alguns casos.
Somos o país da meia-entrada e da gratuidade, e achamos isto algo realmente natural, naturalíssimo aliás, que uns paguem estes privilégios para outros. Afinal, quando um idoso deixa de pagar a sua passagem de ônibus e um estudante paga apenas ‘meia’, temos aquele que nem é estudante e nem é idoso pagando por estes privilégios. Onde está o sentido nisso?
Vemos o forte poder influenciador dos grupos de pressão, agora na reforma da previdência, onde foram apresentadas 277 emendas ao texto, das quais, dois terços são de pedidos de aposentadorias especiais para grupos de funcionalismo público. Novamente, sabe quem vai pagar estes privilégios? Você que acorda às 5h e recebe um salário mínimo e que já se aposenta por idade e não como os privilegiados por tempo de contribuição.
O Brasil é o país das transferências de renda. Sempre dos mais pobres para os mais ricos, tendo as universidades públicas e a própria previdência atual como baluartes desta pouca vergonha.
Sei que vai demorar, mas acredito que estamos dando alguns passos no sentido de que a população, pagadora de impostos e sustentadora desta máquina assassina de futuros, comece a entender que não existe dinheiro público, mas sim dinheiro de pagadores de impostos, que ao invés de estarem sendo investidos em saúde, educação e segurança, estão sustentando privilégios e privilegiados. Que comece a entender que o que temos no Brasil é uma imoralidade de privilégios adquiridos e não de direitos adquiridos, e que isto deve acabar de uma vez por todas ou o país nunca sairá do subdesenvolvimento econômico, moral e ético.
Só pra não esquecer: aqueles que levantaram hoje às 5h para irem trabalhar para sustentarem a praia de muitos, só estarão de volta ao seio de suas famílias por volta das 21h.
Enfim, como o trânsito está ótimo!