Aí pelos meados do século XX existiam, em Natal, vários salões de sinuca, em maior número na Cidade Alta – onde localizava-se o maior deles, o Salão Imperador, de Severino Francisco, que também tinha um parque de diversões móvel. Os menores, eram espalhados pelo bairro: tinha um nas vizinhanças do Cinema Rex, outro na Princesa Isabel, perto do Café São Luiz e o menor deles, com apenas uma mesa, no prédio do Botijinha, esquina da João Pessoa com Princesa Isabel, mais conhecido como a sede do time de futebol Santa Cruz. No Alecrim, funcionava o salão de Manoel Leopoldo – quase tão grande quanto o Imperador – na esquina da Amaro Barreto com Presidente Bandeira. Aqui, na Velha Ribeira, só me lembro do Carneirinho de Ouro, que tinha mesas de sinuca e de bilhar. Apenas uma de cada.
Mas era no Salão Imperador que as coisas aconteciam. Lá, “imperavam” – sem trocadilho – figuras notórias naquela modalidade de jogo: o fortão Chico Fuampa, que, certa vez perdeu uma queda-de- braço para um “beradeiro” que tinha a metade de sua massa muscular; o “cobra” Dionísio, o craque “Cream Craker” sem dúvida, o melhor jogador do pedaço; o “Aleijado”, que puxava por uma perna mas não se incomodava com a alcunha e o famoso “Liliu”, velho cabreiro, que se fazia de “pixote” nas partidas iniciais para que o adversário adquirisse confiança e assim, depena-lo. E outros, que a memória não registra. Essa turma só jogava apostando, prática que se sabia ser o único meio de vida, o ganha-pão de muitos deles.
Mas, se esta Velha Ribeira não se sobressaía pelo número de salões de sinuca, era campeã suprema no número de cabarés. E foi o dono de um deles, o requintado Chico de Sofia, alto, elegante, cabeleira já grisalha no melhor estilo “pantera negra” que só andava no linho branco e dirigia um Simca Chambord de duas cores, que se apaixonou por um dos frequentadores do Salão Imperador. O cabra, objeto de sua paixão, não era “do ramo”. Pelo contrário, era um tipo másculo, protótipo do machão brasileiro e consta que, nas primeiras abordagens por parte de Chico, quase dá uns cocorotes nele. Mas, era “curto” no dinheiro e, aos poucos, foi sendo mais tolerante com as investidas do “pretendente”…Começou concordando em conversar com ele, ouvir direitinho suas propostas, logicamente condimentadas com o “vil metal” e, como é muito difícil manter resistência à ofertas, ainda que indecentes, porém lastreadas em generosas contribuições financeiras, finalmente concordou com um encontro, marcado no aposento particular do apaixonado que, segundo consta nos relatos do acontecido, ficava no último andar do prédio onde funcionava o cabaré. Reza a lenda que, depois de “tomar uma” para criar coragem, o sujeito subiu ao “ninho” e ao chegar lá, deu de cara com Chico todo perfumado, meio envolto em panos diáfanos e na posição conhecida como “frango assado”. O cabra estacou!
– Mas, “seu” Chico, é assim, de frente? Perguntou, ressabiado.
– É assim mesmo, meu filho. Para eu poder lhe dar uns beijinhos. Respondeu, ansiosa e impacientemente a “noiva”.
– Assim eu num quero não! Vociferou o candidato, dando meia volta e saindo apressadamente do recinto.
Todavia, dias depois foi visto guiando o luxuoso Simca Chambord, tendo ao lado o satisfeitíssimo dono, numa prova incontestável de que o conúbio tinha acontecido.
Se de frente ou de costas, este é um segredo muito bem guardado…